Capítulo 7

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Sentia o corpo fraco ao acordar, a região da bexiga doía intensamente. Mal conseguiu levantar a cabeça. O sol ainda não havia invadido as frestas da janela, pensou estar sonhando, mas a dor aumentou. Suava frio. Não queria incomodar a irmã novamente, sabia o que poderia ser, e aquilo o deixava com uma sensação de dependência da qual ele estava acostumado
desde que nascera.
Olhou para os lados, puxou a cadeira para perto. Queria se sentar, mas sentia dificuldade para sair da cama. Uma lágrima saiu de seus olhos e rolou pelo rosto até chegar ao pescoço, se misturando ao suor.

⎯ Cris... Deus do céu... Cristininha... – gemia de dor.
Cristina se levantou num pulo, só de olhar para ele soube o que era.

⎯ Já disse para avisar quando sentir essas dores logo no início, ficar sofrendo calado não vai te fazer melhorar – disse, passando a mão nos cabelos de Danilo, que estavam úmidos.
⎯ Obrigada por me lembrar! – disse, mostrando a língua para ela. – Chama a mãe, você tem que trabalhar daqui a pouco – disse com os olhos fechados. A dor era maior que o sono. Então, não conseguia adormecer e ignorar.
⎯ Vou te levar, fica quieto. – disse indo ao banheiro se trocar.
⎯ CRISTINA DANIELE DE LANA FONTENELLE!
– disse em alta voz. – A senhorita não pode faltar!!! Me ajuda a entrar no carro, quero ir sozinho.
⎯ Não estou te ouvindo, velho rabugento. – disse do banheiro.
⎯ Não deveria ter te acordado, velha encrenqueira! – disse retrucando.

Foram até o carro sem se olharem. Danilo queria brigar com a irmã pela teimosia, porém ambos eram iguais. Ela soltou um suspiro longo. Cristina dirigia apressadamente, parecia sentir as dores do irmão e faria de tudo para amenizá-las.

⎯ Acho que a criancinha aqui vai levar outro puxão de orelha... – disse Danilo, quando avistou seu médico.

O doutor Sérgio foi um dos motivos pelo qual a família se mudara para Campinas. Sentiam a necessidade de permanecerem com o mesmo médico, que antes atuava no Hospital de Londrina.

⎯ Olha o homem mais teimoso que eu conheço! – disse dando batidinhas no ombro do paciente- amigo.

Danilo pediu para a irmã deixá-lo e ir trabalhar. Se preocupava com o futuro dela, apesar do cuidado para com ele, Cristina deveria olhar mais para si algumas vezes. Ela esquecia que o irmão já não era tão dependente como antes. Eles haviam prometido um ao outro que iriam batalhar pela profissão sonhada, não importava quanto tempo levasse para alcançarem a vitória. Agradeciam pela mãe batalhadora que tinham e pelo apoio e orações incessantes. Se orgulhavam da pequena família.
Cristina saiu contra sua vontade, porém sabia que Danilo precisava de espaço, já não era a criancinha indefesa que ela quase não via. Ele e a mãe mal paravam em casa, então, ela ficava com a avó frequentemente. Desde que o pai faleceu, eles tiveram de vender a casa e foram morar com a mãe de Fernanda. As consultas médicas eram frequentes e os gastos, altíssimos. Não sobrou quase nada da herança deixada pelo pai. Heitor foi um comerciante cheio de sonhos para os filhos que não viu nascer. Havia lutado para manter a loja que fora de seu bisavô, seu avô e seu pai, mas uma brutalidade obrigou a família De Lana a fechar as portas. Heitor trabalhava de segunda a sábado e, no único domingo que abriu, foi pego de surpresa por dois assaltantes, que levaram muitos produtos, dinheiro e a vida do pai e marido.

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