Capítulo 33

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A companhia de Hannah não estava fazendo bem somente a mim, mas a Emma também, era bem visível como as duas se davam bem, Emma com certeza via em Hannah uma figura materna, uma mãe que ela nunca pode ter. Era algo bem natural e gostoso de assistir a evolução.

Passando pelo corredor cheguei a vê-las no quarto de Emma, pareciam estar desenhando, fico algum tempo espiando com um sorriso bobo nos lábios, com certeza essa era uma das razões das quais ela me atraia tanto. Ter tanto carinho e paciência com Emma.

Vou para meu escritório e fico algum tempo analisando minhas finanças, quando saio dali já é de noite, chego na sala de estar bem no momento em que Hannah está passando pela porta de entrada, saindo da casa grande.

Fico um tempo receoso, mas acabo me decidindo segui-la até a varanda, vejo que ela observa o céu, parece distraída. Deveria estar pensando em seus problemas, talvez no seu passado misterioso, e em seus traumas que ainda não conheço, como eu gostaria de poder ler o pensamento dela naquele instante.

Me aproximo, parando ao seu lado, com as mãos no bolso de minha calça.

— E aí, como você está? — pergunto, para puxar assunto.

— Foi bom o meu dia, tipo, a calmaria... é como uma terapia! — Ela responde, me olha por poucos instantes, pois logo volta a se concentrar no céu.

Ficamos calados por um tempo, enquanto penso de como o local também me acalma, lembro de um detalhe que decido compartilhar com ela... o barulho do rio, talvez ela tenha a mesma opinião que a minha.

— Consegue ouvir? — pergunto.

— O quê? — Ela parece não entender.

— O barulho do rio. Ouça... — faço silêncio para que ela pudesse ouvir, e pelo semblante parece que realmente ela havia escutado.

— Não dá para vê-lo por conta da distância da vegetação á frente. Mas gosto de ouvi-lo, as vezes sento na varanda e fico apenas ouvindo esse som... ele é bem...

–... Tranquilizador? — Ela completa, sorrindo, concordo coma cabeça.

— O que é aquilo? Aquelas luzes flutuantes piscando...

— Vaga-lume, nunca tinha visto um?

— Não pessoalmente. Apenas em desenho animado... — Ela diz, e eu rio.

— Era novo para mim também... — digo me lembrando de como todos esses detalhes do campo fora algo novo para mim, ainda não sou um fazendeiro experiente, mas muita coisa já havia me acostumado.

— São lindos de se ver! — Ela diz ainda distraída com aquelas luzes. Ela sorri de uma forma tão bonita que é difícil de não admirar.

— É verdade, mas não tanto quanto você! — acabo falando sem pensar.

— O que? — Ela diz, parece surpresa com que havia dito. Por um instante penso em desconversar, mas sei que ela me ouviu, era a verdade e logo penso que não faz sentido em eu não afirmar o que havia dito.

— Só estou falando à verdade... — dou um passo na sua direção, tentando me manter confiante.

— Eu não sou tão bonita assim, sou uma mulher comum, que aliais, nem se arruma tanto, perdeu a vontade de fazer isso, depois uns baques na vida... — Ela olha para baixo, parece envergonhada.

— Também perdi a paciência de fazer barba... — admito, suspirando. — Mas você tem uma beleza natural, e um olhar profundo... que gosto! — digo e ela olha para mim. — Se você quiser... ainda o convite de jantarmos juntos está de pé! — tento, enquanto chuto o próprio o ar.

Lembranças CinzentasOnde histórias criam vida. Descubra agora