Cap. 1 - Persistence

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Música: 2!3! - BTS
A minha primeira semana de trabalho na empresa havia passado rapidamente. Hoje é finalmente sexta-feira e eu havia combinado com uma amiga de tomar um drink em um bar qualquer após o trabalho, em tentativa de relaxar.
Durante a semana, diferentemente do que eu imaginava, não havia "atendido" ninguém na sala a qual eu poderia dizer que era minha, já que um dia após a minha contratação, meu nome já estava pregado em uma plaquinha ao lado da maçaneta. Nenhum sinal de caras famosos nem pelo corredor, nem em local algum da empresa.
Certamente, eu passei a maior parte dos dias analisando o perfil dos funcionários da empresa e entregando questionários a serem respondidos, mesmo sabendo que a maioria deles não seriam entregues... ócios do ofício.
Cheguei na rua da empresa, parando em um café que se encontrava vazio, me dirijo à atendente pedindo um chocolate quente, que rapidamente satisfaz meu organismo, iniciando assim mais um dia de trabalho.

- Quebra de tempo - 19:00 p.m.
Passo a mão no meu cabelo, percebendo os nós comuns do fim do dia. Resolvo abrir minha bolsa que se encontrava jogada em cima do divã, que ninguém além de Jin havia se sentado desde a minha contratação, retirando da bolsa um prendedor de cabelo.
Ajeito os documentos que se encontravam em cima do meu colo, em uma tentativa de manter tudo organizado, quando escuto batidas na porta.
-Só um instante.
Falo tentando me levantar com toda a papelada que estava no meu colo, deixando meu celular cair no chão e soltando um resmungo ao ver a tela virada para o piso - Aish - falo em frustração, deixando os papéis na poltrona que até então eu estava sentada. Pego o telefone do chão e sinto receio ao olhar para a tela mas que para a minha sorte, estava intacta.
Puxo minha saia para baixo, cobrindo a pele das minhas coxas. Vou até a porta abrindo a mesma me deparando com um homem de cabelos pretos que eram parcialmente cobertos por uma boina cinza.
-Estou atrapalhando? - O homem dispara e só então reparo em seu rosto, ele tinha feições que pareciam ter sido esculpidas por alguém.
-Não, claro que não. Entra, fica a vontade. 
Falo saindo de frente da porta dando passagem para o homem que era visivelmente mais alto do que eu. Ele adentra o ambiente e eu fecho a porta atrás dele.
-Pode se sentar. - Falo indicando com a mão o divã, mas minha expressão animada, por finalmente estar recebendo alguém nessa sala, muda drasticamente quando olho para o pequeno sofá e vejo a bagunça de papéis e post it que eu havia feito horas atrás.
-Oh, me perdoe. Eu... eu só tava tentando organizar alguns documentos.
Falo confusa, tirando minha bolsa de cima do divã colocando-a no chão.
-Está tudo bem - o homem fala dando um sorriso. Eu já havia visto esse sorriso em algum lugar. Sinto meus olhos se arregalarem ao lembrar do show que eu havia visto à cerca de 2 anos atrás pela tela do computador. Era Kim Taehyung que estava bem na minha frente. O homem de voz grave e do olhar profundo. O homem que eu fiz ficar em pé graças a toda a minha bagunça. Dei um tapa inconsciente na minha testa envergonhada.
-Eu na verdade só vim lhe entregar o meu questionário e o do Jiminnie, achamos que se entregássemos logo seria mais fácil de não esquecermos. - o homem fala estendendo ambas as mãos com as folhas então preenchidas por eles.
-Me perdoa a bagunça, obrigada por ter entregue. - Disparo sem graça, cruzando os braços, demonstrando minha insegurança.
- Jin-hyung nos falou de você. É bom saber que agora temos alguém para falar sobre o que sentimos. - O homem fala rapidamente - Espero que seja boa em guardar segredos.
Taehyung fala passando por mim, e eu me apresso indo em direção a porta.
-Tudo que for dito aqui somente eu saberei senhor Kim Taehyung. Sigilo é algo muito importante no meu trabalho. - Falo e ele dá um sorriso sincero - Me chama apenas de Tae ou TaeTae, toda vez que me chamam pelo meu nome e sobrenome lembro de quando minha omma vinha me dar bronca. - ele fala deixando seus lábios retos demonstrando a lembrança desagradável que veio a sua mente.
-Tudo bem então Tae. Obrigada por me entregar.
Falo encerrando a conversa e abrindo a porta da sala para que o mesmo pudesse se retirar.
