CAPÍTULO ÚNICO

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Roma - Ano 101 D.C.

Acordo com o barulho do mercado; hoje é um dia cheio, mais cheio do que o normal, talvez. Mesmo ouvindo o ensurdecedor barulho do local e das pessoas indo e vindo e barganhando, estou com dores por todo o meu corpo trêmulo, e meus olhos estão pesados de sono. A preguiça me segura na esteira dura por mais algum tempo até que...

— LUCIUS! — Uma voz feminina interrompe o estado preguiçoso no qual me encontro. — Acorde, seu garoto preguiçoso! O seu pai já está trabalhando duro na casa do patrício e você aí, dormindo!

Essa é Lucrétia, a minha tia, mas que é como uma mãe para mim. Ela tem cerca de 32 anos, e parece ser uma mulher submissa e fiel ao marido (se fosse casada), mas apenas aparenta ser. Na personalidade, é forte e determinada, mas é uma boa pessoa. Ela puxa os lençóis enquanto grita comigo, e abre a janela, fazendo com que a luz do sol entre no quarto de vez.

— Argh! Tia! Vamos, me deixe dormir mais um pouco!

Protejo meus olhos com a palma das mãos de forma um pouco dramática enquanto Lucrétia me sacode. Por fim, ela me vence.

Bufo.

— Já estou indo, Lucrétia.

Me arrasto para fora da esteira e mastigo um palito de dente para manter a boca e os dentes limpos. Meu cabelo loiro e longo até os ombros está sujo, então pego um balde com água e, com as mãos em concha, levo boa parte da água até o cabelo, deixando escorrer. Esfrego com força, até achar que estou pronto.

Saio de casa. A rua está realmente cheia, e, ao ver tanta comida enquanto ando, sinto minha barriga roncar.

PELOS RAIOS DE JÚPITER! FIQUEI TÃO APRESSADO QUE ESQUECI DE COMER!

Tento relaxar, mas simplesmente não consigo. Então tenho uma brilhante ideia: Quando alguém estiver distraído, pegarei um bom punhado de trigo e comerei, e, assim, irei matar a mimha fome. Quando estou prestes a fazer isso, alguém me assusta:

— Vai roubar, Lucius?

É o pior inimigo que alguém pode ter: Marco.

— Não, Marco. Estou satisfeito.

— Satisfeito? Como você pode estar satisfeito?! Soube que você não come nada desde ontem. Como você pode aguentar?

— Do mesmo jeito que você aguenta a burrice.

— Ora, seu...!

Corro pelo mercado. Salto animais que serão vendidos, valas abertas e carroças. Tudo para escapar da fúria de Marco. Chego à casa do patrício, que é enorme e linda. Meu pai é artesão, e, ao mesmo tempo, agregado do patrício, o que faz com que ele trabalhe para o mesmo.

Reconheço meu pai, vou até ele e o abraço. Ele parece um pouco surpreso pela minha chegada, mas para um pouco o serviço para me cumprimentar.

— Lucius! — Exclama ele.

Não posso deixar de sorrir ao vê-lo: Não que ele seja um pai ausente, mas sua presença me traz paz. Uma paz de espírito que não consigo explicar.

Acho que seja pelo fato de que me pareço com ele: Com cabelos loiros, olhos verdes levemente azulados, um sorriso belíssimo e com covinhas. Alto, musculoso e simpático, arrancando suspiros das escravas e servas por onde passa. Até hoje não entendo o motivo de minha mãe ter abandonado meu pai. Acredito que fosse porque, na época, éramos mais pobres do que atualmente, e ela era uma mulher ambiciosa, por isso nos abandonou. Às vezes, olho para as estrelas e desejo que ela estivesse aqui, mas atualmente gosto mais de Lucrétia do que minha mãe de verdade.

— O que está fazendo aqui? Era para você estar brincando com outras crianças, e não aqui!

— Minha tia me mandou ajudá-lo. Não é justo que eu brinque enquanto o senhor trabalha duro.

Ele sorri e afaga meu cabelo.

— Bom menino, Lucius. Agora vamos trabalhar.

Trabalhamos até a hora do almoço, quando voltamos para casa. A comida é simples, mas muito boa: Carnes frias, frutas e legumes.

Voltamos ao trabalho logo depois, dessa vez na pequena olaria do meu pai. O trabalho é menos cansativo do que para o patrício, mas, pelo simples fato de meu pai estar ali, já me sinto mais leve. Detestaria se, por exemplo, estivesse no Coliseu. Odeio sangue, além de não me sentir bem ao lado de pessoas que não conheço. Por outro lado, amo a olaria do meu pai: Tudo é tão calmo, e são tantas pessoas indo e vindo que já relaxo um pouco.

Acabo adormecendo.

Quando acordo, já é noite. Abro meus olhos (um castanho e outro violeta), e balbucio:

— Já vamos embora?

Meu pai está atendendo o último cliente, e faz um discreto sinal para que eu espere mais um pouco.

Voltamos para casa algum tempo mais tarde. Lucrétia está esperando com a ceia: Pão.

Logo após a ceia, conversamos um pouco e vou dormir.

Então me deito na esteira dura, me viro para o lado, olhando as estrelas e pensando até pegar no sono. Meu único pensamento é: Que dia maravilhoso!

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