achei você;

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Shouto sabia que tinha algo de errado com o seu coração, e esse não era um sentimento novo.

Há anos ele sentia-se inquieto quando todos entravam no tópico de amores e relacionamentos. Ele sentia vontade de se apaixonar, mas não conseguia, não conseguia conceber a ideia de se apaixonar por alguém. Até que aconteceu. Izuku aconteceu. E todo o seu sono sumiu.

No primeiro momento em que ele notou a existêcia desses seus sentimentos impertinentes, não conseguiu mais dormir. E tudo o que parecia desinteressante em Izuku se tornou interessante, e então, vergonhoso. Todas as coisas que ele nunca notara antes haviam se tornadas atrativas. O jeito que Izuku sorria, sua forma de acariciar as pontas de suas orelhas quando estava entediado, suas coxas grossas. E então uma súbita vontade de morder aquele coelho por inteiro surgiu. E ele se sentiu como uma criança no início de sua puberdade, ele se viu na mesma situação vergonhosa onde precisava morder tudo que estava ao seu redor para melhorar a coceira em suas presas. Mas o seu tudo havia sido reduzido a Izuku, e para a sua tristeza, Izuku era um coelho extremamente chato, carinho não era o seu forte e mordidas muito menos.

Tudo nele estava mudado, e tudo na relação deles estava diferente — eles não eram apenas amigos, mas namorados. Realmente namorados, nada os impedia de namorarem, nada e nem ninguém. E de uma hora pra outra pareceu que aquela relação havia escalado de uma forma tão esquisita e rápida, por isso Shouto estava confuso e ansioso. Ele não sabia como se portar ou como amar alguém, e aquela rapidez na evolução do namoro não o ajudava nenhum pouco a descobrir como ser um bom namorado. Tudo sobre aquele relacionamento estava o deixando amedrontado.

Eles haviam acabado de chegarem em casa, e Izuku não havia dito uma só coisa sobre o que iriam debater ou dado uma simples e solene pista. E sinceramente, Todoroki Shouto havia se acostumado com informações vagas, seu trabalho havia o ensinado a lidar com pessoas que não eram diretas, que marcavam diversas reuniões para debaterem um assunto que poderia ser facilmente resolvido com um simples e-mail casual. Mas quando você estava namorando, as coisas mudavam. O tipo de informações vagas mudavam, e quando o seu namorado era Midoriya Izuku, as coisas ficavam mais complicadas. Shouto estava doido para saber sobre o que eles iriam conversar, pois só assim poderia pensar em uma solução rápida e ter uma visão geral daquilo tudo, mas aparentemente saber as coisas de antemão não era uma opção quando Midoriya era o mediador da conversa.

A casa estava do mesmo jeito que eles deixaram, e a primeira coisa que Shouto conferiu assim que entrou era se haviam sinais de arrombamento ou qualquer coisa que denunciasse a volta daquele lobo esquisito, mas tudo parecia normal, estranhamente comum e mórbido. E o sentimento pesado em seu peito revelava-o pior que havia nas entranhas obscuras de sua mente: ele preferia encontrar a casa revirada do que encontrá-la assim como foi deixada. De alguma forma, era mais reconfortante a ideia de saber que alguém vasculhou por eles enquanto saber que ninguém havia sequer se aproximado dali. 

— Eu vou tomar um banho. — Izuku anunciou, um pouco mais baixo do que o usual. Shoto abaixou suas orelhas e concordou silenciosamente, e como ele já estava nervoso, acabou indo pra cozinha fazer um chá para acalmar os seus nervos, embora soubesse que não surtiria efeito algum.

Os seus pensamentos surgiram na mesma velocidade com que desapareciam. Ele queria saber o que era toda aquela conversa, mas teve que esperar por Izuku e sua boa vontade de sair do chuveiro. E o seu banho não foi nada rápido comparado aos poucos banhos que ele já tivera em toda sua vida de coelho.

E nesse meio tempo, Shouto levantou-se e andou pela cozinha, tirando o pó e reorganizou todos os potes. Ele deu uma olhada no quintal, acendeu as luzes, checou se havia trancado a porta da frente e então sentou-se no sofá. Ele bufou várias vezes até que finalmente viu Izuku descer as escadas, com um roupão semi aberto no peito, seu cabelo semi-molhado e com uma cara tão séria que colocava medo em qualquer um.

blue blood; tododekuOnde histórias criam vida. Descubra agora