CAPÍTULO 12
Quando dizem que a vida nos guarda surpresas, nós geralmente não acreditamos. Eu particularmente nunca acreditei até me ver naquela situação. E só depois que aquele dia terminou é que eu consegui acreditar no que tinha acontecido, e nem foi 100%.
Continuava eu parada perante a porta aberta do apartamento, enquanto as minhas compras rolavam pelo corredor do 8° andar após eu tê-las deixado cair das minhas mãos. O Que eu via era surreal. O Apartamento inteiro estava inundado de balões. Sim, balões que seguiam o mesmo exemplo do que estava posto na minha mesa há 2 dias atrás: balões verdes flutuando pelos cômodos do apartamento carregando consigo a carta. A Mesma carta que eu havia cortado e jogado no lixo perante aos olhos incrédulos de Tom. Não me admirava que ele tivesse saído mais cedo da editora, aquela obra exigia bastante trabalho.
Mal dava para ver o próprio apartamento, todos os espaços estavam preenchidos com balões e, sem querer ser pouco romântica ou até desmerecer o esforço, mas fiquei pensando quem ia limpar aquilo depois. Um pensamento um tanto rude para um momento como aquele, eu sei. Foquei novamente no que estava acontecendo ali: se Tom deu-se ao trabalho de inflar tantos balões, e copiar o mesmo numero de cartas só para que eu pudesse perdoar algo tão simplório, quer dizer que ele realmente se importa comigo. E Muito. Exageradamente.
Fico pensando que devia tê-lo poupado desse esforço todo. Agora vejo que não custava nada sentar junto a ele e ouvir sua parte da história. O Que aconteceu provavelmente não devia ter recebido a importância que eu coloquei sobre. Enquanto estava ali pensando que Tom exagerou nas desculpas, vi que foi eu quem exagerei em uma infantilidade sem tamanho.
Conforme eu encarava, ainda sem acreditar, o apartamento, Mel chegava no andar. Aproveitou o caminho até a porta e veio trazendo as coisas que haviam fugido das minhas sacolas: alguns ovos, umas latas de comida em conserva, um rolo de papel higiênico e o chuveiro que eu tinha resolvido comprar mais cedo. Parou do meu lado e deixou cair tudo de novo.
- Mas geeeeeeente! Julia, já não falei pra você esquecer essa história de Harry Potter! Primeiro a fantasia, agora as cartas, assim não dá! – falou quase que brigando comigo.
- Euuuuuuu? Mas... mas... não foi eu quem fez isso! Foi o Tom. Achei que você soubesse!
- Passei o dia fora, como eu ia saber?
- Então como foi que ele entrou aqui? – olhei-a, intrigada.
- Aahhh, ele tem uma chave daqui. Assim como eu também tenho uma chave de lá – apontou para o apartamento de Tom, atrás da gente – Resolvemos trocar cópias caso houvesse alguma emergência. Isso foi uma emergência? Espero que tenha sido. O Que há nessas cartas? – Disse, entrando no apartamento.
- Acredito que são pedidos de desculpas – disse eu juntando as coisas do chão e as levando para dentro junto comigo. – Falei para você que ele colocou uma dessas na minha mesa essa semana e eu joguei no lixo, bem na frente dele.
- Arrrrghhhh – bufou pra mim – como você é dramática. Eu tinha desistido das desculpas e te mandado para o inferno ali mesmo. Mas se ele insiste, então quer dizer que essa carta tem um conteúdo que vale a pena ser lido.
- S-Sim – disse meio constrangida pelas minhas atitudes. Apanhei um balão no ar, abri a carta e comecei a lê-la em voz alta.
Julia,
Sinto muito pelo que aconteceu. Nunca foi minha intenção te magoar. Também nunca pensei que você ficaria tão chateada pelo que houve. Em todo esse tempo você nunca demonstrou se importar tanto comigo ao ponto de cortar nossos diálogos por uma semana inteira depois de ter visto o que pareceu ser um beijo de amor. Não foi um beijo de amor. O Que ocorreu naquela noite foi uma sucessão de mal-entendidos. Fui em busca de dar uma explicação simples e clara para a garota da festa: não queria beija-la, não queria abraça-la ou sequer dançar uma musica com ela. Tudo que eu queria era me livrar daquela situação constrangedora em que Leonardo tinha me colocado e voltar para onde todos estavam, para onde você estava. A Garota não aceitou tão bem quanto eu planejava e resolveu me beijar, a contragosto. Tratei de me desvencilhar o mais rápido que pude e voltar, mas era tarde demais: você já tinha saído em desabalada fuga. Como tanta coisa pode acontecer assim em uma fração de segundos?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Querida Folha em Branco
Humor“Eu nunca colocaria pressão em você se não acreditasse no seu potencial. Trabalhamos juntos há quatro anos e sei que você escreve muito bem, só lhe falta inspiração. E você não irá encontrar a inspiração sem descobrir as novas histórias que a vida t...