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(...) "Lá no fundo, onde nada está bem
Eu perdi a cabeça...
Você não está convidado, então afaste-se
Eu só... Acho que perdi minha...


      Alguém em algum canto do universo disse que a infância é uma parte importante na formação do caráter de um adulto.

A infância é descrita por poetas, músicos e escritores como a mais bela fase de um indivíduo. É um lugar aconchegante, um território livre de preocupações...É nela que nossa mente é estimulada das mais diversas formas: sonhamos em sermos super heróis, seres de grandes feitos, queremos salvar a humanidade, dar carinho aos animais e ainda chegar a tempo de comer um pedaço de bolo feito por um adulto descontente. 

***

          No grande planeta azul, progênie da apagada Via Láctea houve um individuo singular chamado Philippe Ariès. Este homem dedicou sua vida ao estudo da morte e da infância. Foi ele que de alguma forma trouxe uma linha mais clara entre o que era ser uma criança e o que era ser um adulto. Desde a antiguidade, crianças eram consideradas seres inferiores que não mereciam nenhum tipo de tratamento diferenciado, sendo inclusive a duração da infância reduzida. Em alguns casos, como na vida do Cara, ele não teve a infância reduzida... Ele sequer a conheceu.
No planeta do Cara, foi possível constatarmos que a criança era tida como uma espécie de instrumento de manipulação ideológica dos adultos e, a partir do momento em que elas apresentavam independência física, eram logo inseridas no mundo o qual conhecemos como "Catástrofe''. O Cara definitivamente não passava pelos estágios da infância estabelecidos pela sociedade sã.
A infância não passava de uma promessa de começo, garantia do eterno retorno do novo e, portanto, de adiamento da catástrofe. Geralmente a catástrofe é a vida adulta. No entanto, com o Cara, a catástrofe era ter sido raptado e submetido ao sistema cruel de Lofahr aos dois anos de idade.           Prytor era um pequeno local paradisíaco conhecido por seus imensos lagos perfeitamente circulares de cor lilás. A mistura dos corais com os detritos da ultima grande guerra, faziam um perfeito tom de lavanda banhar grandes saibros. Entre - mar, haviam casas suspensas por pedras negras arroxeadas, residências simples feitas de um material semelhante a bambu, cobertas por palhas... Algo sofisticadamente bem feito e simples, dado somente aqueles que respiram arte e desconhecem o poder do dinheiro. Em Prytor não havia distinção entre seus habitantes. Todos moravam em casebres, bebiam da mesma água e repousavam sob o mesmo sol.Era lá que morava uma mulher de longos cabelos amarelos e grandes olhos cinzas, conhecida por seu temperamento extravagante. Residia na primeira casinha de frente para onde um dos lagos desembocava em um oceano vermelho clarinho. Oceano este, conhecido por ser a morada de almas sacras. Mas essa é outra história.Poucos sabiam quem Nikki (este era seu nome) de fato era. Uma mulher com amplas ideias, com pelo menos 600 patentes registadas em seu nome. Infelizmente, ela estava muito à frente do seu tempo e enquanto a maior parte das suas ideias mais elaboradas teoricamente funcionavam, elas nunca foram bem aceitas. Ainda assim, apesar de ela nunca ter recebido reconhecimento que merecia, ela era uma inventora brilhante que deu ao universo algumas fantásticas e pioneiras inovações. Por algum motivo, Nikki estava sendo procurada em pelo menos 3 planetas e uma centena de cidades; se dando conta ou não disso, decidiu se dedicar ao estudo de eletricidade alternada por um tempo. Ela já havia colocado em prática tal estudo em outros lugares, mas por algum motivo Prytor não recebia bem a ideia de corrente alternada. Alguma coisa envolvendo a gravidade e a falta de cabeamento útil. Ninguém sabe como, mas antes de Prytor ser o que é hoje, Nikki que raramente saia de casa, apareceu um dia com um bebê a quem apresentou como seu filho. E durante dois anos, os estudos sobre eletricidade alternada ficaram em segundo plano.             Durante a noite, Prytor era iluminada apenas por grandes astros que passavam rapidamente pelo céu agora negro. A luminosidade era escassa, apenas o suficiente para que Drago, depois que aprendeu a andar, corresse toda noite para a janela e sem entender muito bem o que via, pudesse de alguma forma pensar em todas aquelas efígies brilhantes. Em uma noite excepcional, depois que repousava na cama de sua mãe. Drago foi despertado por gritos e barulhos vindos de outras casas. Era a primeira vez que conscientemente sentia seu coração disparar. O primeiro reflexo foi buscar pela mãe. Não houve tempo suficiente para que chegasse até a porta, na verdade, ele não conseguiu sequer descer da cama... Um forte odor metalizado interrompeu sua visão e seus movimentos, e o pequeno caíra pálido subitamente.                                                                                            ***
Ao sul de Lofahr, existia um pequeno vilarejo desconhecido. Este local, durante muito tempo foi uma terra infértil, sem habitação e sem vegetação. Apenas um areal amarelo forte com grandes pedras esverdeadas e um céu escarlate assustador.
Ninguém sabe quando surgiu, mas em algum momento ao olhar para o Sul foi possível ver ao longe uma bruma espessa e rosada que ficou em torno do local que tornou-se conhecido como Korkko.Antes da Entidade se apresentar, o planeta de Teo vivia em paz. Toda a civilização das cidades de Prytor, Lofahr, Morgk'eh e demais, eram amigas e compartilhavam sua tecnologia, seus grandes cientistas, artistas e autores.No entanto, uma parte dessa história, de modo contínuo era opressiva com uma pequena parcela de seres. Lofahr encabeçava uma ideia de supremacia frente as outras cidades. Foi dela que surgiu o grande guerreiro Ny Grundror, o grupo cientifico Condryt, Lyonard Rokko,a arquiteta Nargreya, entre outros cidadãos notáveis.              É estranho pensar que coisas grandiosas possam estar acontecendo em qualquer lugar do universo e nós nem nos damos conta. Mas tá tudo bem. Uma cidade inteira pode sumir em questão de segundos com uma explosão, enquanto a gente dorme tranquilo embaixo de duas cobertas quentinhas. Nosso coração pode ser partido antes do sorvete acabar... Enquanto alguém em algum lugar dá um ultimo suspiro. E tá tudo bem, né?  Além de coisas grandiosas ou pequenas também (porque não?) há pessoas grandiosas, tecendo grandes feitos, entrando para a história. Há lendas sobre ter seu nome fincado numa chamada "calçada da fama" no planeta terra. Pessoas boas e pessoas ruins com documentários ganhando grandes produções. Mulheres e homens em capas de revistas sendo agraciados por premiações cientificas ou artísticas. Entretanto, à mercê dessas coisas e dessas pessoas, há uma camada de coisas e pessoas não tendo seu reconhecimento. Flores tentando nascer em um concreto esburacado pela terceira vez. Um cientista morto por sua amada dançarina azul de Morg'eh. O órfão sobrevivente da grande guerra sendo pisoteado por seres em busca de ajuda. Um soldado que teve a chance de matar um rival que futuramente viria a ser um terrível ditador. Pessoas deixando de almoçar para poder jantar. Talvez em um quarto solitário, um conhecido seu pode estar sentado em sua cama, tentando sentir alguma coisa novamente. 

