Eu não preciso de um P.A.

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O céu era colorido por um azul turquesa que poderia alegrar o dia de qualquer um. Não havia uma nuvem sequer que pudesse esconder a luz do sol, que refletia na água do mar, limpa como o céu.

Era a paisagem perfeita para o primeiro dia de verão, o primeiro dia de férias. Chega de cálculos e fórmulas de física, agora eu finalmente poderia aproveitar a praia o tanto quanto ela merecia.

Um corpo masculino surgiu em meio as ondas. Os cabelos perfeitamente bagunçados e molhados lhe emolduravam o rosto e os músculos eram salientes sob a pele bronzeada.

Era Nicky, ninguém mais, ninguém menos, que o cara por quem nutro uma paixonite desde a quinta série. Quando o garoto me ajudou a encontrar Pom Pom — o coelho que a professora havia encarregado os alunos de tomar conta —, que estava perdido em meio aos arbustos do jardim da escola, me devolveur a pequena bola de pelos brancos e sorriu, de um jeito que fez seus olhos brilharem, meu coração bateu mais rápido que nunca. Foi nessa hora que eu soube que estava fadada a me apaixonar por ele.

Quando contei isso à Malia ela contorceu a cara e fez uma careta de nojo.

— Isso é tão brega — me repreendeu, estreitando os olhos.

Me joguei sobre minha cama, os lençóis floridos farfalharam. Encarando o teto, eu disse:

— O amor é brega, Malia.

Ela mexeu a cabeça de um lado para o outro.

— Você deveria parar de ler esses romances de banca, pelo seu próprio bem. — E jogou um exemplar de A Escolha, do Nicholas Sparks.

Suspirei, encarando a capa do livro (me lembro de alguns litros de lágrimas terem deixado o meu corpo quando Gabby sofreu um acidente de carro e ficou em coma). Olhei para o homem de óculos escuros abraçando Gabby por trás. Quem me dera ter um vizinho como Travis para namorar.

— Eu ia falar pra você parar de babar, mas, nossa, até eu fico boquiaberta diante desse deus grego — Malia falou, aparecendo ao meu lado. Sua pele negra brilhava sob um conjunto rosa de um biquíni, em que a parte de baixo era cintura alta. Ela tirou seus óculos escuros e o colocou sobre seus cabelos cacheados.

Escorei em minha prancha, que estava fixa na areia, e admirei Nicky.

— Olha aquilo. Ele tem todos os seis gominhos, Lia. — Suspirei. — Todos os seis

A garota soltou o ar pela boca quando viu Nicky se aproximar com sua prancha em baixo de seu braço direito.

Sabe aquela cena de Baywatch em que a Pamela Anderson corria em câmera lenta? Ver Nicky se aproximando era exatamente desse jeito (só que uma versão masculina, claro). Era incrível como ele conseguia ficar lindo fazendo qualquer coisa.

— Ei. — Acenou para nós duas. Sua voz grossa e rouca percorreu meus ouvidos, e, de repente, minha roupa de nadar pareceu quente demais. — Treinando pra competição? — perguntou, inclinando a cabeça em direção à minha prancha.

Respondi com um murmúrio, colocando uma mecha de cabelo atrás de minha orelha.

Me mostrou um sorriso que fez minhas pernas ficarem bambas e bagunçou levemente meus cabelos.

— Eu tenho certeza que você vai conseguir uma medalha — disse, lembrando-me que eu já tentava me classificar em um dos primeiros lugares há algum tempo. — Você é a melhor daqui.

Sorri.

Desde pequena me dedico ao surf. Mamãe e papai sempre foram apaixonados pelo mar, portanto acabaram por me contagiar com essa paixão. Minhas memórias mais marcantes são de papai me ensinando a surfar. Quando tinha oito anos, pouco antes de meus pais se separarem, prometi a ele que um dia seria boa o suficiente para ganhar a Competição Junior de Surf de São Francisco.

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