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Acordei cedo pra ver estava tudo bem na casa ao lado. Me separei de JJ silenciosamente e troquei de roupa, já indo apressada pra fora.

Acabei encontrando Sarah abraçando os joelhos e sentada na areia, tentando não ser pega chorando enquanto olhava pro mar calmo a sua frente.

Suspirei e caminhei até ela. Ao menos a garota ainda estava em Yucatan, o que já me deixava um pouco mais tranquila, embora ela parecesse bem arrasada.

- Sarah.

Ela nem se virou. Continuou tentando engolir os soluços e olhando pra frente.

Vendo que eu não teria chances de faze-la se virar pra mim, me sentei ao seu lado, sentindo meu coração se partir com cada choro abafado que ela dava.

Olhei pra ela, que ainda não olhava pra mim.

Reparei que seus cabelos estavam mais embaraçados que de costume, e que seus olhos já estavam inchados de tanto chorar, como se ela tivesse passado a noite em claro. Tentei procurar algum hematoma ou sinal de agressão e não encontrei nada. Aquele choro certamente era por algo mais além do que isso.

Não aguentando mais ficar só vendo ela chorar baixo, a puxei pra um abraço apertado, fazendo a garota desabar no meu peito. Sarah agora já chorava alto e não se importava mais em ficar escondendo isso.

- o Ward... - tentei começar, mas as palavras me fugiram de repente.

Senti ela se estremecer com o nome e me apertar mais forte. Alisei suas costas e prometi a mim mesma que não soltaria Sarah tão fácil assim.

- ele volta pra casa hoje a noite - ela disse.

Suspirei.

- e você não gost...

- mas dessa vez, é permanente - ela parecia nem me ouvir direito - ele disse que se eu quisesse ficar aqui, ele iria repensar o meu lugar na família. Como se eu não fizesse mais parte.

Fiquei quieta e a apertei, apoiando meu queixo no topo da sua cabeça.

- eu não consigo entender como um pai tem coragem de... - ela puxou o ar - é tão injusto, kie. O Rafe já matou a xerife e meu pai continuou do lado dele. Eu nem sequer cheguei perto de fazer o que meu irmão fazia! 

Ela se desmanchava em ódio, tristeza e mágoa a cada minuto, me deixando cada vez mais sem palavras.

- Sarah... - começei depois que ela parou de berrar palavrões - ser "pai" ou "mãe" não significa compartilhar do mesmo sangue. Se ele não te considera mais como filha, então certamente ele nunca foi um pai de verdade pra você, mesmo que não parecesse - ela ia começar a falar, mas dessa vez segurei em seu rosto e olhei no fundo dos olhos dela - e tá tudo bem não pertencer mais a aquele lugar... Nós podemos ser a família uma da outra. Na verdade, já somos. 

Ela finalmente tinha parado de se debater pra olhar pra mim.

- fizemos uma promessa há 9 meses atrás - continuei segurando ainda mais firme no seu rosto - e pretendo não quebrá-la. Vamos permanecer juntas nisso, tá bom? Com ou sem Ward.

Sarah de repente tinha ficado muda, mas me olhava com tanta gratidão que todas as lágrimas que escorriam por seu rosto passaram despercebidas. Tentei dar o meu melhor sorriso pra garota, que dessa vez se agarrou em pescoço, me abraçando de surpresa e voltando a me apertar.

Retribui seu gesto e ficamos assim durante um bom tempo. 

- eu te amo, kie - ela disse com a voz rouca e abafada contra mim.

A apertei mais ainda, fechando os olhos e inalando o cheiro de baunilha que ela tinha. Senti uma paz tão grande que por um instante, só nós duas existíamos ali na praia. Sem problemas, sem Ward, sem meus pais, sem Rafe. Somente Sarah.

JJ and Kiara//outer banks⛱Onde histórias criam vida. Descubra agora