E à margem de tudo isso existe a Ziggy.

         Ziggy é uma garota, se é que se pode chamá-la de garota ainda. 24 anos. Cabelos curtos, bem cortadinhos de forma relapsa. Ziggy não faz ideia de nada que aconteça no planeta em que ela vive porque Ziggy vive em uma eterna infância. Ela não sabe das revistas, das infinitas guerras, dos heróis e muito menos que seu ''nome'' é porque ela lembra muito um cantor dos anos 70 de um planetinha esquecido. O que importa pra Ziggy é se alimentar e se divertir.

Hoje seria um dia normal para ela. Ela acorda com a boca seca. Esta noite houve muita ventania, e uma parte dos detritos e poeira praticamente enterraram-na no lixo. Mas hoje é um dia diferente, porque ela não ouviu os cães ladrarem. E também porque enquanto dormia, ela sonhava que andava nua por um areal com grandes botas azuis, cheias de estrelas prateadas e cantava uma música em língua estranha para várias Ziggys assim como ela, só que cada uma de uma cor diferente. Uma de pele azul, a outra amarela... A outra era rosa e essa talvez era sua predileta. Mas os cães não latiram.Apesar de relapsa, descuidada, indiferente e relaxada. Ziggy é sistemática psicologicamente. A boca acorda sempre seca. Então ela ouve os cães. O sol ou a chuva machuca sua visão, a seguir ela sente que precisa comer algo. Anda por ai e encontra algo no lixo. "The junk way of life "Mas hoje... os cães não latiram.

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⏰ Última atualização: Jun 20, 2020 ⏰

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Ziggy, o lixo e um caraOnde histórias criam vida. Descubra agora