Capítulo 1

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São dias estranhos. Eu me pergunto, o que eu estou esperando? Vale a pena ter o pensamento positivo e esperar isso acabar com paciência?

Paciência, não sei se é o suficiente.

Pensamentos assim me rondam o tempo inteiro, desde que tudo isso começou. Sem dúvidas, essa é uma das experiências mais bizarras que eu já passei na vida, creio que para muitos no mundo, tem sido a mesma coisa.

Além disso, Pedro, tá me ouvindo? Pedro?

- Pedro? Tá ouvindo? - Com essas palavras, João me tira do meu momento de transe.

- Quê? Ah... sim, o que é? 

- Você tá a mais de 10 minutos olhando pra parede fixamente. O que tá acontecendo?

- Como assim, mano? Olha João, não tá acontecendo nada, agora volta pra sua aula - Entrego uma caneta que ele tinha me pedido

- Você tá estranho, mais do que o normal.

- Ah velho, não viaja! Agora eu tenho um vídeo pra gravar, licença.

- Vai lá, só que dessa vez, tenta não ser tão insano que nem no vídeo de ontem.

- Do que você tá falando?

- Você sabe muito bem do que eu tô falando, Pedro. Virou até assunto no Twitter, geral tá preocupado com a sua saúde mental, inclusive eu - Ele desvia o olhar e escreve algo qualquer em seu caderno.

- Isso não faz sentido. Você me conhece melhor do que ninguém e sabe que eu sou idiota por natureza, aquele vídeo foi só mais uma demonstração de eu sendo eu mesmo, não tem nada demais.

- Seus inscritos não têm tanta certeza.

- Mano, quem se diz preocupado com a minha saúde mental são crianças de 12 anos que babam meu ovo a troco de nada, que chegaram de paraquedas no meu canal e nem conhecem meu conteúdo pra começo de conversa, tô cansado dessa porra.

- Eu concordo com você - João larga a caneta e começa a prestar mais atenção em mim.

- Se concorda comigo, por que tá tão preocupado?

- Porque você é meu irmão cara! E sei que tá com muita coisa na cabeça agora, só não quero que você chegue no seu limite.

- Eu acho que já cheguei - Me sento no sofá na frente do meu irmão.

- Mas ainda dá pra reverter, talvez com ajuda profissional.

- Ah cala boca João, eu não tô louco!

- Eu sei disso, mas que mal tem você conversar com um terapeuta, é como e fosse um amigo, mas que tem a garantia que pode te ajudar.

- Não sei não, não sei se devo me render a isso.

- Não é se render, é apenas conversar com alguém que não seja eu ou sua câmera. Olha, minha faculdade tá com um projeto de ajuda psicológica online com terapeutas ainda em formação devido a pandemia, capaz de você se consultar com alguém da sua idade. Pensa nisso, tá? Se gostar do projeto, é só se cadastrar e algum aluno entra em contato com você - João me entrega seu notebook com a página do projeto aberta.

- Ok, mas não prometo nada.

Começo a ler o artigo, odeio admitir isso mas me interessei, achei uma boa ideia e talvez isso possa ajudar a aliviar todo esse stress que eu venho carregando. Sem pensar muito, cadastro meus dados no site, antes que dê tempo de pensar em desistir.

- Me cadastrei, agora é só esperar entrarem em contato?

- Caralho, não acredito que foi tão fácil assim te convencer! E sim, capaz de amanhã já te mandarem um e-mail.

- Se eu não gostar da primeira consulta, nem adianta querer me obrigar a ter outras.

- Justo, trato feito? - Ele estende sua mão.

- Sim. Obrigado amigo, você é um amigo - Depois dessa referência ultrapassada de pica-pau, aperto a mão do João.

- Espero que não tenha me levado a mal, só quero seu bem.

- Eu sei disso, agora chega de todo esse cuidado, quero meu irmão desgraçado de volta.

- Ele já voltou, e é você quem vai lavar aquela louça, folgado do caralho - João aponta para a pia cheia de louça.

- É disso que eu tô falando! Menos da parte da louça.

- Faz parte do pac de irmão desgraçado.

- Posso conviver com isso.

- É claro que pode, aliás, é sua obrigação.

- Foda-se - Depois disso, seguro a risada para manter a pose de bravo para meu irmão, mas não tenho sucesso.

- Também te amo, irmão.

É, acho que depois que meu irmão se mudou pra cá, tem sido mais fácil levar a vida numa boa, ele têm os melhores conselhos, mas nunca vou admitir isso.

Não sei por quê, mas tô ansioso para ter a consulta, na verdade eu sempre tive um pouco de preconceito em contar meus problemas a estranhos, mas as palavras do meu irmão ecoam na minha cabeça, fazendo meu pensamento mudar.

"Não quero que você chegue ao seu limite".

É cara, muito menos eu.

Love in Quarentine - OrochiOnde histórias criam vida. Descubra agora