A goteira (desvantagens de pegar um lugar longe do palco), os empurrões, os gritos (tinha horas que eram tantos e tão altos que eu não sabia se o voz do Jão era a minha imaginação ou se eu estava escutando ele mesmo), nada disso importava. Eu estava ali. Meu coração se perdeu naquele espetáculo de luzes e músicas que vibravam o meu corpo inteiro.
Aquilo tudo era lindo demais. Eu queria sentir aquela energia todos os dias da minha vida.
E, cedo demais, ele parou de cantar.
Enquanto traziam o teclado para o palco o Jão começou a contar a história de como tinha sido o primeiro show dele ali em Curitiba (aquele que eu perdi), entre os risos dos fãs eu entendi que ele teve que dividir o camarim com um papai noel.
Quando os risos cessaram em expectativa da próxima música, Jão começou a tocar o teclado.
Sua voz saiu baixinha enquanto ele cantava Nota de Voz 8. Era de partir o coração.
A platéia tão agitada e animada até ali agora escutava ele cantar sua dor com um silêncio contemplativo.
No último verso da música sua voz falho e ele parou de tocar o teclado para limpar as lágrimas que escorriam livremente por seu rosto.
Todas as luzes do palco se apagaram e todos ligaram as lanternas do celular e apontaram para cima.
A Ópera de Arame estava mais linda do nunca.
E era a coisa mais triste que eu já tinha visto. Eu sentia como se fosse o meu coração se partindo com aquela música também.
A platéia começou a chamar por ele, tentando animá-lo.
- Gente, desculpa, essa música nem era para estar nesse álbum - ele falou enquanto levantava do banco e ia para o centro do palco - ela é muito pessoal e ainda não consegui tocar sem chorar.
E então uma batida começa e assim que ele escuta VSF seu sorriso reaparece em seu rosto, como um passo de mágica, toda aquela angústia que estava no peito é substituída por uma felicidade que me fez gritar cada palavra da música.
E os gritos começam com mais força do que nunca.
As luzes voltam ao palco e desligam as lanternas.
E Ele.
Ele.
Ele.
A Mariana não existia naquele lugar, eu era só o som e as ondas coloridas.
Eu nem tinha absorvido aquela oitava maravilha da humanidade (estava até feliz que o ônibus ainda ia demorar). Estava me sentindo em outra dimensão quando recebi no meu Instagram:
“E aí? Gostou?”
O Jão mandou.
“Sublime”
Eu não tinha alavras suficientes para o que eu tinha acabado de viver.
“Isso é um sim?”
Ele digitou.
“Gostar é uma palavra sem significado perto do que eu acabei de passar”
Eu digitei com um sorriso enquanto via meu ônibus chegando (o show já tinha acabado a mais de uma hora)
“Hotel San Diego, quarto 7. Vem?”
Meu coração esqueceu que a função dele era bombear sangue para o meu cérebro. E eu fiquei ali parada olhando o ônibus chegar com a mão levantada ainda para chamá-lo.
Abaixei a minha mão e parei de chamar o ônibus. Se eu ia? É claro que eu iria.
"Sim, mas talvez eu precise de uma carona, estou na Ópera ainda"
Eu digitei quando o meu cérebro finalmente voltou a funcionar.
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Você já escutou alguma vez Nota de Voz 8 sem chorar?
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Lindo Demais ✔️
FanfictionStatus: Concluída, em revisão. Mari, uma estudante de engenharia química super organizada e determinada sofre um acidente fatal em seu coração. O diagnóstico? Um amor a primeira música quando escutou o Jão cantar. O remédio? Iniciar uma carreira de...