A Rosa Dourada - Snames

Capítulo Dez - Matilha

Quando Severus abriu os olhos ele desejou não ter feito. A claridade os machucou e ele descobriu que não podia se mexer para os cobrir, então ficou lá, jogado na maca da enfermaria que ele reconheceu por seu teto branco e pelas cortinas de mesma cor fechadas ao seu redor. Sentado em uma cadeira ao seu lado, dormindo de uma maneira jogada e provavelmente muito desconfortável, estava Sirius.

O garoto de sua idade estava cheio de faixas de tecido azul-gelo e curativos no rosto, pescoço e peito, este coberto com uma camiseta branca fina e quase transparente. Uma jaqueta de couro preto repousava no encosto da cadeira onde ele agora descansava a cabeça, os cabelos negros se misturando a cor da peça.

Confuso tanto por sua presença quanto por suas vestes Severus apenas voltou a fechar os olhos e descansar, relaxando a tensão de seu corpo no ambiente quentinho e agradável da cama. Seus pensamentos estavam tranquilos e ele sentiu seu vínculo com seu ômega pulsar de saudades. Enviou por ele uma onda do que esperava ser um sentimento calmante e permaneceu deitado, estava quase adormecendo quando um James completamente bagunçado entrou pelas portas duplas de madeira escura e lhe encararam com seu par de orbes verde-oliva ganhando um brilho gigante ao lhe ver acordado.

Sirius acordou assustado pelo barulho e coçou os olhos de sono, bocejando longamente e se espreguiçando como um gato. Encarou Severus e deu um sorrisinho satisfeito ao lhe ver acordado. Com isso, seu vínculo de matilha com ele lhe enviou preocupação e alívio, explicando o sentimento muito mais do que milhões de palavras fariam: Sirius se preocupou com ele, não com o alfa de James, com Severus - ele próprio, como um ser sem vínculo nenhum, um membro de sua família de verdade.

Pouco antes de sair da enfermaria o Black bagunçou ainda mais os cabelos de James, que ocupava seu lugar na cadeira agora, e sorriu para o casal, dando um "tchauzinho" com a voz rouca de sono. Os dois garotos permaneceram em silêncio depois da saída do Black, não se olhando, constrangidos e envergonhados depois de sua briga sem sentido.

— Me desculpe... — disseram juntos, se entreolhando e começando a rir, ainda que não houvessem se resolvido direito. Era estranho como eles se entendiam assim, em poucos segundos James deitava sua cabeça em seu braço e começava a acariciar seus cabelos com ternura, ganhando um sorriso largo do marido alfa. Foi então que Severus viu os pontinhos brancos nas mechas negras do ômega.

— O que é isso? — indicou o maior, fazendo o ex-Potter sorrir ainda mais e passar a mão pelos cabelos em seu típico gesto convencido.

— Neve. — disse simples. — Eu estava lá fora com Tom, Peter e Lucius quando senti você. Eu fiquei desesperado por finalmente ter uma demonstração de que você estava vivo e corri pra cá.

Severus franziu o cenho. — James, qual é a data de hoje?

— Dia 10 de dezembro de 1977, quinta-feira. — respondeu prontamente o garoto ômega, continuando a fazer carinho no cabelo negro de seu esposo. — Você ficou desacordado por 27 dias, Sev. Madame Pomfrey disse que você só iria acordar no Natal ou, no máximo, no Ano Novo.

Seu cérebro ainda estava meio lento, mas Severus ainda conseguia raciocinar um pouco melhor agora. Tossiu, pois a garganta ardia, despertando James que correu pela enfermaria procurando por água. Deu sorte no escritório pessoal da enfermeira, e levou o copo cheio até a maca do esposo, então o ajudou a se erguer e a sorver o líquido gelado devagar. Tendo terminado de beber, o mais baixo colocou o objeto no chão e se sentou na cama, deitando do lado do maior e apoiando a cabeça em seu peito coberto pela fina roupa, ouvindo sua respiração e os batimentos cardíacos.

— Eu perdi 27 dias. — Severus sussurrou, fazendo James franziu as sobrancelhas em confusão. — Perdi 27 dias de gravidez da nossa filha.

Seus olhos molharam e o ômega teve que engolir o choro. Descobrira que provavelmente sua pequena filhotinha era uma Le Fay, por isso não sofreu com a briga entre ele e Marion, porque sugou energia da terra, da própria natureza para se proteger em seu útero. Se isso fosse verdade, essa gravidez duraria menos tempo. Havia a grande possibilidade dela nascer em abril, com seis meses, e eles já estavam em dezembro. Era muito pouco tempo, menos de cinco meses...