Depois de perder a casa e ver seus irmãos sendo levados pelo Conselho tutelar, o passado de Blanche vem a tona. Quando ainda era bebê ela foi raptada pelo próprio pai, agora ela terá que encontrar um jeito de pegar sua fortuna sem ter que se casar...
A cortina esvoaça com a brisa que entrava pela janela, Blanche encarava o ato com inveja, desejando que a aparente tranquilidade e elegância entrasse pelos seus poros e tomasse o lugar na confusão de sua vida.
Altamir se virou mais uma vez na cama, Blanche esperava que pelo menos ele tivesse bem em seu lugar secreto da mente.
- Oi,pai! Como você está?
Ela perguntou, sabendo que não receberia nenhuma resposta.
-Eu, recebi a visita de um dos seus sócios ontem. Seu sócio me fez uma proposta, quer ouvir? É, acho que você deveria ouvir. Ele quer que eu seja "namorada "dele, se é que entende.
Ela franziu o semblante que aos poucos se transformou numa careta de repulsa:
-Eu, fico me perguntando como existem garotas que conseguem romantizar isso. Sabe sei lá, você ter que dormir com um cara que você não gosta...É como ser abusada todos dias, isso é tão doentio.
Encarou o pai que permanecia contemplando o nada e riu como se ele tivesse feito um gracejo:
-Não tem como não concordar comigo!Nem adianta tentar!
A garota ficou em silêncio e continuou observando o ambiente, apesar de ser um asilo de saúde mental era um lugar melhor do que estar nas ruas ou vivendo de favor. O dinheiro que gastavam ali daria para morar numa casa de aluguel, comeriam o básico e teriam algumas dívidas, caso decidisse não deixar de comprar os medicamentos do tratamento, mas duvidava que os ex sócios da ex empresa do pai se sujeitariam a essa ideia tão fácil, o nojento do Eduardo tinha deixado clara as condições.
-Ah é, tenho uma notícia não muito boa, antes de ontem o conselho tutelar esteve lá em casa e levaram a Sara, a nossa pequena. A gente sabe que... eles vão ter mais chances assim...
Blanche pigarreou, tentando limpar a voz embargada.
-...é eu fiquei assim como você, sem reação, eu não podia fazer nada. Faz um tempo que vinha preparando todos eles para quando isso acontecesse, apesar disso nunca se está pronto para quando acontece. Se sua esposa não os tivesse abandonado... Ela não era uma pessoa ruim, só não suportou tudo isso. Queria saber se ela era tão boa quanto minha mãe, por qual motivo ela nos deixou ou se você que fez ela ir embora.
Encarou o pai que permanecia vazio e não conteve soluço tapando a boca para que ninguém ouvisse seu vergonhoso momento de fragilidade, ela suspirou profundamente secando as lágrimas com a manga da blusa.
- Eu tenho que ir! Ah, eu já ia me esquecendo, tomara que não seja o Alzheimer, o seu é precoce mas tomara que não exista um mais adiantado que isso. É só que o Eduardo prometeu que a empresa vai continuar pagando sua hospedagem, mesmo sendo seu dinheiro e eles tendo te roubado.Que legal da parte deles, não é?!
Blanche estava saindo mas deu meia volta e apontou o dedo na cara do pai que a olhava confuso:
-Porque você fez isso? Você acabou com a gente, sabia?! Colocou tudo no nome deles, nem a casa era nossa de verdade, eu não entendo. Por favor, pai me diz alguma coisa...eu estou completamente ferrada .
Ela curvou a cabeça sobre o peito de Altamir, respirou em agonia desejando que o pai se curasse por um milagre, então levantou, deu um beijo demorado em sua testa e se despediu .Como que suas preces fossem atendidas, num instante de lucidez Altamir a segurou pela mão com força:
- Blanche? minha filha, você precisa voltar para Kuscamo. Eu te levei embora quando você era ainda um bebê, foi preciso. Sua família está te procurando, não quero que fique sozinha, eu sinto tanto. Não tenho mais o controle sobre mim,eu errei...Filha, me per...
-Pai! papai, você está alucinando?
- ...Você tem direito naquilo por parte de sua mãe, ajude nossa família. Você pode, é uma princesa!
- Pai, do que esta falando? Pai?
Antes que conseguisse mais respostas ele largou seu braço expressando seu habitual olhar distante, retornando a suas lembranças de criança:
- Por favor, moça pode chamar a senhorita Sofia ? Precisamos estudar agora.
O estremecimento percorreu o corpo dela vendo seu pai se ir outra vez, escondendo se na névoa da mente.
- Claro, fique aqui que eu vou chamar. - Ela beijou carinhosamente sua bochecha e foi embora.
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