snack bar

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Era tarde da noite, a lanchonete estava quase vazia, à não ser por Teresa que estava sentada atrás do balcão mascando um chiclete de menta e hortelã.

Muitas das pessoas que apareciam ali naquele horário apenas pediam coisas prontas ou encomendavam para que fosse levado às suas casas. Por esse motivo, a jovem estava sozinha, seu namorado fora fazer uma entrega e não voltara até então.

- Qual é, você deveria ao menos ter ligado! - bateu o pé no balcão e se esticou para trás, esvaindo a própria raiva. - Só espero que não tenha ido atrás daquela vaca, como da outra vez.

A verdade era que Teresa tinha um grande obstáculo em seu relacionamento. Mesmo que amasse incondicionalmente seu namorado, não era correspondida porque ele direcionava seus sentimentos à outra.

Tal que era mais bonita, mais feminina e mais carismática que ela própria.

- O que isso importa? - murmurou pra si. - Eu beijo bem, já basta, não?

Só que mais alguém estava ali ouvindo suas reclamações. Um rapaz de cabelos pretos e camiseta do 'the 1975' a encarava meio curioso e desconcertado e pigarrou para que ela notasse sua presença.

- A, Ah. Desculpe. O que deseja? - ela se ajeitou sobre a cadeira giratória e procurou por um cardápio em meio a bagunça na gaveta.

- Um completo, por favor. - ele falou, olhando o próprio que estava disposto do lado da estufa com três pastéis, um risole e um misto quente pela metade.

- Pra viagem? - perguntou, ainda desconcertada.

- Não. - ele se sentou em uma das banquetas e pegou o celular para mexer. - Uma cerveja também.

Cerveja? Teresa achava que ele tinha uma aparência jovem demais para beber cerveja. Mas não estava nem aí e muito menos sairia pedindo identidade dos outros por causa de 5% de álcool.

Ela pediu para que esperasse e foi para dentro da cozinha velha para ver o que podia fazer pelo rapaz. Ficou lá o que foram longos trinta minutos.

Seu tio era extremamente bom por deixar que ela trabalhasse ali porque não conseguiu passar na faculdade, melhor ainda por ensinar-lhe como fazer as coisas e depois largá-la lá com 50% dos lucros para ela. Gustavo, o namorado, foi apenas um bônus mal ganhado, um parasita, que tirava 30% de seus lucros para gastar com a ex-namorada.

Feito o pedido, ela entregou ao rapaz, com os acompanhamentos.

Mesmo que fosse desconfortável para ambos, ele comia exatamente em sua frente, vendo algum vídeo no celular ou respondendo alguma mensagem. Enquanto Teresa esforçava-se para manter a postura de boa-moça até que o cliente fosse embora, e ao menos desejasse voltar para fazer um pedido pra viagem.

- Quanto ficou? - ele perguntou, tirando a carteira do bolso e folheando as notas.

- 23 reais. - ela falou depois de calcular na maquininha que era melhor em exatas do que ela.

O rapaz tirou algumas notas e colocou no balcão, agradeceu e saiu, quase dando de encontro com um rapaz de regata e jaqueta jeans que carregava um capacete na mão esquerda.

Enquanto ele entrava, Teresa conferia pela terceira vez se estava certo. Ele realmente tinha dado os 23 reais certinho e, além deles tinha um pequeno papel com um número de telefone.

Uau.

Será que ele tinha se interessado por ela? Ninguém nunca a abordou dessa maneira, nem de forma alguma. Já que quem sempre tomava a iniciativa era ela mesma.

Mesmo que involuntariamente, ela sorriu e corou, e não foi a única a perceber que tinha algo além no meio daquelas notas.

- O que é isso? - Gustavo perguntou, mas Teresa colocou o papel no bolso, o dinheiro na caixa registradora e, pegando os objetos usados, foi para dentro da cozinha.

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