-Ah, eu já ia esquecendo. Jimin-shi perguntou se a primeira sessão de terapia dele poderia ser ainda hoje. Acho que ele se animou em falar dos sentimentos dele.
O homem fala já à alguns metros de distância de mim com a voz divertida. Se virando em seguida e caminhando em passos largos.
-  "Hoje? Como assim hoje?" -  Olho o meu relógio apressadamente e vejo que faltavam poucos minutos para que meu horário de trabalho chegasse ao fim. Percebo que continuei encarando a porta fechada, ainda com a mão na maçaneta sem saber o que fazer.
Caminho até a minha poltrona, sentando na mesma e observando os papéis que haviam me sido entregue a pouco.
Meus olhos vagueiam pela ficha do Taehyung que descreve de forma poética seus planos para o futuro. Após ler toda a ficha, passo o segundo papel para cima do primeiro me deparando com a ficha do Jimin praticamente vazia. Sinto uma das minhas sobrancelhas se erguer e cruzo as pernas em curiosidade.
"Futuro? Eu apenas quero que todos estejam saudáveis." - arregalo meu olhos instantaneamente. Para qualquer leitor, essa seria uma frase comum. Mas para mim não era, ainda mais após ler a resposta de Taehyung. A frase escrita por Jimin demonstrava a pouca preocupação que ele tinha consigo mesmo e a falta de sonhos, não sonhos inalcançáveis mas de objetivos. E sem objetivos a nossa existência é em vão.
Respiro fundo, deixando a ficha de ambos em cima de toda a papelada que ainda se encontrava no divã. Pego meu celular enviando uma mensagem de texto para a minha amiga, a comunicando que surgiu um imprevisto e que eu não poderia sair para beber com ela hoje.
Suspiro me levantando da cadeira, deixando meu celular dentro da bolsa e pegando apenas a ficha de Jimin. Seguro-a com a mão direita, abrindo a porta calmamente enquanto apago a luz da sala, encostando a porta atrás de mim.
Caminho pelo corredor e um vento frio atinge minha espinha. "Como pode estar ventando frio se tudo aqui é fechado e com climatizador?" Indago a mim mesma, soltando meu cabelo, colocando a presilha em volta do meu pulso. Paro em frente ao elevador e me dou conta de que não sei para onde estou indo. Tae apenas disse que Jimin gostaria de uma consulta ainda hoje mas... eu não sabia onde ele estaria agora, ou até mesmo onde ficava a sala de prática ou o estúdio. Ando alguns passos a minha esquerda, encontrando um homem que se encontrava apoiado na parede enquanto mexia em seu celular de cabeça baixa.
-Com licença, o senhor saberia me dizer qual o andar do estúdio ou da sala de prática ?
Falo após limpar a garganta denunciando minha presença para o homem de óculos que levanta o olhar.
-Nós temos vários estúdios e salas de práticas por aqui. Por quem você está procurando?
Ele fala guardando o celular no bolso da frente da sua calça jeans que envolvia suas pernas.
-Eu estou procurando o Park Jimin, na verdade  ele que solicitou uma sessão de terapia.
Falo me explicando e vejo o homem passar por mim e apertar o botão do elevador. Ele olha o relógio em seu pulso e entreabre os lábios.
-A essa hora, provavelmente ele estará na sala de prática do 7º andar. Ele fez uma sessão de fotos a pouco.
O homem dispara e eu agradeço em seguida vendo o elevador se abrir a minha frente. Entro no mesmo me curvando em agradecimento novamente ao homem. Aperto o botão do 7º andar enquanto meus olhos passeiam novamente pelo papel que eu apertava em minhas mãos.
" O que você mais deseja no momento?
   Eu realmente não sei, talvez sorvete"
A resposta me fez suspirar, encostando as minhas costas no inox gelado do elevador. Desejar um sorvete não era algo ruim, mas não era isso que eu esperava receber como resposta. Algo tão simples e tão fácil de conseguir, atualmente o serviço de delivery da Coreia tem se mostrado excelente, não é difícil conseguir um sorvete por um preço acessível.
Me surpreendo com a abertura da porta, saio pela mesma vendo um corredor com apenas duas portas. Deduzo que a menor era um banheiro ou vestiário e a outra, a sala de prática que o tal homem de óculos se referia. Caminho até a porta maior, dando leves batidas na mesma, mas o som soava alto em meus ouvidos. Suspiro percebendo que minhas batidas não seriam ouvidas. Abro a porta vendo uma sala ampla, com toda a parede da frente de vidro. O som da música ecoava alto e limpo, denunciando o bom aparelho de som do local.
