A notícia de sua morte foi um baque para todos.
Indo contra todas as expectativas médicas, que deixavam claras que a tendência era que Sam se recuperasse rapidamente, seu estado de saúde piorou cada vez mais. A falta de contato com sua família fez com que Harry fosse o único pilar que Sam tivesse para se apoiar naquele momento. E Harry cumpriu com seu papel de namorado, ficando a seu lado quando se apresentava mais vulnerável do que nunca.
-Na saúde e na doença. - Disse Harry para Sam, sentado em uma poltrona e segurando a mão deste, deitado sobre a maca. O médico entrou no quarto e pediu com gentileza que Harry se afastasse e usasse álcool em gel, para evitar seu contágio. - Doutor, posso fazer uma pergunta? - Inquiriu Harry.
-Claro. - Assentiu o médico, com um olhar atencioso por trás da armação retangular dos óculos.
-O senhor poderia me informar sobre o estado da paciente Rose Walters? Ela é nossa vizinha e também está internada aqui.
O médico folheou uma série de papéis fixos à uma prancheta que carregava e respondeu:
-Infelizmente, as notícias não são boas. Seu estado não é nada bom e ela não apresentou nenhuma melhora desde que chegou até aqui.
-E ela pode receber visitas? - Perguntou Harry, levantando os olhos.
-Sim. Na verdade ela está sem acompanhante nenhum no quarto. Tentamos alertar a família mas eles parecem não se importar, é muito triste.
Harry despediu-se do médico e voltou a sentar na poltrona do quarto. A máscara que usava escondia seus lábios contraídos em uma expressão de preocupação, quando voltou-se para Sam, dizendo:
-Você pode esperar aqui um segundo?
-Essa é uma das infinitas coisas que eu admiro em você. Sempre se preocupa com os outros, até mesmo com quem desejava tanto o seu mal.
-Não sabemos o que vai acontecer daqui para frente, e se ela falecer... - fez uma curta pausa em sua fala, tentando assimilar aquela real possibilidade - eu não quero guardar ressentimentos.
Harry foi até o quarto de Rose, bateu na porta e a senhora balançou a cabeça com insatisfação.
-Você não dá mesmo o braço a torcer, não é, Rose? - abriu um sorriso de empatia.
-Não adianta fingir, Harry. Você me odeia e eu sei disso, deve estar se deliciando com a minha morte lenta.
-Não diga isso. Eu só gostaria de propor uma trégua.
-Política da boa vizinhança? - Retorquiu Rose, com ironia.
-Desculpe pelos nossos desentendimentos e por todas as vezes que eu faltei com respeito para a senhora. Mas você tem que admitir que é osso duro de roer.
Rose permaneceu em silêncio, mas logo virou o rosto fechado para Harry e ao mudar de posição na maca, começou a tossir. Sua tosse revelava a gravidade de sua doença, e que o médico não mentira ao dizer que ia de mal a pior. Com a chegada de uma enfermeira, Harry foi em direção à porta do quarto, dizendo:
-Eu coloquei o meu telefone na sua ficha, como número de emergência. Se algo acontecer com você, irão me ligar. Melhoras!
Harry já estava no limiar da porta quando ouviu-a dizer, entre as tosses severas:
-Harry...Me desculpe.
Harry acenou com a cabeça e voltou ao quarto de Sam. Pelo caminho as cenas que observava eram assustadoras, macas com pacientes espalhadas por todos os lados, enfermeiros correndo atarefados, o cheiro mórbido e o som constante de pessoas chorando e tossindo, usando de toda a sua capacidade pulmonar para expelir o ar enquanto aguardavam silenciosamente pelo fim inevitável.
Harry pegou seus pertences no quarto e ameaçava de ir para casa quando Sam disse:
-Sabe qual o pior disso tudo? Olhar para você e não poder te beijar. Não poder te abraçar. Não poder sentir sua pele contra a minha. Dizem que só damos valor às coisas quando as perdemos, e isso é a prova viva disso.
-Vamos poder fazer tudo isso quando você voltar para casa. - Virou-se e saiu.
As últimas palavras que Sam disse antes de Harry sair ficaram gravadas em sua cabeça durante todo o seu trajeto para casa.
A Lua cheia resplandecia no céu. Harry entrou no prédio, girou a chave na maçaneta e sentiu o celular vibrar em seu bolso. Número desconhecido. Pegou o celular e colocou-o entre o ombro e a orelha esquerdos, trancando a porta pelo lado de dentro e segurando o molho de chaves com a mão direita.
-Alô?
-Boa noite, falamos do hospital Luther King. Gostaria de falar com Harry Franklin...
-Sou eu mesmo. - Largou sobre a mesa a sacola de compras que trouxe do mercado onde passou após sair do hospital e passou o telefone para o ouvido oposto.
-Gostaríamos de informar o falecimento de...
E deixou as chaves caírem no chão.
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Inevitável
RomanceQuando tudo parece dar errado, é quando começa a dar certo. Harry e Sam são namorados há algum tempo e, como em qualquer relacionamento, crises vêm e vão, e durante uma dessas crises, quando o que Harry menos quer é olhar nos olhos de Sam, o casal s...