Hinata

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Hinata não tinha certeza do porquê conseguiu a atenção e afeição de Kageyama. Ele era baixo, tinha uma força mediana, não tinha habilidades assustadoramente incríveis - no principio, ao menos - e não era bom em algo particularmente. Tudo bem, ele conseguia correr e pular alto, mas isso só era chocante, sem alguém (Kageyama) para abrir espaço nos bloqueios, ele não era grande coisa. Mesmo sendo difícil para o ruivo admitir, ele não era bom o suficiente para cativar o levantador da forma que cativou, e jamais entendera como isso aconteceu.

No seu primeiro ano, encontrou maneiras de sempre evoluir e melhorar suas habilidades, mas Karasuno acabou perdendo nas quartas de final do campeonato nacional intercolegial. O que mais chateava Hinata era o fato de que não pode ficar em quadra até o fim. Estava tão empolgado que fez pouco caso de seu corpo implorando por atenção e cuidado.

No ano seguinte, mesmo com todo o esforço, a Datekou deixou seu time fora do nacional. E em seu último ano, a dupla assustadora do Karasuno chegou às semifinais do nacional, jogando na quadra central, e ficaram em terceiro lugar no campeonato. E então acabaram as atividades do clube para os terceiranistas. Hinata já estava completamente diferente, era capaz de fazer muito mais em quadra do que jamais tinha sido. Mas ainda não era o suficiente. Estava longe do seu parceiro e rival, e sabia muito bem disso. Por isso decidiu ir ao Brasil para treinar vôlei de praia.

Foi, de longe, o treino mais efetivo para o pequeno atacante. Ele mantinha seus jogos esporádicos na quadra, para não perder o ritmo, mas treinava os fundamentos na praia. Chegou ao nível de receber o apelido Ninja Shoyo por conta de suas, agora, assustadoras habilidades combinadas com seu reflexo e velocidade, e, claro, sua impulsão, adaptada e melhorada pela impiedosa areia.

Se eu fosse assim quando o Kageyama me conheceu eu entenderia o motivo de ele me tratar como um rival à altura. O levantador, com 19 anos, estava no nível internacional, jogando na seleção do Japão. Isso, sim, é assustador, não meu pulinho. Hinata continuava pensando, toda vez que lembrava de sua rivalidade com, provavelmente, seu melhor amigo.

Agora era a hora de voltar ao Japão. Claro que Hinata não ficaria parado, tinha um objetivo: entrar no MSBY Black Jackals. Eram um dos principais rivais do time que Tobio jogava, os Schweiden Adlers, e estavam com a peneira aberta - talvez uma pequena parte do subconsciente de Shoyo lembrou que Miya Atsumu era o levantador, e guardou a promessa que ele fez para o menor durante seu primeiro nacional, onde derrotou, junto de Kageyama, o time dos gêmeos geniais, um dos favoritos daquele ano.

Poucos meses depois de treinar junto de alguns dos melhores jogadores do país, ele estava estreando na liga profissional, logo contra Kageyama. Sua revanche do fundamental finalmente aconteceria. Ele iria mostrar o quanto mudou desde que foi completamente destruído pelo seu declarado rival. Estava determinado a mostrar o seu valor e finalmente entender o que raios esse cara viu em mim. Alguma parte dele lembrava de Ushijima, em seu primeiro ano, falando que Oikawa - um levantador assustadoramente bom, dois anos mais velho, que jogava no mesmo time que Tobio jogava no fundamental - crescia em solo infértil, e a sua declaração de que ele crescia no concreto. Sua chama queimou um pouco mais forte ao lembrar que o oposto agora jogava junto com Kageyama. Mataria dois pássaros num tiro só. Ou melhor, numa mordida só.

Sobre aquele jogo, não há muito o que dizer.

O ruivo completou seu ciclo, mostrou seu valor. E, exatamente como aconteceu nos momentos mais dramáticos de sua juventude, marcou o último ponto, dando a vitória para os Jackals. Sua mente está a mil, seu corpo estático. Esse foi seu primeiro jogo profissional, e o primeiro jogo dessa temporada, sua primeira vitória. Não tinha nenhum motivo para uma comemoração tão grande, mas seu coração sente como se tivesse ganho como MVP numa final olímpica. Orgulho, felicidade, cumplicidade. Hinata se sentia finalmente satisfeito. Bom, quase. Ainda estava faminto por voleibol, ainda precisava vestir a camisa vermelha do seu país, ainda precisava mostrar ao mundo o quão longe ele tinha chego. Mas para um primeiro momento, essa fome poderia esperar enquanto ele comemorava com seus colegas de time atual, e antigos - quem imaginaria que os membros do antigo Karasuno do primeiro ano deles estariam todos assistindo.

set sail - kagehinaOnde histórias criam vida. Descubra agora