Vejo Jimin sentado no canto da sala com ambas as pernas esticadas e suas mãos nos respectivos pés em um alongamento. Lembro que o vi pessoalmente pela primeira vez antes de ser contratada na então sala do interrogatório.
-Licença, estou atrapalhando?
Falo vendo o homem levantar a cabeça, direcionando seus olhos para mim. Aproveito para analisar seu rosto. Seus lábios eram carnudos e rosados, as maçãs do seu rosto estavam em evidência devido a vermelhidão que se encontrava seu rosto, pelo exercício físico recente.
-Não, claro que não. Eu já tinha acabado.
Ele fala se levantando e indo até seu celular, que carregava em uma tomada próxima, desligando a música.
-O Taehyung disse que você gostaria de uma sessão de terapia ainda hoje... então tomei a liberdade de perguntar a um funcionário da empresa onde você estava.
Despejo as palavras ao homem que ajeitava seu cabelo com a mão, jogando para trás os fios molhados de suor que até pouco encontravam-se colados em sua testa.
-Ah sim. Então você é a nova psicóloga daqui?
Ele fala entusiasmado dobrando seu tronco para pegar uma garrafa de água que repousava no chão.
-Sim, eu to aqui pra ajudar vocês a gerenciar as suas emoções.
Falo e vejo o homem fazer uma expressão desconfortável com o rosto.
-Você se incomoda se eu me sentar um pouco? Acho que peguei pesado demais hoje.
Ele fala e eu nego com a cabeça, vendo o homem de camisa cinza agachar, sentando-se no chão.
-Eu vim aqui pra falar da sua ficha e para a sua primeira sessão já que você a solicitou.
Falo ainda em pé, sem saber como reagir a expressão de cansaço do homem. Certamente ele já deveria estar em casa à essa hora ou curtindo enquanto bebe uma cerveja com os amigos, afinal hoje é sexta feira e não deve ser difícil ter amigos sendo um idol.
-Desculpa avisar tão em cima da hora, mas os dias tem sido corridos. Você sabe: academia, coreografia, gravação, composição...
O homem fala mexendo o indicador em sinal de constância dos seus hábitos.
-Eu não ia fazer nada de importante hoje, não tem problema. - Minto tentando conforta-lo, tudo que eu menos queria agora era que ele se culpasse por me fazer ficar até depois do meu horário na empresa.
-Sabe... esse questionário me fez pensar. Eu normalmente não me pergunto sobre essas coisas - o homem de cabelos descoloridos fala e só então eu percebo que a sala estava completamente vazia e silenciosa, tudo que eu ouvia além de suas palavras era o som da sua respiração ainda ofegante pela possível coreografia pesada.
- Eu vi que muitas perguntas você deixou em branco ou respondeu com poucas palavras - falo vendo o homem levantar a cabeça para fitar meus olhos. - Desculpa, eu não sabia como respondê-las. - Ele fala e sua voz soa doce, quase que em um tom de arrependimento. Certamente eu não queria que ele se sentisse dessa forma. Respiro fundo, fechando meus olhos por míseros segundos para pensar em uma boa solução. Resolvo sentar ao lado do homem, encostando minha cabeça na parede lateral da sala em tentativa de quebrar o arrependimento que começava a surgir no seu tom de voz.
Encaro a sala longa e vazia de piso frio, vejo de relance que o homem ao meu lado arregalara os olhos com a minha ação.
-Que tal irmos respondendo elas conforme as sessões forem prosseguindo?
Digo otimista, dando um leve sorriso para o homem visivelmente exausto. Ele sorri de volta, abaixando a cabeça envergonhado.
Sinto minhas mãos suarem em nervosismos, afinal eu não sabia como seria a reação dele ao me ver sentada no chão ao seu lado. Eu estou acostumada a ver pessoas sentadas no divã a minha frente enquanto tenho uma prancheta nas mãos na poltrona a frente. Mas algo dentro de mim, dizia que ele precisava disso, e não de alguém que adiasse ainda mais a conversa sobre os seus sentimentos, ele já havia adiado por tempo demais.
-Você se incomoda se a nossa sessão de hoje for aqui?
Ele pergunta em um tom baixo, fazendo-me o encarar. Ele levanta os olhos, fazendo com que os mesmo se encontrem com os meus. Sinto uma chama se acender dentro do meu corpo, ele precisava de mim. Precisava ali e agora e eu não hesitaria em ajudá-lo.

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