Parte 5

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– Menina Hughes, ouviu o que eu disse?

Ada sentia-se anestesiada. E provavelmente até estava com a quantidade de drogas que lhe tinham tentado dar no hospital. Sentia a cabeça a girar com todos os pensamentos que lhe passavam pela cabeça, revivendo vezes sem conta os últimos momentos de vida dos irmãos. Como é que ela os desiludira? Desiludira a mãe.

E pior, o pai tinha simplesmente lhes abandonado...

Como é que ela era a única que sobrevivera?

– Menina Hughes...

– Ahn?

– Disse que está livre de ir, por enquanto. Entraremos em contacto consigo se soubermos de mais alguma coisa.

As luzes florescentes da sala de interrogatório da polícia ardiam-lhe nos olhos que poucas horas tinham dormido. Não fazia ideia de quantas horas se tinham passado entre o hospital, onde lhe tinham confirmado a notícia sob os dois irmãos, e esquadra onde tentavam esmiuçar todo o tipo de informação que conseguissem dela.

Tentara explicar que não se lembrava de nada do que acontecera. Acordara com um mau pressentimento e correra até ao quarto dos irmãos. Depois disso era tudo uma névoa. Quem é que acreditaria no que ela tinha visto?

Não havia maneira de explicar o que acontecera.

Ada levantou-se entorpecida. E um dos polícias abriu-lhe a porta.

– Se o seu pai a contactar, por favor contacte-nos imediatamente.

Ada olhou para o guarda sem o ver realmente e assentiu.

No meio das suas mentiras nem se apercebeu que fizera com que o desaparecimento do pai fosse suspeito. Ele não reaparecera desde que os tinha deixado à mercê do demónio. Ainda tentou perguntar-se se aquela criatura era a mesma que ele vira nas docas e por isso o tinha assustado tanto. Mas depressa apercebeu-se que estava mais uma vez a tentar arranjar desculpas para a falta de caráter do pai.

Ada apertou a cruz pendente no peito com as duas mãos e reuniu forças para enfrentar o que havia fora da sala de interrogação.

Um tufo de cabelos escuros, voou-me pelos olhos de Ada. Tayee envolveu-a pelos ombros, sem lhe dar oportunidade de a abraçar de volta, ainda com os braços contra o peito. Nick aproximou-se logo a seguir e esfregou-lhe o ombro repetidamente.

– Como estás? – perguntou a sua melhor amiga. Tinha os olhos inchados e vermelhos. Ada tinha noção que os dela muito provavelmente se encontravam iguais. Apesar que mal tivera tempo para poder chorar com todas as perguntas que lhe tinham lançado desde que as sirenes rodearam a sua casa.

Os seus anjos da guarda tinham desaparecido e Ada não dissera nada a ninguém sobre a sua existência. Não sabia bem porquê, mas havia algo que a incomodava.

Aqueles dois desconhecidos tinham entrado na sua casa, como se soubessem que ia ser atacada. E acima, de tudo não tinham ficado surpreendidos com a existência de... daquilo que a atacara, fosse o que fosse. Era crente, mas havia coisas que iam para além da sua fé, não conseguia admitir o que vira. Precisava de respostas. Precisava de saber o que lhe roubara os irmãos e a deixara sozinha.

– Hoje vens para nossa casa – disse Tayee, acrescentado antes de Ada poder protestar. – Nem há discussões. Não te vou deixar ir sozinha para aquela casa. Aquele homem pode regressar e sabe-se lá.

– Não era um homem – disse ela. A voz estava seca e arranhada.

– O quê? – Tayee apertou-lhe os ombros, afastando-se do abraço para poder olhar para a amiga. Ada dirigiu-lhe um olhar rápido.

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⏰ Última atualização: Jul 01, 2020 ⏰

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