Capítulo Único

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Londres, 2020.

Querido Remus? 

Prezado Sr. Lupin? 

Caro Sr. Lupin?


Oi Remus,

Sou eu, a Tonks.

Olha, eu não acho que é assim que se começa e também acho que eu não sei mais como escrever uma carta. Quer dizer, já tem, talvez, algumas boas décadas desde que eu fiz isso pela última vez.

É bem engraçado tudo isso, não acha? Vejo só, eu, uma mulher de quase quarenta anos, tentando, e suspeito que falhando, escrever algo minimamente decente pra minha paixão da juventude. E o melhor é que é muito provável, e estamos falando de probabilidades ridiculamente altas, de que essa carta não chegue até você. O que não parece tão ruim agora, já que eu tenho certeza que até o final isso vai deixar de ser engraçado e se tornar patético.

Se bem que, se analisarmos melhor, já é meio patético.

Enfim, você deve estar se perguntando porque estou fazendo isso e sendo sincera eu não sei a resposta exata para a sua pergunta. Foi uma coisa que começou a algumas semanas, eu tinha acabado de me mudar para um apartamento no centro de Londres e decidi que seria uma ótima ideia dar um passeio e relembrar os velhos tempos. E foi mesmo uma ótima ideia, até eu me perder. Duas vezes.

O ônibus me deixou em frente a um carvalho velho e eu tive que ligar para uma amiga e pedir que ela viesse me buscar, foi só quando eu desliguei o telefone que percebi que sabia onde estava. Essas árvores são bem comuns por aqui, é óbvio, mas aquela era diferente, aquela eu conhecia e sei que nunca seria capaz de esquecê-la. Mesmo depois de 20 anos. 

༄  

Hogwarts - Instituto de Reabilitação Moral, 1999.

Primeiro dia.


“O que panquecas e abelhas têm em comum?”. A garota perguntou.

“Você soube do cara novo?”. O jovem ruivo ao lado falou, segundos depois, envolvido na novidade o bastante para que não percebesse a pergunta da amiga ou se desse o trabalho de respondê-la. “Eu ouvi dizer que os pais dele pagaram o triplo pra que ele entrasse aqui”.

“Por que?”

“Porque ele é mais velho e perigoso”. E sentindo uma mistura de excitação e ansiedade ao imaginar a aparência da mais nova aquisição de Hogwarts, o ruivo respondeu. Seus pensamentos foram interrompidos pela voz da amiga, que articulava confusa sobre o quanto isso não fazia sentido. “Não precisa ter lógica, Tonks, só precisa ser interessante”. 

Quando a mais baixa continuou com uma expressão confusa no rosto o rapaz se deu por vencido. Em meio a um suspiro descontente ele apenas continuou caminhando até árvore em que os dois sempre se encostavam no tempo livre. E quanto mais ele se aproximava do lugar mais devagar ele andava, até que parou, fazendo com que Tonks esbarrasse em suas costas.

“Ai”. Ela murmurou enquanto levava a mão até o nariz para logo o mover em uma massagem leve.

“Olha só aquilo, eu não acredito, é o cara novo. Merda, ele tá no nosso lugar. O que a gente faz agora?”. O garoto parecia verdadeiramente preocupado e até mesmo assustado, todos os seus bons sentimentos foram substituídos ao dar de cara com a sua fantasia, em carne e osso.

“Vai lá e se apresenta?”. Tonks perguntou como se fosse óbvio, e era na mente dela. Vendo que o amigo não parecia o muito disposto a fazer isso ela se ofereceu. “Que tal assim, eu vou, digo “oi” e depois é sua vez. Simples e fácil, não acha?”

7.579 dias e uma carta e meiaOnde histórias criam vida. Descubra agora