O Homem é o Lobo do Homem

O Fim e o Início de Tudo..

Em um dia como outro qualquem e com um clima frio e cinzento, onde
antes, era possível ver as folhas das árvores se mexendo levemente com a brisa de um vento que consigo também trazia a esperança de tempos melhores, caminhava lentamente em seu jardim uma senhora com olhar sem vida.

Essa senhora, já com certa idade, vivia sozinha perto da Florestas das
Aflições, na casa de sua falecida filha e neta que morreram tragicamente pela crueldade de “lobos tiranos”. E por esse motivo, seu coração carregava amarguras e inconformidades com tudo e todos.

Beatriz, sua neta, era a pessoa que mais amava, até mais que sua própria filha, pois... via nessa garotinha, uma luz interior que se espalhava por todos a sua volta, por ser meiga, alegre, brincalhona e carregar uma pureza como nunca virá. E sempre carregava consigo um cachecol, cor vermelho claro, feito por sua avó como gesto de amor.

Dona Sophia, como gostava de ser chamada, para deixar claro aos
nossos leitores, foi além de avó, escritora, analista política, socióloga e filósofa. Era uma mulher que em sua juventude todos a admiravam por sua sabedoria, sendo até mesmo considerada pelos seus pensamentos filosóficos sobre a sociedade, uma das maiores pensadoras dos tempos modernos, porém, toda essa magia entorno da sua carreira perdeu-se, juntamente com sua fé na humanidade após conhecer da pior forma possível a morte. Por isso, dedicava todo restante do seu tempo zelando pela casa onde a filha e neta viviam, única coisa que o mundo não havia lhe arrancado.

Mesmo vivendo em uma solidão completa, dona Sophia ainda era uma senhora sábia, que sempre buscava meditar ou discorrer sobre os problemas atuais as quais a afligiam, principalmente sobre as mudanças da sociedade, levando sempre em consideração a sua constante busca por justiça e respostas, pelo que havia ocorrido com sua família e pelo o que estava acontecendo com o mundo.

Em outro dia qualquer, caminhando pelo seu jardim, dona Sophia resolveu então que nesse dia iria voltar novamente a sua antiga residência, onde costumava a escrever seus livros e se reunir com amigos escritores e filósofos. Após sua decisão, colocou então o seu vestido de cor vermelha mais intenso que havia guardado em seu armário e partiu em direção ao seu destino como se algum compromisso importantíssimo a esperasse. Até mesmo eu, que lhe narro esta história, tinha esse sentimento no momento.

Durante a sua longa caminhada, quando mais desacelerava seus passos, mais adentrava na Floresta das Aflições, como se algo ressoasse em sua mente para atentar-se aos detalhes de sua jornada, como a estivesse a preparando um caminho para as repostas que inconscientemente sua alma buscava.

A medida que o tempo passava, os sons naturais da floresta se
arranjavam de forma que carregavam consigo não mais o som dos pássaros, mas as angustias e amarguras de todas as pessoas que haviam passado pelo mesmo caminho, pelas mesmas situações que ela vivenciou durante a vida, perdendo entes queridos, histórias manchadas por sangue, conflitos, guerras, todas situações causadas pelo homem, por escolhas feitas, pelos caminhos traçados pela humanidade e isso de alguma forma tocava o coração daquela senhora como e carregasse todas essas dores para si.

Então, ao chegar ao fim da floresta, se deparou com a encruzilhada que
passará por tantas outras vezes e percebe que de alguma forma ela estábdiferente, como se cada direção escondesse um horizonte ambíguo. E, eis que, em meio aos seus pensamentos, sua boca se abre para um momento de reflexão que nunca antes havia expressado:

- Eis aqui a representação do que nós, seres humanos, nos deparamos
inúmeras vezes ao longo da vida. Escolhas. Sim, escolhas que nos levam a até as consequências finais de nosso caminho.

- Me pergunto e também lhe faço a mesma pergunta caro leitor. Tu se
arrepende mais do que se orgulha das suas decisões? Tu realmente acreditais que estais fazendo o bem para o teu próximo? E se ainda estiveis convicto que faz um bom papel, o que tu fizestes para ajudar a quem não realiza tais ações
para promover uma mudança verdadeira na perspectiva humana?