ᴀғᴏɢᴀɴᴅᴏ-ꜱᴇ

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A muitos anos atrás, em um dia qualquer

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A muitos anos atrás, em um dia qualquer...

Mamãe está brava. Aperto minha boneca em um abraço bem carinhoso, porque estou com medo e abraços carinhosos espantam o medo. Mamãe anda de um lado para o outro e grita para o celular. Não sei porque ela grita para o celular. Mas grita. Grita. Grita. Grita muito. O abraço carinhoso não funciona e o meu medo não vai embora, ele fica bem aqui juntinho de mim como uma boneca boba que não funciona. Isso me deixa brava. Queria o Sr. Urso.

Mamãe não me deixou trazer o Sr. Urso. Ela é uma mamãe má e o colocou na máquina de lavar, agora o pobre Sr. Urso está girando de um lado para o outro. Girando. Girando. Girando. Sem parar. Pobre Sr. Urso.

Quando papai virá afinal? Ele me disse que salvaria meu Sr. Urso e traria para mim, então iriamos olhar os peixinhos no rio. Mas estamos aqui há muito tempo e papai ainda não veio. Aonde será que aquele danadinho se meteu?

Solto um suspiro bravo e me levanto. Mamãe ainda está brava e gritando com o celular. Ela me encara e balança a mão. Acho que quer que eu vá para longe. Ergo meus ombros e depois solto. Na pontinha do rio há algumas pedrinhas. Papai me leva nessas pedrinhas para ajudarmos peixinhos que não conseguem passar para o outro lado. Talvez haja algum peixinho hoje. Saio da toalha vermelha e começo a andar na pontinha do rio. Um pé na frente do outro. Braços abertos. Deixo a boneca que não funciona pendurada, para que ela veja o rio e tenha medo! Ela foi uma má boneca e eu não me importo se cair e os peixes lhe comerem.

Boneca feia!

— Não perca a sua boneca, Carol! — Mamãe grita de bem longe. — Eu paguei caro por essa porcaria!

— Eu não estou te ouvindo. Você pode gritar mais?

Estou ouvindo, mas vou fingir que não. Mamãe faz sua cara mais brava e corro para longe dela, tão longe que tropeço. Meus joelhinhos batem no gramado e doem. Minhas mãos batem nas pedrinhas e a água espirra no meu rosto. A boneca cai. A boneca começa a ir embora.

— Adeus, boneca horrorosa — digo bem baixinho, para que mamãe não ouça.

— Carol!

Abro os olhos quando mamãe grita. Poxa vida, que mamãe brava! Ela se aproxima e puxa meus braços para me levantar, depois me empurra. Mamãe não pergunta se estou bem e agora meus joelhos estão sangrando.

— Você deixou a sua boneca cair, porra!

— Ela era uma boneca feia. Nós podemos ir para casa pegar o Sr. Urso?

— Não! — grita, de novo. — Você precisa pegar sua boneca de volta.

Abro a boca para mamãe. Estou... cho... cho... Estou aquela palavra que papai sabe falar e eu não me lembro! Encaro o rio e depois encaro mamãe.

— Não posso entrar no rio sem o papai. Não sei nadar.

— Oh, que pena, querida — mamãe se abaixa e segura meu rosto, bem apertado — seu papai ficará tão triste quando souber disso.

Survive For You - Daryl DixonOnde histórias criam vida. Descubra agora