One Shot

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Minha vida nunca fora das mais interessantes. Não! De jeito nenhum. Eu sempre fora o garoto do fundão, de capuz e fones de ouvido o tempo inteiro, completamente desinteressado do tumulto ao meu redor.

Não que eu fosse um imbecil. A escola sempre foi muito fácil, minhas notas eram medianas, e eu tinha um número regular de amigos. Não o suficiente para dizer que eu sou popular, eu definitivamente não era um dos descolados, mas não era um dos excluídos. Resumindo, eu estava na média.

Minha vida nunca tivera grandes acontecimentos, e eu me acostumei com a sensação de apatia e o pensamento de que nada nunca mudaria. Eu não conseguia sentir o fervor e a excitação que todo adolescente de 17 anos deveria sentir, experimentando drogas, indo à festas, ou flertando com tudo que se move.

Eu já até havia namorado algumas garotas, e transado algumas vezes, mas no fim, tudo retomava à estaca zero, e eu me via preso no mesmo lugar. A sensação era de que não tinha nada para mim ali, e isso era horrível.

Até o dia 18 de junho de 2016. Foi nesse dia em que tudo mudou.

O dia em que eu a conheci.

Eu estava num sono profundo, ficando completamente atordoado ao ser acordado bruscamente com alguém jogando água em meu rosto. Raul.

Raul era meu melhor amigo desde, eu não sei, sempre. E ao contrário de mim, ele estava em toda a sua glória da adolescência, aproveitando cada minuto como se fosse acabar em um estalar de dedos. Era o certo, eu sei.

Resmunguei um palavrão, completamente puto pelo jeito que havia sido acordado.

- Como você entrou aqui, merda? - Falei, voltando a cobrir meu rosto com o cobertor quentinho.

- A sua mãe me deixou entrar - Ele disse como se fosse o óbvio. Minha mãe idolatrava Raul. Ele era praticamente perfeito. Atleta, carismático, histórico escolar impecável, e muito popular. Não sei como andávamos juntos, para dizer a verdade. - A gente vai pra uma festa.

- Cara, é quinta-feira. - Minha voz saiu abafada pelo cobertor. - Tá frio.

- É, mas o recesso acaba segunda feira, e a gente vai festejar o final de semana inteiro.

- Não tô a fim... Pode ir sem mim. Além do mais, minha mãe não vai gostar da ideia. - Falei, tentando convencê-lo.

- Qual é cara, eu sei que você tem essa sua vibe metade "Ain, eu sou legal demais pra isso", metade cantor de banda indie, mas tu vai e pronto. - Revirei os olhos com a descrição - Tua mãe já até te liberou. Toma um banho e bota uma roupa decente, te espero em 15 minutos.

Raul bateu a porta ao sair, me deixando deitado na cama. Eu devo ter ficado encarando o teto por pelo menos dois minutos antes de me levantar e fazer o que ele disse.

Entrei de baixo do chuveiro, molhando os fios que já se encontravam um pouco compridos. Escovei os dentes e coloquei calça jeans e moletom, junto com um tênis preto da Nike. Desci em vinte minutos e encontrei Raul me esperando na sala de estar.

- Juízo! - Ouvi minha mãe gritar antes de saírmos.

- Onde é essa tal festa? - Perguntei.

- Na casa do Ulisses. - Ulisses. Um garoto do último ano, com quem Raul fizera amizade durante os intervalos jogando bola. Eu não o conhecia muito bem, mas ele era definitivamente, popular.

Puxei uma cartela de Marlboro do bolso do casaco, acendendo um cigarro.

- Ah qual é, Nicolas! Você sabe que eu não gosto que fume no carro, os bancos ficam fedendo.

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⏰ Última atualização: Jul 02, 2020 ⏰

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