set me free

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Harry abriu os olhos, sentindo uma dor lancinante na cabeça. Não conseguia se lembrar perfeitamente do que havia feito na noite anterior, mas não parecia ser algo prazeroso. Olhou a hora no relógio, não passavam das 7:20. Ele ainda tinha tempo de levantar, tomar um banho, comer alguma coisa e se recuperar do que quer que tenha sido sua farra horas antes. No entanto, debaixo do chuveiro, enquanto deixava a água escorrer pela oleosidade de seu corpo, ele simplesmente não conseguia lembrar de nada, tudo entre o dia anterior e aquele momento eram como páginas em branco no livro do destino, apagadas, rasgadas; se tivesse pelo menos lapsos, sinais de alguma coisa o outro, seria mais fácil. Mas nem com isso seu subconsciente estava cooperando.

Deixou o quarto vestindo suas vestes brancas, o jaleco cobrindo todo o seu corpo até as panturrilhas. Por baixo, vestia um suéter, além de duas camisetas. As calças, também, haviam sido reforçadas, já que a temperatura caia cada dia mais. Prendeu seu identificador no peito esquerdo, de forma que todos conseguissem ver, e olhou o horário mais uma vez. 7:58. Ele ainda tinha tempo.

As pessoas por quem passava escondiam o rosto, cobriam risadinhas, compriam os lábios e faziam menção de trocar de caminho, tudo para evitá-lo. Já não bastava aqueles corredores serem incrivelmente íngremes e abafados, ainda teria que aguentar todos aqueles olhares. Se pelo menos alguém lhe dissesse o que havia acontecido na noite passada!

A cozinha ficava no canto extremo, então precisava atravessar todo o local. Sentia seu corpo fraquejar, sua cabeça constantemente lhe enganar, vendo coisas onde não tinham, além de uma leve tontura, que ele sabia que ficaria mais forte a medida que o dia passasse. Mesmo assim, se manteve altivo, fechando as mãos em um punho e seguindo em linha reta; não iria cair, não iria vomitar, não iria gritar com a próxima pessoa que soltasse um risinho abafado. Ele estava bem, ele ainda tinha tempo.

Diferente do que esperava para o horário, a cozinha estava cheia, coberta de aprendizes, seniores e os veteranos, todos reunidos juntos, tomando o café da manhã antes de um dia puxado, que provavelmente iria ser o decisivo para a pesquisa. Pegou uma das bandejas, entrando na fila.

— Comandante — uma voz disse disse, logo atrás. Era sua assistente, vestida igualmente com seu jaleco, segurando uma prancheta. — Seu café da manhã já foi servido na sala do diretor.

Harry meneou a cabeça, confuso. — Sala do diretor?

— Sim, ele pediu que você falasse com ele antes de qualquer coisa — a garota parecia preocupada, existia algo em seu olhar que não era usual, mas Harry não conseguia ver o que era.

Ele largou sua bandeja no lugar e seguiu a secretária pela saída da cozinha, subindo as escadas em direção aos escritórios. Quando atingiram o corredor privado, onde mais ninguém transitava além deles, a garota se aproximou.

— Você está bem, Harry? — perguntou, preocupada.

— Vou ficar, pequena — disse, colocando a mão no bolso da garota e pegando um aparelho de metal, com um visor minúsculo. Ele apontou o aparelho a centímetros de sua testa e em poucos segundos ele apitou. — Não entendo. Não estou me sentindo bem, mas essa coisa não me diz o que eu tenho.

A garota riu baixinho. — Isso não funciona pra ressaca, Harry.

Ele olhou sério para ela. — Vá para o laboratório, comece o processo.

— Sem você?

— Você consegue, Mione — ele disse, beijando a testa da garota, antes de seguir seu caminho. O diretor ficava no último escritório, detrás de uma gigantesca porta de metal. Bateu três vezes antes de entrar. — O senhor queria me ver?

O diretor era um homem alto, magricela, de cabelos lisos ruivos, mas que agora já andavam para um prateado. Ele estava sentado detrás de uma mesa de vidro, digitando alguma coisa na superfície da mesma. Uma bandeja estava posta em uma das extremidades, com um suco de laranja, dois sanduíches e um copo de plástico, com três pastilhas brancas.

.gelo - drarryOnde histórias criam vida. Descubra agora