Conflito (III)

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A manhã daquele dia tinha sido agitada, o grupo teve pouquíssimo tempo para se arrumar e tomar café, o desafio era maior quando não paravam de ouvir de um treinador estressado um "vamos logo!" em intervalos de 10 segundos.

Foram andando até o ginásio, que o treinador antes disse que não ficava tão longe, mas não disse que esse "não tão longe" levaria uns 30 minutos de caminhada, felizmente o grupo tinha preparo para caminhadas, coisa que não podia se dizer de Ford, que a cada 5 minutos parava para pedir um copo d'água em algum estabelecimento próximo.

Ao chegarem no local, os jovens guardaram suas bolsas que estavam levando consigo e se dirigiram até a área na qual estava os equipamentos e a arena em que se desenvolveria o campeonato do dia seguinte. O treinador Ford estava conversando com um homem de, aparentemente, 70 anos (ou talvez mais) quando os garotos colocaram o pé na arena. 

Tinha muita gente se alongando num canto, fazendo umas manobras em outro e outras utilizando os equipamentos da arena para darem piruetas e conseguirem pousarem de pé no chão.

- É bem maior do que eu imaginava. - Soltou Hans de trás do grupo.

- Sim! Isso é enorme. - O menor asiático disse antes de que Lorenzo pudesse dizer a mesma coisa.

- Gente... tem uma moça vindo na nossa direção. - Avisou Enzo antes do resto do grupo virar a cabeça para encontrar uma mulher morena com o cabelo amarrado, de top preto e tênis de corrida parada em frente a eles.

- Vocês são os representantes do Japão, né? 

- Sim, somos. - Respondeu Lorenzo com um sorriso no rosto.

- Legal, me chamo Adélia, eu também vou participar da competição amanhã. 

- Vai representar o que, Adélia-san? - Joui estalou os dedos e começou a girar os ombros, aparentava estar animado com o que estava por vir, nem parecia que há uns dias estava tão assustado e com um mau pressentimento sobre essa semifinal.

A mulher, que era um pouco maior que os três homens, simplesmente apontou para o centro de seu top, que havia uma bandeira do Brasil bem perceptível. 

- Deixa de ser besta, Joui. - Hans deu um tapa de leve no ombro do amigo. - Não vamos encher a moça de perguntas logo de cara. 

Os outros dois garotos olharam para o colega com um semblante confuso, o mesmo de Adélia.

- Muito bem... Ahn, gostariam de conhecer o pessoal daqui? - A mulher parecia ser bem convidativa e durona, e portava uma certa confiança na voz.

- Claro, vamos! - Joui praticamente arrastou os dois colegas pelos ombros atrás de Adélia enquanto ela ia andando.

O trajeto até o centro da arena rendeu vários acenos de outros participantes que estavam fora dela, os garotos acenavam de volta para todos, Joui, inclusive, que não abaixou a mão até a guia chamar a atenção do grupo novamente.

- Bem, rapazes... Esses daqui são os meus colegas de equipe: Clara e Léo. - Os dois, que nem pareciam ter notado a presença do grupo mais cedo, abriram um sorriso enorme e foram cumprimentá-los. 

- Bem vindos! - Disseram eles em uníssono.

- Haha, obrigado. - Retrucou Joui, com um sorriso simpático.

Após ambos os times tirarem um tempinho do treino para poderem se conhecer um pouco melhor, uma outra equipe se junta na roda da conversa, a representante dos Estados Unidos, que por sinal era uma das mais perigosas, suas performances eram excelentes e eles quase ficavam em primeiro em todas as etapas do campeonato.

- Adélia, a barra desencaixou de novo. - Disse uma garota da outra equipe nova no local. - Ninguém quer se machucar por causa da incompetência de vocês.

- Será que vocês podem deixar de ser tão ignorantes pelo menos dessa vez? Eu vou avisar o Fernando, ele vai fazer questão de que isso não aconteça novamente, agora relaxem. - Adélia já parecia estar acostumada com esse tipo de gente.

