Verdes campos, pássaros cantando, o céu limpo, tudo que é necessário para uma boa viagem, mas não daria uma história emocionante. Tive muita sorte de pegar carona com um fazendeiro indo vender sua colheita na cidade mais próxima, talvez lá eu encontre uma boa taverna. Só de pensar na cerveja descendo pela garganta me deixa de água na boca. E quem sabe possa fazer o que sempre faço.
O que faço, você pergunta? Eu conto histórias, tristes ou felizes, emocionantes ou calmas. Histórias sobre o que vi e o que ouvi, sobre o grande dragão e o pequeno camponês. Da bela vista do sol poente nos confins desta terra aos prados ensolarados de lugares além do alcance da vista sobre o mar.
Enfim meu trabalho é entreter aqueles que precisam escapar da realidade de suas vidas e descobrir as maravilhas e terrores deste mundo. Alguns me chamam de Viajante, outros de Trovador, mas a maioria me conhece como O Contador de Histórias.
Minha próxima parada é uma cidade relativamente grande, pertencente a um reino vasto e comandada por um nobre, surpreendentemente, honesto, algo bem raro por estas terras. Conhecida pela grande quantidade de aventureiros que fazem dela sua base de operações. Talvez eu encontre novos contos para adicionar ao meu repertório e com sorte ganhe uma ou duas cervejas como agradecimento por minhas falas.
- Tudo certo aí atrás? - Pergunta o velho fazendeiro.
- Claro, há tempos que não aproveito uma viagem tão tranquila! - Respondo-lhe.
Ele dá uma risada calorosa e fala:
- Bem. Espero que tenha aproveitado bastante, a cidade tá logo a frente e a gente se separa ali.
Finalmente, dois dias de viagem, nunca reclamei de dormir ao relento, mas uma cama com colchão faz milagres pros ombros de um viajante. Chegando no portão da cidade noto que a quantidade de aventureiros é bem maior do que eu imaginava. Elfos, anões, minotauros, demônios? A variedade é impressionante. Alguns carregam armas gigantes e armaduras extremamente pesadas, outros simplesmente carregam um livro e nada mais, tem até aqueles que não tem nada consigo. Mas uma coisa une a todos eles, o desejo por aventuras e riquezas.
Despeço-me então do homem com o qual compartilhei a viagem, boa índole, espero que sua colheita o consiga o dinheiro necessário para passar o inverno, sua filha mais velha tinha a inclinação para ser que nem um destes aventureiros, a curiosidade dela era insaciável, creio que se tivesse permanecido mais tempo lá ficaria sem histórias para contar. Meus pensamentos vagaram novamente, como sempre, hora de entrar na cidade e achar uma taverna.
A fila de pessoas para inspeção é pequena, não vai passar muito tempo. É interessante notar como outra pessoas interagem com situações como essas. Aventureiros acham um empecilho, mercadores não gostam muito de mostrarem suas cargas, cidadãos, apesar de odiarem a burocracia, são agradecidos pela relativa segurança e os tipos não tão bem-vindos na sociedade tentam de toda forma evitar serem pegos.
Finalmente minha vez, o guarda me interroga como fez com os outros e lhe respondo sinceramente, minha passagem é garantida. Apesar de não ter nada a esconder ainda fico nervoso em situações assim. Hã!? O que foi isso? Parece que tem uma comoção em uma das outras entradas, alguém que estava sendo procurado talvez. Infelizmente o cansaço é maior que minha curiosidade neste momento, uma pena, talvez fosse uma boa história, mas meu corpo anseia por uma boa cerveja e uma cama confortável.
Dez minutos caminhando e algumas indagações aos moradores me trouxeram pra cá, "Taverna Do Corvo Cego", imagino que o dono, ou dona, nunca tenha conversado com os corvos do leste, os desgraçados enxergam melhor que um gato, e falam mais que uma gralha, mas essa é uma história para outra hora. Entro no lugar, bem aconchegante, uma lareira ilumina e aquece o ambiente e logo a frente da entrada encontro o balcão.
Cumprimento a mulher que se encontra atrás dele, e peço um quarto. Ela me cobra um valor meio alto, 2 moedas pela noite e por uma caneca de cerveja, mas como bom consumidor eu pago. Pergunto se existe alguém que tenha histórias para contar por ali ou que queira ouvir alguma. Ela aponta para um grupo de aventureiros, aparentemente iniciantes pela idade, um humano pelos seus dezesseis anos, uma elfa que ainda tem um olhar de curiosidade sobre tudo e um anão com uma barba rala demais pra ser mais velho que uns trinta anos.
Agradeço a moça e me aproximo do grupo, eles me olham com suspeita e curiosidade e falo:
- Boa tarde jovens viajantes! Vocês gostariam de ouvir uma história?
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As Crônicas de Eloran
FantasyUm conjunto de pequenos contos e crônicas situados num mundo fantasioso chamado Eloran, contados do ponto de vista de alguem denominado O Contador de Histórias.