Nossa história

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A primeira vez que te vi você usava um vestido vermelho. Você corria pela grama e sua mãe reclamava preocupada que você fosse se sujar. Você ria e simplesmente não ligava. Seu sorriso era a coisa que eu mais gostava em você.

Tínhamos 7 anos e nos gostamos de cara, lembro-me de você vindo até mim e me oferecendo uma flor. Você sempre foi uma conquistadora. Naquela semana do casamento do seu irmão, brincamos muito e nos prometemos que seriamos amigas para sempre.

Mentimos.

Depois que aquele casamento acabou eu voltei para o meu Espírito Santo, e você continuou na sua querida São Paulo, mas tudo bem, fiz outros amigos e também fizemos juramentos mentirosos.

Com 14 anos você veio para minha casa, você não era mais tão legal assim. Talvez fosse o fato de você ter ficado com ciúmes de como sua mãe me elogiava. Você também não gostou do fato do seu irmão mais velho dar em cima de mim. Naquela semana, diferentemente dos nossos 7 anos, nos prometemos o ódio eterno.

Mentimos.

Com 17 anos você passou na faculdade de moda, logo previ, patricinha do jeito que você era. Eu, ao contrário de você, era a menina que andava com os moleques da rua e jogava bola.

No ano seguinte eu também entrei em uma universidade, e por acaso, a mesma que a sua. Nossos pais acharam uma boa ideia que fossemos morar juntas. Odiei. Dividir apartamento com você era um tormento, você deixava tudo bagunçado. E eu sempre tinha que arrumar.

"Porra, Rafa, para de deixar papel espalhado pela casa!"

"Gizelly, da pra você colocar um fone de ouvido?"

"Rafaella, você ainda não lavou a louça?!"

"Porra Gizelly, você acabou com a água quente."

"Rafaella, você comeu minha torta?"

Brigas e mais brigas. Todos os dias o nosso ódio era cada vez mais alimentado, mas quando nossas mães perguntavam, morar junto era super legal. Fazíamos aquela cena pela amizade das duas. Nisso podemos concordar, a felicidade delas sempre esteve a frente da nossa.

Mas essas brigas eram pequenas comparadas as brigas sobre namorados. Você cismava em levar seus namorados para casa e eu era obrigada a escutar coisas que não queria, ou ver homens de cueca pela cozinha na manhã seguinte.

E quando eu levei minha primeira namorada para casa, descobri em você uma grande homofóbica. Realmente, nossa promessa de ódio eterno quase se tornou real. Se não fosse pelo Guilherme...

Lembro-me do exato dia em que chegou chorando, de primeira não liguei, você sempre fora dramática. Mas o choro repercutiu por dias e noites a fio, e então eu te abracei. Você estava frágil, triste, não ligava mais para os padrões de estéticas que a sociedade exigia. Eu comecei a ficar preocupada com você, então passei no mercado antes de ir pra casa, e comprei todas as porcarias que você amava. Quando cheguei em casa entrei no seu quarto, lembro-me que você estava tão triste que nem queria brigar por isso. Me sentei ao seu lado na cama e lhe entreguei uma colher antes de abrir o pote de sorvete de morango.

Eu sempre arrumava a sua bagunça, inclusive a bagunça do seu coração.

Depois daquilo as coisas mudaram. Voltamos a construir uma amizade e eu passei a ser sua confidente. Passamos a viver em um equilíbrio de brigas e risadas, danças bobas em meio ao apartamento, histórias memoráveis em boates, ressacas compartilhadas no banheiro. Posso até dizer que nos tornamos melhores amigas.

Éramos uma dupla bem estranha, mas em meio a nossa estranheza, nos tornamos perfeitas uma pra outra. Quando eu tinha prova na faculdade você fazia lanches pra mim, pois sabia que eu não comeria. Quando algum homem quebrava seu coração eu comprava sorvete. Quando eu estava de TPM, você fazia brigadeiro, quando você estava de TPM, bom, eu fugia. Até hoje tenho medo de você na TPM. Mas eu abastecia a geladeira com chocolate antes de fugir.

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