Os meninos da equipe do Japão assistiam toda a cena em completo silêncio, pareciam entender que a equipe do Brasil e a do EUA já estavam tendo um atrito há algum tempo. 

- Hans, será que se a gente não usar os equipamentos agora o treinador vai brigar com a gente? - Lorenzo questionou o parceiro, se lembrando de que Ford quase sempre o "obrigavam" a se exibir antes de uma performance.

- Melhor prevenir do que remediar. - Hans parecia confiante no que dizia, se dirigiu lentamente até um pórtico (consiste em duas argolas de ferro presas em cabos que são ligados em uma trave de metal).

O alemão começou a correr rapidamente na direção do aparelho, começou a atrair os olhares das outras duas equipes enquanto corria, o garoto pegou impulso, pulou em um trampolim e conseguiu agarrar as argolas perfeitamente; jogou o corpo para trás para conseguir pousar em cima de uma trave olímpica com um simples mas muito bem realizado mortal pra frente.

- Yatta, Hans-kun! - Comemorou Joui, batendo palmas e dando pequenos pulinhos.

- Ei! - Gritou um dos integrantes do grupo EUA para Hans, ele parecia enfurecido. - Não era a sua vez de usar essa merda, seu puto! Você tem que esperar sua vez, babaca!

- Ok, desculpa! Não precisa gritar desse jeito... - Hans levantou as mãos em sinal de rendimento. - Mané.

- O que foi que você disse? - O cara era visivelmente maior que Hans, mais ou menos uns 10 centímetros. 

- Te chamei de mané, seu idiota. - Hans resolveu ignorar a ameaça do oponente, simplesmente se virou e foi em direção à sua equipe.

- Não é assim que a banda toca aqui, amigo. - O competidor furioso, sem nem pensar duas vezes, correu até Hans e lhe deu um soco na bochecha esquerda, fazendo-o cair no chão.

Hans sentiu uma dor estonteante na parte esquerda de seu rosto, tinha certeza que deixaria um hematoma horrível. A comoção durou muito, a briga foi apartada depois que Léo segurou o estadunidense esquentadinho pelos braços e o puxou para longe, o mesmo que Joui fez com Hans, depois deste desferir um soco no nariz do agressor.

- Mike, se controla, idiota. - Disse a garota que provavelmente era a líder da equipe EUA.

- Hans, para com isso cara. - Lorenzo tentou acalmar o parceiro do outro lado.

- Vocês dois, parem com isso. - Adélia apartou os xingamentos que voavam para todos os lados dos dois competidores. - Sejam racionais, estamos aqui para competir e não para nos rebelarmos, se acalmem, ou se não vamos ter que expulsar os dois do ginásio.

A briga atraiu os olhares de quem estava do lado de fora da arena também, entre essas pessoas, o treinador Ford, que veio correndo na direção da sua equipe.

- Eu não posso deixar vocês moleques UM SEGUNDO sem minha supervisão que já querem fazer todo tipo de merda? - O mais velho vociferou, dando eco em todo local, se tornando o centro das atenções.

- Senhor Ford, não fomos nós que começamos... - Lorenzo tentou defender o amigo.

- É? Foda-se! A gente vai embora agora! E eu espero que esse comportamento não se repita amanhã, porque se nós fomos desclassificados dessa bosta a culpa vai ser de vocês! - O treinador deu de ombros e se retirou do ginásio, com a equipe atrás, sem mais nem menos. Um silêncio ensurdecedor e olhares assustados se seguiram até uns instantes depois da equipe do Japão ter saído.

A viagem de volta para o hotel foi um completo silêncio, foi constrangedor. Eles mal se falarem ao chegarem no andar de seus quartos, os quatro simplesmente se desvencilharam e seguiram caminho até seus devidos quartos. 

Joui, após sair do banho, mirou novamente o celular em cima do criado, dessa vez apenas ignorou o objeto, virou de costas para o aparelho e pegou no sono rapidamente.



The Before: Joui JoukiOnde histórias criam vida. Descubra agora