Lentamente ele se encaminha para a própria casa, a passos curtos, de forma calma e paciente. Nem ao menos o seu incomodo com o horário — afinal já eram altas horas da noite — pode tirar a paz que lhe acalentava naquele momento.
Talvez ele devesse estar frustrado, naquela manhã o seu carro havia quebrado e como toda ação tem sua reação ele estava voltando a pé para casa após um longo e cansativo dia de trabalho.
Entretanto, mesmo em meio ao ocorrido, aquela sensação não o abandonava; Ele estava feliz, apesar de cansado estava feliz. Após uma longa e arriscada cirurgia que pendurou por doze horas consecutivas ele havia conseguido salvar um paciente e isso aquecia de forma inexplicável o seu coração.
E agora, mesmo cansado, ele podia olhar para o céu e ver as belas constelações cheias de estrelas sem sentir culpa, se permitindo sorrir pois ele havia feito o seu trabalho e a sua mãe, uma daquelas estrelas penduradas no céu obscuro, estava naquele momento olhando para si, orgulhosa de seu feito.Ela havia sido uma vida que ele não conseguiu salvar.
Mas estava tudo bem, pelo menos naquele momento. Aquilo era precioso, aqueles momentos de paz eram raros, para um médico cirurgião a calma não fazia parte de sua rotina; E quando aquele sentimento o invadia, sendo irradiado por todo o seu corpo e até mesmo bombeado através do sangue em suas veias – como uma droga que deixava o cérebro letárgico – ele se dava ao luxo de aproveitar o momento, sentir até mesmo na ponta dos dedos aquela fantástica explosão de prazer.
Sensações como está não lhe acometiam diariamente. O estresse, a estafa, a exaustão psicológica, o seu dia se resumia a estes sentimentos e a derivados; Ironicamente, mesmo com uma rotina turbulenta, as sensações ruins não estavam vinculados a sua vida profissional, saber que uma vida havia sido salva pelas suas mãos ou que havia colaborado para tirar a dor de alguém era de fato algo excelente. Sua mãe sempre lhe dizia: "Ame o próximo", "Ajude o próximo", "Não seja egoísta"; essas curtas frases se transformaram nas leis que regiam a sua vida.
Mas ultimamente ajudar e amar o próximo não estava sendo o suficiente; havia a necessidade de algo a mais, existia um vazio que era inteiramente preenchido pela tristeza; Com o tempo e com as falhas a decepção e o desgosto ocuparam o espaço de seu reflexo no espelho, o nojo era a consequência de uma simples olhada.
Após a morte de sua mãe a dois anos atrás o sentido das coisas havia evaporado, se dissipado por completo de sua vida afinal ela sempre havia sido o epicentro dela.Nunca façam de alguém a sua vida, o seu sol, a sua gravidade; pois a vida acaba, eclipses acontecem, e existe lugares nas galáxias a fora que a gravidade não existe.
Quando a sua gravidade foi embora ele se sentiu sem chão e seus pensamentos o traíram enquanto flutuavam em sua cabeça, vários e vários pensamentos em milésimos de segundos, e nenhum deles era bom, todos eram perturbadores o bastante para lhe roubar o sono.
Quando o seu sol foi tampado pela lua tendo o seus raios apagados na escuridão da morte não havia mais um propósito de vida. Ele não sabia mais qual era a sua rotação naquele momento, ele se sentiu fora de órbita, em uma escuridão sem fim pois a sua luz era a que iluminava o seu caminho.
E quando a vida acaba e a pele fica gélida, a daqueles que ficaram permanece na mesma temperatura, pois a vida ainda se mantém do lado de fora, mas morte corrói por dentro.A única pessoa que ele amava havia ido "embora", algumas pessoas haviam lhe dito que ela estava melhor "lá", que ela poderia estar em algum lugar na imensidão infinita e cósmica do universo; entretanto, nem mesmo a forma mais poética de se pensar havia acalentado o seu coração. A morte era a morte, ele não estava pronto para superar ela.
— Você deve estar impressionando os anjos agora com o seu jeito amoroso de ser — ele falou para o nada que contemplava os céus que se erguiam a cima dele.
Entre as suas filosofias internas e a apreciação de seu Carpe Diem temporário, ele ouviu um barulho que ecoou por toda a rua em que ele se encontrava. Era um grito de dor, um gemido agonizante que implorava pela paz que ele contemplava.
