|| 𝐏𝐫𝐨́𝐥𝐨𝐠𝐨 ||

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{ 10 anos atrás }.

O vento balançava meus cabelos castanhos naquele momento. O sorriso belo que crescia em meus lábios, enquanto eu sentia as flores coloridas batendo em minha cintura, enquanto corria, gargalhando. O som dos pássaros entrava pelos meus ouvidos enquanto olhava para trás, observando meu pai correndo atrás de mim, como sempre fazia, mesmo estando cansado, ele fazia de tudo para me divertir.
A beleza daquele lugar era reconhecível. Uma árvore isolada e retorcida se encontrava no meio do campo, sua beldade era impressionante. Pássaros voavam ao redor da árvore, em uma dança linda e harmoniosa, beija-flores passavam de flor em flor, se alimentando do néctar do interior das flores. A brisa morna batia contra mim nos passos que eu corria, aproveitando cada segundo com minha família, antes de tudo começar a mudar.

O sol já se encontrava em suas típicas cores alaranjadas e rosadas, quando olho novamente para trás, conseguindo ver o exato momento em que meu pai caía no chão, em agonia. Ainda rindo, vou até meu pai, achando que tudo era apenas uma simples brincadeira, até ver suas feições. Seu rosto estava retorcido, ele apertava sua mão contra o peito, tentando aliviar a tensão que estava localizada em seu tórax. Um grito estridente saí do fundo de minha garganta, um grito agoniante. Nenhuma criança de dez anos deveria presenciar o que acontecia naquele momento. Rapidamente, os passos apressados de minha família me cercavam, e logo, eu estava nos braços de minha mãe, que escondia meu rosto à medida que o som da sirene da ambulância entravam pelos meus ouvidos.

Uma criança. Eu era apenas uma criança. Lágrimas escorriam pelo meu rosto, em um choro silencioso mas ainda sim, cada lágrima resultava em uma dor em meu coração, mas não a dor física, e sim emocional. Um medo colossar invadia, enquanto minha mãe arrastava meu corpo imóvel para o carro. Eu queria se mexer, mas o medo era maior. Quando dei por mim, já estava no carro. Um carro simples, mas confortável, suas cores vibrantes de vermelho chegavam à ser engraçadas, assim como o tamanho, o carro poderia ser facilmente doferenciado com um carro de circo, normalmente ele me fazia rir, mas agora, rir estava totalmente fora de questão.

Minha cabeça estava apoiada na janela, enquanto as lágrimas silenciosas desciam pelo meu rosto. A mão delicada de minha mãe toca a minha, e eu a olho. Dava para ver que ela queria mostrar o quão forte ela era, mas era impossível naquele momento. Ambas estávamos com medo, incapazes de mostrar nossa destreza, ela tenta falar comigo, provavelmente palavras reconfortantes, mas em meus ouvidos, suas falas eram apenas um pequeno fio de voz, minhas mãos começaram à se mexer freneticamente, sob meu colo, enquanto a ansiedade tomava conta de mim.

Assim que passamos pela porta do hospital, o medo novamente ataca. Eu já não conseguia chorar, estava praticamente incapaz de realizar tal ação. Me sento em uma cadeira, enquanto fechava meus olhos, como se eu quisesse sumir dali, apenas... desaparecer. Sou retirada de meus devaneios ao sentir uma mão leve em meu ombro. Olho para a mão, seguindo o olhar até os olhos cinzas de minha mãe. Seu sorriso tentava transparecer calma, pelo menos ela conseguia fingir que tudo estava bem.

"Seu pai vai ficar bem, Aly. Não há motivos para se preocupar, ele é um homem forte." Ela pronuncia cada palavra com um tom firme, mas eu  a conhcia, ela estava tentando convencer mais a sí mesma que à mim.

"Hércules também era um homem forte, e você sabe o que aconteceu." Respondo apenas, de modo insolente. Escuto seu suspiro, e logo sua mão saindo de meu ombro. Eu não tinha o costume de ser mal educada, mas naquele momento, eu apenas não ligava.

Meu corpo se tensiona a medida que um homem baixo, forte, com aspecto triste passa pelas portas. Ele fala com uma enfermeira, que assente à todas suas falas. Olho para minha mãe, que prendia o ar. Estico minha mão para ela, e observo seus dedos se fechando contra minha mão, a aperto com força, enquanto fazia uma breve oração para Deus. O corpo do médico finalmente se vira para onde estávamos. As mãos da minha mãe apertam as minhas, como se ela quisesse conferir que eu estava lá, com ela. O homem solta um breve suspiro ao nos encarar, antes de arrumar sua postura.

"Família Fisher" eu e minha mãe ficamos de pé, prendendo a respiração, de modo apreensivo "Devido à circunstâncias específicas, o paciente Barnaby Fisher veio à órbito por parada cardíaca, apesar de todos nossos esforços. Sinto muito."

Suas palavras me atingiram como uma facada no peito. Uma sensação péssima tomou conta de meu corpo, e como consequência, me apoio na parede, fechando meus olhos com força. O desespero começou a dilatar, e a angustía se aglomerou em meu corpo. Minha respiração falhava, de maneira que a tontura predominava meu corpo. Escorrego minhas costas contra a parede enquanto minha visão escurecia. Cada palpitação cardíaca acelerada fazia com que o medo apenas se ampliasse. Fecho meus olhos com força, minhas mãos se mexiam de mandeira frenética, enquanto, de certo modo, tentava fazer com que a sensação de angústia, medo, instabilidade, apenas saísse de meu corpo.

Os vultos se aglomeravam ao meu redor, e palavras reconfortantes ecoavam, tentando fazer com que eu relaxasse e apenas voltasse ao normal, mas eu não conseguia, as palavras apenas não faziam sentido. Mãos me colocaram em uma maca, e lágrimas transbordavam de meus olhos. Eu gritava, em agonia, com medo. Abri meus olhos por alguns centímetros, o bastante no entanto, para me fazer ver apenas, uma luz no teto, uma luz branca, e, naquele brilho, vi pela última vez, o sorriso de meu pai, com seus olhos azuis esverdeados e cabelos negros. Ele acenou para mim, seus olhos agora estavam mais brilhantes, era possível ver as lágrimas descendo pelo seu rosto. Uma de suas mãos se esticaram, como se quisesse me tocar, ele deu um sorriso triste. "Eu te amo, abelinha." Ouvi sua voz ecoar pelos meus ouvidos, e logo depois, seu rosto desapareceu do fio de luz, e eu entrei em completa escuridão.

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⏰ Last updated: Jul 07, 2020 ⏰

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