Capítulo Um

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A caminhada até Jackson não foi tão longa quanto Ellie esperava. O verão chegava nas montanhas de Wyoming. O clima estava fresco e Ellie logo tirou o casaco de Joel, que ultimamente carregava para todo lugar.

Ela sabia em seu íntimo que não encontraria Dina ou JJ na fazenda, e ainda assim não deixou de sonhar com o reencontro desde que saíra daquela praia, onde deixara Abby viver. Seu corpo precisava do calor de Dina, sua mente necessitava das risadas de JJ. Só assim conseguiu atravessar o deserto escaldante de Nevada.

Encontrou uns retardatários no caminho e os matou silenciosamente com sua faca. Ao fazer um esforço necessário para puxar um estalador para a morte, o seu abdômen ardeu, no mesmo local onde tinha sido atingida pelo toco de árvore enquanto lutava com os Cascavéis. Os pontos já estavam secos e não precisavam trocar há um tempo, e Ellie ignorou a dor.

— Mãos para o alto! — disse o guarda na entrada de Jackson, apontando a arma na direção de Ellie.

Ellie obedientemente o fez e olhou para cima. O homem não pareceu saber quem ela era e complementou:

— Fale seu nome e seu objetivo!

— Eu sou a Ellie! — ela gritou de volta, achando preocupante a situação. A morte de Joel tinha aumentado a segurança de todos ao redor da pequena cidade. — Tô aqui pra... pra visitar minha família.

Era isso o que Dina e JJ eram, acima de tudo. A família que ela encontrara no meio desse inferno. Depois de tudo o que passara nas últimas semanas, ela só queria desabar no colo de Dina. Ellie sequer sabia se sua namorada a aceitaria de volta, mas estava disposta a tentar.

— O que diabos você está fazendo, idiota? — A voz de outra pessoa ecoou pela clareira, e Ellie a reconheceu imediatamente. Era Maria. — Ela é a sobrinha do Tommy!

Em algum lugar no coração despedaçado de Ellie, ela sentiu uma onda de carinho irrefreável por Maria. Lá do posto dos guardas, a mulher abriu os portões para que Ellie entrasse. A garota hesitou por um instante, com medo das reações de todos ao ver que ela retornara. Mas uma vozinha dentro dela, uma voz que ela sabia ser a de Joel, a disse que nada disso importava. Ellie tinha que voltar para sua família.

— Ah, Ellie! — Maria disse ao descer da torre, puxando a garota para um abraço apertado. Ellie gemeu um pouco. Ainda havia queimaduras em seu corpo que doíam quando espremidas daquela forma. — Estou tão feliz que voltou!

— Eu também, Maria — falou Ellie, esfregando os braços para aliviar a dor das queimaduras.

— Tommy está no estábulo resolvendo algo com um cavalo que fugiu, mas se você quiser pode...

— Na verdade — Ellie interrompeu Maria, torcendo as mãos nervosamente —, eu queria ver a Dina.

Maria encarou Ellie por um instante, analisando sua postura e seu corpo. A garota estava muito magra e parecia que uma lufada de vento a levaria dali. Os cortes e as queimaduras em seus braços nus refletiam a dura jornada que teve até a California. A expressão dolorida dela não continha nenhuma felicidade que ela disse sentir ao ser abraçada por Maria. A mulher mais velha percebeu que tudo o que Ellie queria era um pouco de paz. Talvez nunca mais falar do que aconteceu na sua viagem.

— Claro, claro — disse Maria, colocando o braço em volta de Ellie e guiando a garota pela rua principal de Jackson, cheia de pessoas andando à toa, trocando pedaços de cervos por peças de roupa e outras coisas.

Ellie assistiu à movimentação com receio, desejando que Maria a soltasse. As pessoas começaram a acenar e apontar para ela, alguns com sorrisos e outros com expressões carrancudas. Não gostava daquela atenção toda. Maria, notando o jeito como as pessoas tratavam Ellie, puxou a garota para uma rua com menos movimento e assim seguiram.

i'm coming homeOnde histórias criam vida. Descubra agora