Uma Entrega ao Luar

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  Era noite, como sempre, e um vento frio soprava por entre os pinheiros, fazendo os velhos galhos das árvores rangerem em oposição. Não havia muito barulho ali, apenas alguns corvos se misturando com as sombras e pequenos roedores buscando abrigo. E, claro, o barulho dos cascos do cavalo pisando o chão rochoso e a grama cinza, aquele velho caminho pelo qual tantos passaram diversas vezes.

  A respiração do cavalo podia ser vista, era uma noite bem fria e o animal já havia andado bastante. O ar quente saia das narinas do vigoroso animal e logo tinha seu calor drenado pela escuridão gélida. Ele mesmo não podia falar muita coisa. Mesmo estando em cima do animal e coberto com um grosso manto de pele de lobo, seus ossos doíam e de vez em quando tossia como se os próprios pulmões quisessem desistir daquela viagem maluca.

  Malditos guardas, se não fosse por eles eu estaria num fogo aconchegante nesse momento e o pobre Pé de Musgo estaria dormindo num baia com um pouco de feno, pensou consigo mesmo apertando ainda mais o manto contra o corpo. Aquela viagem não era dele, mas daqueles guardas idiotas. Eles que eram para estarem sendo devorados pelo frio da noite.

  Ao alcançar o alto de uma pequena colina, Pé de Musgo deu seu último trago de ar e então desistiu, deitando com tudo no gramado. Por mais que se segurasse nas rédeas, não conseguiu se segurar e acabou rolando na grama juntamente com o pequeno pacote que trazia na garupa. Resmungou e proferiu maldições contra o animal, mas no mais não havia se ferido. Chegando perto do animal viu que estava buscando se aquecer junto da grama cinza da floresta e seus músculos tremiam com o frio. Não podia julgá-lo, estava com dores também. Abriu a pequena bolsa que levava nas costas e dela tirou um pedaço de tecido dobrado, abriu-o e colocou em cima do animal.

  – Não se acostume, Pé de Musgo, amanhã só irei parar quando chegar em Amberwatch – disse Sebastian ao animal enquanto catava alguns pequenos galhos secos perto de um pinheiro tão escuro quanto a própria noite – Se esse pacote de merda não chegar dentro de dois dias, nossas cabeças sem corpo vão alimentar aqueles corvos ali – disse apontando para algumas das aves que estavam aninhadas em um galho, observando tudo de longe.

  O cavalo relinchou, como que em um protesto juvenil. Continuou a catar alguns galhos e juntou eles perto do cavalo. Pegou uma pequena pederneira que trazia no cinto e, após algumas fagulhas, uma chama se acendeu. Era pequena, os galhos não suportavam o vigor de uma bela flama e o vento, como uma sanguessuga faminta, perecia a todo custo querer tirar o seu calor. Mas ali ela ficou, dançando enquanto ele aquecia suas quase congeladas mãos.

  Pegou o pacote que havia caído perto do cavalo e coloco-o perto de si. Nada podia acontecer com aquele pacote, NADA! Se sua bela embalagem de seda vermelha sofresse o mais fino dos cortes, ele receberia um ainda maior na barriga. Ele até podia entender o sofrimento de Pé de Musgo e estava dependente dele para andar, mas em outra situação já teria enfiado a espada no pescoço do animal.

  Pegou um pedaço de pão seco de dentro da mochila e um odre de couro com o que restava de sua água. Havia saído de Wolfgate com mais suprimentos, mas dez dias de viagem haviam acabado com a maioria. Sua carne seca havia acabado a seis dias, suas doces maçãs sumiram havia três e o pouco de queijo amarelo que tinha acabara no desjejum. Se a viagem durasse mais alguns dias, talvez casca de pinheiro seca não fosse uma iguaria tão ruim.

  Tudo culpa daqueles dois cabeças de bagre, quando voltar vou pessoalmente fazer o mestre ordená-los vigiar os muros pelo lado de fora.

  Essa viagem era mesmo culpa única deles. Sebastian estava levando esse pacote de sei lá o que por essa estrada sinuosa para uma cidade quase que literalmente do outro lado de Anriel, tudo unicamente por causa deles. Ainda se lembrava de quando eles lhe passaram a perna.

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⏰ Última atualização: Jun 22, 2020 ⏰

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