Capítulo único: Provocações e declarações com banhos de chuva

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Três vezes.

Essas foram as exatas quantidades de vezes que Xiao Zhan precisou respirar profundamente para não ter algum tipo de surto ou, talvez, fazer algo que o pudesse trazer consequências nem tão agradáveis assim.

Se encontrava em um típico encontro de família em uma região próxima da capital onde realmente morava, região aquela que constituía-se quase que completamente por vales montanhosos e casarões antigos com uma arquitetura tradicional e rústica que, provavelmente, Zhan aproveitaria em qualquer outro momento de sua vida, mas não naquele onde estava sendo obrigado pelos seus pais à comparecer em um jantar de um parente que não aturava nem um pouco. Vale ressaltar, claro, que a reunião de familiares se dava ao aniversário de um primo seu, outro ser que não suportava a presença; este que, olha que coincidência!, era primogênito do tal tio insuportável que o Xiao preferia manter distância.

A única motivação de Zhan para - tentar - manter-se em toda sua plenitude e, simplesmente, não cogitar seriamente fugir para aquelas montanhas e vales ali próximos se encontrava à poucos metros de distância, sentado confortavelmente em uma poltrona instalada no cômodo, enquanto fingia ler algum livreto que achara no escritório da residência. Isso mesmo, fingia, afinal, o Xiao sabia muito bem que seu melhor amigo (com alguns benefícios de brinde) estava, - muito - provavelmente, rindo internamente de si e já pensando em alguma maneira de tirar com a sua cara em algum momento futuro.

Wang Yibo. Esse mesmo, o nome do indivíduo.

Zhan queria mesmo, de verdade verdadeira, conseguir ficar irritado com o amigo - este que parecia apenas esperar os pais do outro saírem do quarto para fazer algum comentário naturalmente debochado, como sempre - , mas essa missão parecia estupidamente impossível para si; não sabia ao certo se era porque todo o seu ódio estava direcionado aos parentes intrometidos e inconvenientes, ou se era por, talvez, a existência do Wang em si o trazer diversas sensações em demasia, onde, definitivamente, raiva não era uma delas.

(Ele preferia acreditar fielmente na primeira opção, é claro).

- É importante para o seu tio, querido... - a voz amena de sua mãe ecoou pelo cômodo, o tirando dos devaneios em que acabou por perder-se momentaneamente.

- Ele nem sequer gosta de mim, mãe. - retrucou, seu tom de voz ligeiramente irritado. - Parece que as únicas coisas que saem da boca dele são o quanto o seu filho é um inteiro prodígio ou o quanto eu deveria fazer qualquer outro curso que não fosse jornalismo.

Estava aí mais um motivo para o Xiao ter uma certa aversão aos familiares: boa parte deles não o aturava, achando-o abusado e insolente demais para um garoto de 24 anos, pelo simples e mero fato de não ligar para as coisas ruins e desagradáveis que o dirigiam e, principalmente, não seguir imposições que certos parentes seus pareciam querer o obrigar a exercer. Era seu jeito e sua personalidade, afinal. Nunca foi alguém de se encaixar em padrões impostos pelos outros e muito menos de abaixar a cabeça perante aqueles que o criticavam com o mísero intuito de o fazer sentir-se mal, com críticas e julgamentos repletos de negatividade e maldade.

- Não é bem assim, meu filho. - sua mãe o respondeu, naquela calma e paciência que - quase - nunca se esvaíam de seu ser.

- É sim, mãe, e a senhora sabe disso. - murmurou, cruzando os braços e portando um bico emburrado nos lábios fininhos.

O moreno podia sentir o olhar de Yibo sobre si, enxergando-o pela visão periférica e perguntando-se se ele cogitava se meter no diálogo alheio ou apenas pretendia fingir-se de planta no meio de toda aquela situação.

- Deixa, tia, a senhora sabe como o Zhan é meio dramático.

Aparentemente, a primeira opção foi a escolhida pelo Wang, e, para a desgraça do Xiao, este não parecia querer o defender.

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