Caim matou Abel. A primeira morte aconteceu antes mesmo de os humanos entenderem o que era morte.
Quando a alma de Abel se levantou, vendo seu corpo caído, após uma pedrada, não se sabe ao certo o que aconteceu. Alguns, no Reino dos Mortos, dizem que ele ficou confuso e não entendeu ao certo o que aconteceu. Outros, por outro lado, dizem que Abel se desesperou. As únicas pessoas que sabiam a verdade, entretanto, eram três: Abel, a Entidade da Vida e a Entidade da Morte.
Após alguns dias da morte de Abel, a Entidade da Vida visitou o Reino dos Mortos para encontrar-se com a Entidade da Morte. Aquele Ser de luz descia as escadas do submundo iluminando os dois únicos habitantes dali, Abel e a Entidade da Morte. O recém-morto assustou-se e correu para longe, deixando a Morte e a Vida juntos.
―Olá, Morte. ―Vida disse.
―Vida.
―Não me chame assim, por favor. Decidi que quero um nome de fato.
―Nome? Você quer se igualar aos mortais?
―Sim, por que não? Nós somos eternos, afinal. Provavelmente vai ficar um saco a gente só se chamando pelo nome que nos foi dado.
―Como assim?
―"Vida", "Morte", "Amor"... Isso irrita. Prefiro inventar um nome só meu.
―E inventou?
―Na verdade sim. Ahsa.
―Ahsa?
―Sim.
―Por quê?
Ahsa pôs o dedo em sua boca e começou a pensar por alguns poucos segundos.
―Vida. Significa Vida e Esperança de Futuro.
―Ah sim. Deveria ter adivinhado.
―O que foi? ―Ela riu.
―Você tem essa mania de... Fazer o óbvio.
―E você? Escolha um nome.
―Talvez em outra ocasião.
―Hum... ―Ela olhou ao redor, vendo Abel, olhando com medo dela. ―Soube que perdeu a virgindade.
―O quê?
Ahsa riu.
―É uma expressão humana. Significa algo como "a primeira vez". No caso, vi que foi a primeira vez que você recolheu um morto. A primeira vez que eu perco algo pra você.
―Não é a primeira vez.
―É, mas você não pega animaizinhos ou plantinhas. Posso perguntar o porquê?
―Se eu trouxer tudo que morre esse lugar ficaria... vivo. Não seria morte.
―Sim, esse lugar é bem sombrio e tal, mas precisa disso?
―O que você quer dizer?
―Trazer outras coisas, como plantas e animais, traria mais conforto a seus futuros habitantes.
―Isso é a Morte. Não é para ser confortável.
―Espero que um dia você mude de ideia. Afinal, eu ficar dando minhas crias pra você simplesmente torturá-las não é lá a melhor coisa do mundo.
―Eu realmente não me importo.
―Pois deveria. Um dia esse lugar estará lotado de gente te cobrando e enchendo seu saco.
―Veremos.
―Então, quem é o novato?
―Abel. O primeiro morto.
―E o segundo filho de Adão e Eva. O que aconteceu?
―Quando eu cheguei, o corpo de Abel estava no chão. Havia sido acertado por uma pedra. Eu estava nervoso com o que iria acontecer, se ele ficaria nervoso ou confuso, mas no fim... Ele só parecia sombrio.
―Então ele não se desesperou ao ver o próprio corpo no chão, uma figura encapuzada com uma máscara de caveira e uma gigantesca foice?
―Pare de fazer piada.
―Pergunta genuína, pô!
―Não. Ele não ficou desesperado.
―Qual teria sido a reação dele?
―Ele apenas aceitou. Não entendi o porquê. Será que vai ser sempre assim?
―Duvido. Eva está chorando lá em cima e Adão está para matar o filho.
―Como você sabe?
―Eu vejo tudo no meu reino.
―Faz sentido. Eu vejo tudo no meu reino.
―Enfim, Morte. Voltarei a meu mundo. Visite ele quando quiser.
―Me chame de... Kritanta.
―Nominho difícil, hein? Significa o quê?
―Deus da Morte.
―Que seja, então, senhor Deus da Morte.

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Entidades Essenciais
FantasyA Vida, a Morte, o Amor, a Imaginação... Entidades essenciais para a vida são personificadas