Caos

Eu sou um ser moldado pelo caos desde que me entendo por gente. Tive uma infância horrível, fui órfão muito cedo e, somado a fatores econômicos – ou a falta deles –, passei a morar sozinho no apartamento mais barato que encontrei. Era somente um desempregado solitário; então, decidi que precisava de companhia. Fiz uso de minha quirk e criei uma cópia minha. 

A cópia era perfeita, sabia tudo de mim, meus gostos e o que eu não gostava, o assunto sempre fluía entre nós. Pensei que, com outra cópia, seria menos solitária a minha vida. Então, meu clone fez outra cópia. Com o tempo, três não era o bastante, e outro clone apareceu.

Quando vi, existiam tantos de mim que eu não sabia mais quem eu era. Achei que poderia usar meus clones para fazer as funções na casa enquanto eu focava em algo mais importante – como, talvez, achar um emprego –, mas eles perceberam que aquilo era injusto demais. Por que eu era o rei e eles, os servos? Rebelaram-se contra mim, fui preso à uma cadeira enquanto, assustado, via cópias de mim mesmo se matando bem na minha frente.

Por que eu estava me matando?

Fui o único que sobrou, tremendo de medo e desespero, enquanto o sangue se espalhava pelo chão. Eram tantas cópias que não pude me diferenciar. Eu era eu ou apenas um clone? Quem eu era? Quem era Jin no meio de todo aquele caos que sou eu?

Não importava quantas vezes eu tentasse esquecer, as imagens daquele dia sempre voltavam. Ouvia as vozes misturadas de minhas cópias – ou seria eu a cópia? – em minha cabeça, pressionando com força os meus neurônios. Chegou o momento em que não aguentei mais e decidi prendê-las; mesmo que por pouco tempo, eu não queria mais as ouvir. Então, escondi-me com uma máscara. Era melhor ser duas caras do que enlouquecer com minhas outras faces.

Ter me descoberto como vilão não foi difícil, os preceitos "heróicos" já não faziam sentido para mim. Eu queria, acima de tudo, companhia; e foi isso que encontrei quando entrei para a Liga dos Vilões. Shigaraki sempre foi estranho e na dele, mas eu o considerava um bom líder; Kuroguiri era misterioso e tinha um bom papo – e fazia ótimas bebidas –; Dabi fazia umas piadas estranhas, mas eu também as fazia, então os dávamos bem; e tinha ela, Himiko Toga, cujos olhos intensos sempre me cativaram. Arrisco dizer que a amava.

Entretanto, só fazer parte da Liga não era o uficiente; eu precisava mostrar meu valor, então, decidi recrutar novas membros para o chefe Shigaraki. Primeiro, foi Chiosaki, que havia sido explêndido em um simples assalto. Eu pensei que ele era a peça que faltava para os vilões chegarem ao topo; assim, apresentei-o a Tomura.

O resultado foi que Mr.Compress perdeu o braço e Magne, a doce Magne, foi morta. E fui eu quem fez aquilo. 

Mesmo com as perdas de nossos amigos, Shigaraki e Chiosaki fizeram um acordo e eu e Toga fomos juntar nossas forças à Yakuza de Overhaul. Passei a odiar estar ali e respirar o mesmo ar de um traidor; queria somente me libertar. Sentia que minha cabeça estava explodindo, que elas queriam sair.

Por isso, não foi preciso pensar duas vezes para que eu e Toga abandonássemos aquele lugar maldito quando os heróis chegaram. A Yakuza caiu e Shigaraki teve sua vingança contra Overhaul. Estávamos bem, crescendo e ganhando mais popularidade – até mais do que na época da ascensão de Stain. Mas, faltava algo:

Eu tinha que me redimir.

Mesmo com a vitória e a aliança com o Exército de Libertação, ainda faltava algo. Dias se passaram e Dabi apareceu com um novo membro, mas não um membro qualquer, não; ele havia trazido um herói.

Hawks, o herói número dois, estava do nosso lado.

Nós fizemos amizade rapidamente. Hawks compreendia meus pensamentos e objetivos, era uma ótima pessoa. Eu apenas queria que o resto do pessoa parasse de desconfiar tanto dele. Para mim, o "herói" não só era um vilão, como também um amigo, uma companhia.

Eu não estava preparado para sua traição.
Os heróis apareceram e nos encurralaram. Enlouqueci quando vi o lindo rosto de Toga imerso ao próprio sangue. Ela não respirava nem respondia aos meus gritos. O que haviam feito com seu lindo rosto? 

Se isso não bastasse, um deles arrancou a minha máscara. As vozes voltaram a gritar em minha mente. Elas estavam ali, me tocando, me puxando, como se tentassem me dividir em dois novamente; mas eu não queria. Eu tinha que proteger Toga e os meus amigos, mesmo que, para isso, precisasse superar o caos dentro de mim.

É preciso de caos para que se nasça uma estrela. Eu evolui naquele momento; com o medo, derrotei os inimigos e salvei Toga. Era só o que importava para mim; ela estando em segurança, eu estaria bem.

Só não esperava que iria me encontrar com Hawks, ao final de tudo. Ele tentou convencer-me a me entregar. Quem ele pensava que era? Assim como Chiosaki, Hawks era um traidor, machucou Toga e meus amigos. Eu o odiava! Mesmo que eu morresse, levaria aquele desgraçado comigo. Lutei com ele até que Dabi apareceu e o chamuscou até a raiz das penas. Estava realizado, sentindo meu corpo derretendo e minha consciência se esvaindo. Sabia que iria morrer, mas precisava fazer algo antes.

Corri, corri muito até que a achei.

— Jin...

Eu eternizaria a voz doce de Himiko Toga comigo. 

Me joguei em seu abraço mesmo sentindo que meus braços não a alcançavam. Meus caos teria fim. Espero que, onde eu estivesse, eu possa vê-los levando a Liga ao topo. 

— Obrigada por me salvar!

Ouvir aquilo antes de me liquefazer por completo me fez perceber que a morte sempre foi meu destino. No entanto, eu estava feliz por ter me sacrificado pela Liga, por Toga e por meus amigos.

Ao meu fim, eu finalmente encontrei o verdadeiro Jin Bubaigawara.