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Eu tenho um pesadelo

em que eu viro um dêmonio 

com uma lente de contato sinistra

e um pesadelo pior começa

 quando eu acordo

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Eu tremia de algo que era entre um calor insuportável, como se eu tivesse sido lançado em projetil diretamente para as profundezas do Tártaro, e um frio excruciante, como se tivessem me colocado de roupa de banho no polo norte para brincar com os filhotinhos de ursos polares cujos papais e mamães arrancariam minha cabeça. Minha cabeça doía absurdamente, e minha garganta estava em chamas, embora não literalmente. Minha boca tinha um gosto metálico que eu conhecia por sangue.

Sentia um peso de toneladas nos meus ombros, algo horrível e assustador, e eu queria acordar mais do que tudo, porém, como nos piores dos pesadelos, eu não acordei. Um demônio estava na minha frente, e eu sabia daquilo. Só não conseguia vê-lo, mas eu sabia que se visse, eu iria ficar horrorizado. Meus olhos estavam fechados, e eu não era burro. Eu estava na frente de um demônio. Eu não queria vê-lo.

"Θα ξαναδούμε.". Nós nos veremos novamente. Não, nem ferrando, minha mente pensou, e fechei os olhos com mais força. Minha garganta estava erguendo uma bandeira branca, e senti como se estivesse tentando falar com a boca cheia de pó quando tentei.

"Τί στο διάολο είσαι? ". O meu eu-sonho sabia que deveria falar em grego. Era uma pergunta simples, e mesmo eu não vendo a coisa, eu queria saber. O que diabos é você? Senti uma mão fria no meu rosto, segurando, forçando a olhar. Abri os olhos a tempo de ver a mim mesmo, um moleque alto e forte para a idade de catorze anos, com cabelos loiros e olhos com alguma lente de contato medonha, uma cicatriz distorcendo sua face, uma espada na mão, mas definitivamente, eu. Eu. Um Monstro.

"Εμείς.". Nós.



LEVANTEI COM UM GRITO, querendo correr e chorar e me encolher em posição fetal, tomar um chocolate quente, ganhar um abraço de Thalia e Annabeth e morrer, não necessariamente nessa exata ordem. Minha testa doía, eu estava fedendo a só-os-deuses-sabem-o-que – uma mistura de queimado e sangue e roupa suja e corpo sem tomar banho, batido em uma batedeira divina com uma pitada de cheirinho de Mundo Inferior. Eu desmaiei, inútil, inútil, inútil! Isso mesmo, seu estupido, deixe Thalia e Grover para cuidar da sua bunda inconsciente e de uma Annabeth assustada, bocó. Quando senti uma mão no meu peito, me contendo, notei que estava deitado em um colchão.

Conseguimos?

Forcei minha visão a clarear, e embora ainda tivesse alguns pontinhos pretos parecidos com pixels na frente da minha visão, eu via um lugar cheio de camas com cortinas e banquinhos e objetos médicos, como ataduras e vi algumas gazes esterilizadas e essas outras coisas que eu as vezes roubava de farmácias para Thalia e Annabeth. Tentei tocar minha testa para notar que meu braço estava imobilizado com uma tala, mas com a outra mão consegui arrancar um band-aid rosa choque com um desenho da boneca Barbie, o que fez com que um fio de sangue pingasse por cima do meu olho. Estava com um lapso na memória. Algo estava faltando, certeza. Só sabia que era sério.

— Hey, Hum... Luke? — Me virei no momento em que vi uma moça loira entrando no lugar. Ela usava uma camisa laranja regata e shorts jeans, e minha primeira impressão era que ela era uma filha de Afrodite. Os cabelos loiros caiam em cachos delicados, diferentes dos de Annabeth, e ela realmente parecia de porcelana. Tinha um sorriso simpático, e me perguntei pela quinquagésima vez onde estariam Annabeth e Thalia e Grover. — Como você está? Ficou desacordado por quase dois dias? — Ela se sentou no banquinho ao lado do canto da cama, e limpou o sangue na testa com o polegar, e por algum motivo, segurou minha mão, como se estivesse esperando eu cair em prantos em um ou dois segundos.

𝐀𝐏𝐇𝐑𝐎𝐃𝐈𝐓𝐄'𝐒 𝐂𝐔𝐑𝐒𝐄Onde histórias criam vida. Descubra agora