Prólogo

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Era de manhã, o sol entrava pelas frestas da janela, pássaros cantavam e o casteloacordava. Encarei o teto por um tempo, as velas já quase no final queimando, a brisagélida de um final de inverno, a neve já tinha ido a muito tempo, só um vento geladoinsistia em ficar. Forcei-me a levantar, sabendo que hoje deveria voltar para casa.Sabendo que hoje acabava meu conto de fadas. Vesti minha roupa, um vestido de lã verdeolívia, muito bonito e acentuado. Adorava o estilo antigo da Inglaterra. Tão diferente daminha casa, do meu mundo, que era tão avançado. E peculiar. Trancei meu cabelo e vestia capa por cima. No castelo do meu pai tinha que tomar cuidado com a cor dele, cuidadoporque a caça às bruxas estava a todo vapor. Coitadas das mulheres que queimavam nasfogueiras, a maioria só eram estudiosas da ciência, sem uma gota mágica no sangue. Acor incomum do meu cabelo atrairia problemas.Andei até os aposentos do meu pai, com vários e vários guardas e empregadoscumprimentando ao longo do caminho e se perguntando porque eu insistia em andarsozinha, sem uma aia comigo. Como se eu quisesse mais uma fofoqueira para conversarsobre a minha vida.Meu pai era um homem muito bonito, cabelos negros e olhos azuis, sorriso fácil emuito branco para alguém que nem conhecia o flúor ainda. Vestido elegantemente devermelho e preto, completamente absorvido na conversa com sua "adorável esposa". Elaera do tipo "doce" para a maioria das pessoas. Cabelos loiros que lhe passavam umaimagem angelical, pequena, e magra. Meu irmãozinho brincava no chão com umsoldadinho de madeira. Ele era uma criança fofa, com bochechas grandes e gordas, olhosazuis do meu pai e as sobrancelhas da mãe. Tão diferente de mim.
- Alicia querida! Bom dia! - meu pai sorriu muito a me ver, ele sabia que hoje era meu dia de ir para casa. - caiu da cama hoje?
- bom dia papai. - Elizabeth me deu um sorriso fácil e simples, o seu favorito paramim, acenei com a cabeça. - hoje eu tenho que ir, e eu acho que vou demorar para voltar dessa vez.
Meu pai tirou os olhos de Elizabeth e os colocou em mim, umas rugas depreocupação em seu rosto.
- Você sempre passa seus períodos de descanso aqui em casa. O que vai ser diferente esse ano? - meu pai tinha uma mania de apertar o maxilar quando estavapensando, principalmente quando estava começando a ficar intrigado.
-Bom, é meu ensino médio - Elizabeth revirou os olhos, na Inglaterra do século XV não existia ensino médio, e ela nem fazia a menor questão de entender o que era. - É um período escolar, de estudo, muito importante. Ele dura três anos. E mesmo existindo o descanso, provavelmente vou ser iniciada no trabalho da família da minha mãe... Então é complicada a ideia de voltar.
- Por três anos? - meu pai seguia incrédulo, e Elizabeth parecia que não se decidia em ficar muito feliz por isso ou muito indignada porque meu pai estava realmente chateado com isso. Sendo assim ela fez uma cara de "não entendo porque esse alvoroço"e voltou a prestar atenção no bordado. - Vamos ficar três anos sem te ver?
- Talvez não três anos inteiros... Mas vai ser menos tempo. Desculpa. Você conhece a mamãe, ela é difícil. - Na explicação mais fofa possível.
- Ela é complicada e egoísta e muito muito muito controladora isso sim. - as palavras eram de críticas, mas a expressão era de admiração, Elizabeth revirava os olhos. - você deve ir mesmo hoje?- Ao menos que você queira que ela venha me buscar em pessoa.
- Era uma piada,mas fez com que minha madrasta ficasse pálida e me lançasse olhares perigosos e meu pai esboçasse um sorriso.
- Acho melhor evitarmos a tragédia, esse castelo tem que estar de pé pelos próximos séculos se quisermos fazer parte da história! – riu um pouco, sem graça.
Respirei fundo e tentei gravar aquela cena, minha não tão adorável madrasta bordando, meu irmãozinho alheio a tudo brincando e meu pai, passando a mão na barbapensativo. Não sabia quando voltaria, mas não seria breve. Nunca seria.

                                  ***

Eram duas da manhã, meu pai me abraçou com força e cobriu minha cabeça com acapa, eu encarava aquela porta, encarava aquilo e pensava, depois que eu passar por ela,vai ser como se ela nunca estivesse aqui antes.
- Alicia, mande lembranças nossas a sua família. Por favor. – Elizabeth sorriu e apertou meus pulsos - Boa sorte com a sua educação, se quiser eu te ensino a bordar da próxima vez que vir. - Todas as nossas despedidas, desde que ela se casara com meu pai eram assim. Ela me oferecia aprendizado com linha e agulha, e eu recusava amigavelmente. Não era esse o tipo de educação que recebíamos.
Abracei meu irmãozinho de cinco anos com força, ele era um pedacinho importantemeu, uma parte humana e doce que eu queria guardar para sempre.
- Alicia você vai me trazer outro soldadinho? - os olhos azuis dele brilhavam como duas joias.
- Vou trazer um pelotão deles para você! - abracei o pela a última vez, sorri para meu pai. Respirei fundo, abri a porta, o cheiro de orvalho da madrugada invadiu-me e ogosto de outra era, a sensação de outro mundo também. Pisei na grama fofa e úmida,olhei uma última vez para a outra parte da minha família que deixaria para trás e fechei aporta, que como eu tinha dito, desapareceu.
A minha frente a mansão Le'blanc seestendia.

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⏰ Última atualização: Jun 26, 2020 ⏰

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Entre luz e sombras - Escarlate - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora