Memórias

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Lembre de mim

Hoje eu tenho que partir

Lembre de mim


— Quem é você?! — a garotinha de apenas três anos de idade perguntou ao homem que a segurava em seus braços.

Ajeitando os óculos, ele abriu um largo sorriso de orelha à orelha e a respondeu. No entanto, devido à gritaria das outras crianças que corriam de um lado para outro ao seu redor, ela foi incapaz de ouvi-lo.

— Não consigo te escutar...

A menina se aproximou ao vê-lo movimentar os lábios em resposta, porém novamente a sua voz não a alcançou. Por mais que ela se esforçasse, não conseguia compreender o que o homem dizia.

— Eu não consigo te escutar! — gritou em seguida.

Naquele instante, o cenário à sua volta começou a desaparecer gradativamente, assim como as crianças escandalosas que brincavam ali. Perturbada com a situação, inevitavelmente a menina fechou os olhos ao lacrimar e, quando voltou a abri-los, todos já haviam desaparecido por completo, incluindo aquele homem misterioso que anteriormente a carregava no colo.

De repente, ela se viu perdida e sozinha em meio a um local bonito, tranquilo e arborizado. Num primeiro instante não reconheceu o lugar, porém, ao deparar-se com uma pedra fincada na grama do solo, logo compreendeu onde estava. Assustada, andou hesitante até a lápide à sua frente para ler o nome nela contido.

"Maes Hughes

1885-1914"

Seu coração deu um pulo e, no mesmo instante, o chão aos seus pés começou a se mover, deixando-a cada vez mais distante da lápide. Inutilmente a criança correu em direção à ela, tentando diminuir aquela crescente distância, mas não conseguiu.

Sentindo-se sufocada, percebeu que o seu entorno havia se convertido numa completa e macabra escuridão.

— Papai! — gritou a plenos pulmões ao ver a pedra desaparecer no horizonte.

De repente, um forte estrondo ressoou e, assustada com o som, Elicia Hughes pulou da cama num sobressalto, conforme rastros de lágrimas escorriam pelo seu rosto.

— Feliz Aniversário!

Debruçada sobre ela, Gracia Hughes, sua mãe, disse segurando um lança confetes recém-estourado. Com o coração acelerado, Elicia olhou para os lados, notando que metade dos papéis coloridos haviam se espalhado por todo o seu quarto, e a outra parte estava emaranhada em seus volumosos cabelos castanhos.

Ao notar que a garota estava paralisada em choque, a mãe franziu o cenho preocupada.

— Desculpa querida, te assustei com o barulho da explosão, não é?

— Um pouco, mãe. Mas não tem problema.

Sem perceber que a filha lacrimejava, a mulher não se conteve de emoção. Jogou-se em cima de Elicia num abraço apertado e a acariciou soluçando aos prantos.

— Nem acredito que você já está fazendo dezesseis anos! Ainda ontem era o meu bebê. Minha pequena Elicia...

— Calma mamãe — ela retribuiu o abraço tentando tranquilizá-la — Não precisa chorar em todos os meus aniversários.

— Mas eu não choro em todos...

— Chora sim! — Elicia a interrompeu — Chora de manhã, à tarde, durante os parabéns e até mesmo enquanto come o bolo.

Lembre de mimOnde histórias criam vida. Descubra agora