capítulo 1

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GABRIELA

— Lucas... vá tomar banho, meu filho! — apresso, arrumando minha bolsa para ir trabalhar. — Logo a dona Maria irá chegar para cuidar de vocês, e quero que já estejam limpos e de barriga cheia.

Conheci dona Maria assim que cheguei à cidade. Ela me ajuda passando as noites com as crianças para que eu trabalhe e é um verdadeiro anjo em minha vida, além de seu jeito me lembrar muito o de minha falecida mãe.

Eu sinto tanta falta dela...

 — Mamãe, eu não quero tomar banho hoje! Por favor — Lucas pede, juntando as mãos em uma súplica.

— Seu porquinho. — Ana, minha mais nova, provoca com as mãos pequenas na cintura. — Já para o banheiro agora!

Caio na gargalhada com aquela cena. Ana é mandona e madura demais para seus seis aninhos, sendo apenas dois anos mais nova que Lucas.

Ouço o barulho da porta e já sei que é Maria chegando. Ela sempre aparece mais cedo que o combinado. A mesma não tem filhos e, por culpa do avanço grave no Alzheimer de seu marido — que está internado em uma clínica —, não tem mais condições de cuidar dele. Dona Maria sempre diz que ficar com meus filhos é uma alegria, e que eles sãos os netinhos que ela nunca poderá ter.

Apesar da tristeza por toda essa situação, eu sempre serei muito grata por seu carinho.

— Maria, meu amor... você chegou rápido! Lucas ainda nem tomou banho. Disse que hoje não quer — brinco, abraçando-a enquanto rimos juntas. — Que vergonha...

— Não se preocupe, querida. Cuide-se e se alimente antes de sair. Deixe que com o meu menino eu me entendo depois — ela garante, recolhendo alguns brinquedos que estavam espalhados no corredor.

Dona Maria, assim como todos os outros, acha que eu trabalho em um hospital no período da noite. Me sinto péssima por mentir para todos, mas isso se faz necessário.

Sou formada em enfermagem e passei muito tempo procurando um emprego nos hospitais da cidade, mas o dinheiro que tinha guardado antes de fugir de casa com meus filhos estava acabando. Eu não sabia mais o que fazer.

Ao menos não até conhecer Luiza.

Eu estava em um ônibus em busca de mais lugares para entregar currículos quando ela se sentou ao meu lado. Luiza é linda, um escândalo de mulher, e começamos a conversar logo de cara. Contei que já estava farta de bater em tantas portas e todas estarem fechadas, e ela passou praticamente todo o caminho apenas me ouvindo. Coitada... Eu não desabafava há tanto tempo que me abri para uma desconhecida sem ao menos saber se a mesma tinha algum interesse em me ouvir.

Quando estávamos perto do ponto em que eu desceria, ela anotou rapidamente seu contato em um papel e pediu para que eu ligasse, alegando que talvez pudesse me ajudar.

Passaram-se uns dois dias desde que eu havia conhecido Luiza, e logo me lembrei de seu telefone anotado em minha bolsa, correndo para ligar pra ela. Aquela mulher disse que poderia me ajudar, e eu precisava de ajuda. Valia a pena tentar, certo?

Eu só não imaginava que poderia me surpreender tanto com sua proposta.

Pego minha bolsa e dou um beijo em meus filhos, pedindo para que eles se comportem e durmam cedo pois teriam escola na manhã seguinte. Além disso, nada de doces de noite.

— Maria... já estou indo. Qualquer coisa me ligue, e não deixe essas crianças abusarem de você — digo, dando um beijo em sua cabeça e pegando as chaves do meu carro.

— Tchau, Gabriela! Que Deus te acompanhe, e trabalhe sossegada — ela deseja enquanto mexe nos armários para preparar algo pro jantar. — Aqui ficaremos bem, como sempre.

DEGUSTAÇÃO "MINHA STRIPPER" (Revisado)Onde histórias criam vida. Descubra agora