Capítulo 3

44 2 0
                                    

Sinto a dor. 

Permito novamente que as lágrimas corram. Já nem sei mais  a qual sentimento pertencem, talvez um misto de ódio e tristeza.  Não consigo compreender o motivo de todo o sofrimento a qual eu e muitos outros fomos submetidos. O que levaria alguém em sã consciência fazer tais coisas, que tipo de plano ridículo foi esse? A crueldade humana ultrapassa todos os limites.

Mesmo com a explicação de Lawrence, algumas dúvidas ainda rondam minha mente. O que aconteceu com as outras  pessoas? Quantos sobreviveram, e como estão hoje? Onde estão? Pensando nisso, ainda não faço a mínima ideia de onde eu estou. 

Um  raio corta a escuridão celeste, seguido de um estrondoso som de um trovão, no instante em que olho para fora. Gotas de chuva se misturam umas as outras na janela. O uivo cortante do vento penetra em meus ouvidos, desviando meus pensamentos. Sinto a brisa provocada por ele passar pelas estreitas frestas da janela, me atingindo e provocando calafrios. Fecho a cortina e caminho em direção ao sofá.

O livro que Lawrence havia me entregado antes está ali, aberto em uma página qualquer. O ambiente aconchegante torna a leitura agradável, mas tenho medo do conteúdo destas páginas. Relutante, começo a passar os olhos pelo conteúdo. 

Manchetes de jornal anunciam o começo de uma epidemia cruel. O assunto se tornava mais popular a medida que o tempo passava, a doença ceifando a vida de milhares. A pergunta era: até quando? Em tom de boas novas, surge o anúncio da criação de "uma entidade que pode erradicar o problema", a Shadow's Corporation.  

Aos poucos, as notícias assumem um tom desesperançoso. Com o silêncio da Shadow's, a América se viu sem saída. Os jornais não somente deixam de tratar sobre o tema, mas também sobre qualquer outro: anunciam sua parada. Recomendam a todos que se refugiem em centros de quarentena, e então somem. 

O rosto desfigurado de um homem me faz dar um pulo quando viro a página. Lacerações cobrem sua pele ensanguentada, seus olhos distantes e sombrios encaram o vazio, e sua boca escancarada pende para o lado. Isso é o bastante para me fazer largar o livro.

Caminho até um pequeno espelho. Encarando meu próprio reflexo, suspiro profundamente, buscando me acalmar e então esquecer a imagem daquele homem. Isso não pode ser real. É um pesadelo bem ruim, isso não pode ter acontecido. Começo a pensar que apesar do sofrimento que enfrentei na Casa, o lado de fora poderia ser pior. 

Não é possível que não exista uma solução para tudo isso. Precisa existir. Condeno a Shadow's novamente pela sua desistência e sua ganância. Nos tratar como ratos de laboratório, realizando experimentos cruéis e banais, enquanto milhões de pessoas morrem, acreditando que algo poderia ser feito em breve? A atitude desumana me enoja, me enche de ódio. 

Sinto minha raiva à flor da pele. Cerro o maxilar e os punhos. O mínimo que esses desgraçados merecem é a morte. O que fizeram precisa ser exposto o mais rápido possível. 

Minha mente se torna incrivelmente fértil . Imagino diversas formas diferentes de matá-los agora mesmo, se pudesse, retribuindo o sofrimento que causaram a tantas pessoas. 

Garanto a mim mesma que tais planos se tornarão realidade o quanto antes.



O Outro Lado da SombraOnde histórias criam vida. Descubra agora