O som havia saído de um beco próximo de onde se encontrava, a passos rápidos ele decidiu socorrer a vítima acometida pela dor, aquele era o seu trabalho.
Em frente a um corredor criado por dois prédios medianos, ele encarou o breu que se esgueirava entre as partes da cidade, fugindo da sinuosa e opaca luz provinda dos postes de luz.— Alguém? — seus coração palpitou, suas mãos tatearam o celular em seu bolso e ele o segurou firmemente enquanto avaliava hipóteses em sua cabeça. Estupro, roubo, seria melhor chamar a polícia?
Ele ligou a lanterna iluminando o local, desde as paredes sujas cheias de mofo, até o chão com alguns sacos de lixo e um corpo sobre ele.
Seus olhos se arregalaram de forma espantosa, aquilo que eles viam era algo inacreditável. Ele piscou, sacudiu a cabeça e bateu em si mesmo, mas nada mudou a cena ocorria bem na sua frente.As mãos do ser jogado no chão se tornavam gradativamente verdes, haviam várias flores em volta de si. Um jardim fazia de seu corpo terra fértil e como ervas daninhas se alastravam pelos seus membros.
Do seu peito, saindo se seu coração, um buquê se formava de forma explendorosa. De sua pele raízes saiam e a rasgavam, explorando o mundo exterior enquanto eram regadas de sangue. Os botões viravam flores brancas de um aroma tentador, e o corpo desfaleceu no chão, de costas para ele, como se ele estivesse dormindo, assim como o médico também acreditava estar.Por fim os dedos dos pés e das mãos se transformaram em finas raízes, e o resto do corpo se transformou em um belo jardim de flores brancas regadas a sangue. Era um jardim de gardênias, de aroma doce e de aparência perpetuamente horripilante.
Paralisado o médico apertou o celular entre os dedos, a força fez com que a tela trincasse, seu coração bombeava desespero, sua paz foi jogada para lobos. Ele estava congelado no mesmo lugar e uma parte de sua parte racional ainda duvidava da cena e se perguntava se o seu inconsciente estava teatralmente produzindo aquele teatro nefasto.
Antes que a última torre ruisse o ser levantou rosto uma última vez, o sorriso doce que adornou os seus lábios calidos era quase que idêntico ao da falecida mãe do observado atônito. Aquele gesto simples fez com que o homem desabasse de joelhos, os dois, em um baque só, caindo em prantos como uma cachoeira deságua em um riacho. As lágrimas grossas contornavam a feição cansada, os pensamentos fluíram como rio e ele desejou morrer.
A voz fraca e rouca ecoou pelo beco, ela também se assemelhou de forma dolorosa a voz que as cordas vocais da mãe daquele homem haviam produzido em seu último momento.— Finalmente eu consigo ver a minha beleza — a voz era tão doce quando o aroma das flores, em algum momento as mãos trêmulas limparam as lágrimas e fitaram o ser a frente a procura de seu rosto.
Mas ele só encontrou um belo jardim, em um piscar breve de olhos tudo sumiu como uma ilusão realista, e até mesmo as raízes, o sangue e o corpo já não estavam mais lá. Era assombroso, era terrível, e a sua última torre ruiu e seus destroços esmagaram o seu coração.Após minutos, quando seus ossos não tremiam mais como antes, ele pegou o celular que havia largado no chão e com a lanterna varreu mais uma vez o local e perto das sacolas de lixo ele encontrou uma única flor no chão. Um gardênia tão bela quanto aquelas que preencheram aquilo que ele assumiu como uma ilusão.
Ele voltou para casa com a flor em mãos, seus estado caótico era como o de um louco fugitivo de um hospício, sua mente contornava o mais completo nada, aquele surto havia dado início a sua epifania.
Ao chegar em casa ele colocou a flor em uma bela jarra de água, e se deitou em sua cama macia. Sem tirar as suas vestes, ele se acomodou entre os lençóis pálidos, sua alma já estava despida não precisa de mais.
Naquela noite, em meio ao sono, ele começou a reconstruir a sua torre de sustentação para que logo mais, quando sonhasse, ela ruisse novamente.
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A Doença De Chija Namu
FanfictionQuando ele foi deixado sozinho uma tempestade turbulenta agitou o seu oceano interior que deslizou entre sonhos e lembranças e do mesmo modo que seu exterior, o afogou no mar lágrimas salgadas. Quando tudo se foi a sua segurança também se foi e ele...