Confições Parte II

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Permiti que ele entrasse... E, agora estamos sentados no chão, nos olhando enquanto jantamos, como se nada tivesse acontecido. Apesar de saber que a cada instante que passava ao seu lado, me envenenava aos poucos com doses de sentimentos confusos.

Chegar à conclusão que estava me apaixonando foi lenta e dolorosamente fácil, mas não era tão simples admitir. Sei que a paixão e o amor, apesar de diferentes são iguais quando se trataram de solidão. Afinal não importa o quanto ou quem você ama, sempre amará sozinho. O próximo pode te amar mais, menos ou nada. Ninguém tem a obrigação de corresponder às expectativas de outro, e isso não os tornam culpados de nada. Cabe apenas a vítima do sentimento, conviver e aceitar o mesmo. Por esse motivo irei negar essa paixão, até que essa sensação se esvaia, tão sem percepção quanto surgiu.

Não conversamos muito. E, em silêncio, lavamos a louça juntos, em seguida nos deitamos lado a lado. Mesmo na escuridão da noite, as luzes que a cidade movimentada refletia na vidraça da janela, iluminava os olhos dele. Aquele brilho acelerava os batimentos de meu coração, provavelmente dilatavam minhas pupilas, mesmo o dono deles obviamente não vendo o mesmo brilho nos meus, nem se sentindo desta forma.

Não noto quando peguei no sono, mas durante a noite, desperto algumas vezes com suas carícias. Ele estava com insônia, gostaria de lhe fazer companhia, mas estava esgotada demais, pela tarde “movimentada” que passei junta ao mesmo.

Sinto suas mãos passando por meus longos cabelos até sua ponta, rapidamente se direcionando para minha cintura, deslizando para meu quadril. Avaliando cada hematoma que provocou em meu corpo. Não conseguia permanecer sem resmungar quando seus dedos pressionavam alguns deles. E, os escorregando com cuidado, sua mão vai até minha intimidade, onde o incômodo era maior, e ao apertá-la levemente, murmuro um baixo gemido de dor, fazendo retornar novamente a meu quadril em um rápido movimento. Em um suave abraço, meus despertares se sessam, assim que Jay pega no sono.

...

No momento que acordamos, ao invés de levantar, ficamos presos em nosso abraço em completo silêncio e apenas quando a fome nos assolou ao máximo, decidimos pular a primeira refeição para o almoço.

- Acho que dispensarei sua comida saudável gatinha. – Diz beijando meu pescoço ao me abraçar por trás, enquanto preparava meu almoço. – Posso pedir comida?

- Claro! Mas vai se arrepender... – Dito o empurrando com quadril, para colocar a panela sobre o fogo com segurança de não o queimar.

- O que houve com sua mão? – Questiona espantado ao notar as leves queimaduras que causou ao derramar acidentalmente o café quente anteriormente. – Foi eu? – Diz puxando meu punho e observando a vermelhidão de perto.

- Oppa! – Exclamo com delicadeza tentando trazer calma para seu olhar de euforia. – Não foi culpa sua... – Sorrio. – Foi um acidente e não foi nada demais.

- Vou pedir jajangmyeon! - Dita rouco, mudando de assunto, voltando a visão para seu celular.

- Tudo bem. – Me volto ao fogão.

...

Assim que seu pedido chega, me sirvo e me junto a ele no chão do pequeno cômodo.

- O que você está comendo? – Pergunta já abrindo a boca para que eu o servisse.

- Um tipo de strogonoff com carne vegetal. – Dito rindo o servindo. – Está gostoso? – Interrogo limpando respingos de molho em seu lábio. – Ele acentua positivamente com a cabeça.

- Aquilo tem chocolate? – Interroga com expressão de crianças pidona, apontando para panela em banho-maria com brigadeiro de tâmaras.

- Sim! – Exclamo. – Mas é só meu. – Brinco. – Disse que iria se arrepender de dispensar minha comida. – Levanto pegando a panela com sobremesa e comendo uma colherada. – Nossa! O melhor doce do Brasil e do mundo... você iria amar. – O provoco, mas recuo assim que o mesmo avança em minha direção.

- Seja uma boa gatinha... – Age como um sedutor, agarrando-me pela cintura com olhar pervertido. – Ainda não esqueci da sua promessa... espero que você também não tenha.

- Vou sempre ser educada com você Oppa! – Retribuo o sorriso, servindo uma colher do doce em seguida o beijando.

- Realmente... – Diz em um sorriso de canto, com os olhos ainda fechados, separando nossos lábios. – É o melhor sabor que já provei nesse mundo.

- Está falando do doce? – Pergunto em um sorriso e ele retribui com um selar ficando em silêncio.

...

Mais uma vez passamos horas conversando sobre tudo e nada ao mesmo tempo. Contei sem perceber, segredos que nunca revelaria para ninguém e ele despejou tudo que guardará dentro de si. Para ser sincera não entendi boa parte do que me falava, seu coreano apresentava várias gírias, mas conseguia entender seus sentimentos no momento e procurei acalentá-lo na medida do possível.

E, assim que o fim da tarde se firmava, nos despedimos calorosamente. Provavelmente era a primeira e a última vez que nos tratávamos de forma romântica. Todas as confidências foram pequenas, comparado com aquele dia de puro sentimento sem desejo carnal.

Após a janta solitária, me alongo em práticas de ioga e depois de um longo banho, canso de aguardar o retorno de Bo-ra e me deito. Em algumas longas horas, me acordo com a mesma beijando meu rosto, após forrar sua cama, me entrego ao sono novamente, pois tudo mudará no dia seguinte, e precisava estar disposta com o início de minha nova rotina.

                                 ...

                                

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