Capítulo 9

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Olha com quem a Sofia saiu ontem – disse Cristina mostrando uma foto para Danilo, que estava mexendo no notebook.

Ele olhou a foto com certo desprezo, pensou que seria impossível realizar um de seus sonhos: ter uma família. Fechou os olhos discretamente, dizendo para Deus não deixar que nenhum sentimento entrasse em seu coração, pois não queria pensar mais em se relacionar com ninguém.
Pegou seu saxofone com uma profunda saudade de tocar. Havia um tempo que não se deixava invadir pela música. Tocou a primeira nota, depois a segunda e todas vieram como uma lembrança bem distante. Tocava “Quão grande é o meu Deus” de uma maneira que lágrimas rolaram em seu rosto.

⎯ Que saudade eu estava de ouvir tu tocar disse Fernanda. A mãe tinha parado na porta do quarto e observava aquela cena com o coração cheio de gratidão.
⎯ Não consigo nem falar... – disse Cristina aos prantos.
⎯ Preciso sair – disse Danilo, deixando o  sax  em cima da cama. O rapaz se dirigiu até seu carro. Sentia dificuldade de entrar, seu corpo parecia mais pesado que o normal. A mãe e a irmã não o seguiram, apenas deixaram ele sozinho.

Dirigiu sem rumo, mal conhecia a cidade.

⎯ Meu Pai... Meu Deus... O que eu tenho de errado? Não estou te pedindo para ser curado. Não quero, mas é tão difícil olhar ao meu redor e ver que as coisas parecem tão impossíveis para mim – se lamentou, enquanto dirigia.

Parou em um parque, olhou a sua volta e viu o quanto era pequeno e frágil. E mais, dependente de amor, não que não o tivesse.
Não quis descer do carro, apenas ficou ali encostado no banco do carro com os pensamentos distantes. Alguém bateu na janela. Levou um susto e baixou o vidro.

⎯ Oi, Danilo! É o Caio da igreja. Está tudo bem? – disse apertando os olhos para analisar o rosto dele.
⎯ Lembro de você. Está tudo bem, obrigado – disse tentando não dar assunto.
⎯ Tem um pessoal aqui. Quer se juntar? – perguntou, tentando ajudar Danilo a se entrosar.
⎯ Estou indo embora, mas agradeço o convite – disse, com a mão na chave.
⎯ Já está convidado para o próximo – disse Caio, acenando.

Danilo não conseguiria ficar entre muitas pessoas naquele momento. Seu coração doía e tudo parecia sem

sentido. Ele não pensava apenas em Sofia, mas também em seus sonhos, que pareciam não sair do papel e dos pensamentos. Foi para casa em silêncio. Ao chegar, encontrou a irmã.

⎯ Dan, me perdoa se a foto... – disse Cristina tentando se justificar. Ela estava arrependida.
⎯ Cris, você é a melhor pessoa desse mundo. Você e a mãe são as mulheres da minha vida – disse sorrindo para a irmã que o abraçou. Ambos se olharam comovidos de compaixão.
O dia fora tão nublado que não conseguia falar com Deus. Esse era como um daqueles dias em que você acorda parecendo ser a pessoa mais sem sorte do mundo. Aquela pessoa que apenas traça planos, mas nunca os realiza. É o dia em que as nuvens cobrem seus olhos e tudo o que consegue ver é o cinza, ouvir os trovões e sentir a tempestade saindo pelos olhos. Então, você deseja apenas adormecer e esquecer que esse dia existiu. Mas é nesse dia que Deus faz você lembrar quando o sol parece te dar bom dia e as coisas parecem caminhar, porque era naquele dia, quase insuportável, que Ele te deu forças. O amor do Pai te constrange porque você nunca poderá ser grato o suficiente.
Danilo pegou o saxofone novamente, tocou A música, aquela que fazia ele conversar com Deus tocando:
“Perto quero estar, junto aos teus pés, pois prazer maior não há que me render e te adorar...”

Apenas Sinta - DEGUSTAÇÃO ♡Onde histórias criam vida. Descubra agora