Sinto de novo aquela sensação, olho ao redor procurando por algo diferente, qualquer coisa que chame minha atenção, qualquer coisa que me faça ver razão em sentir aquela sensação, de que algo está errado, de que alguma coisa ruim vai acontecer, sempre que essa sensação vem é assim.
- Vai morrer aí ? - Jay grita para mim.
- Cala boca - Falo alto e meio desesperado.
- Não me diga que viu um inseto horrível - ele gritou enquanto vinha na minha direção.
Me abaixo e pego uma pedra de mana suja.
- Ei, cara! Para que pegou esse lixo ? Se você não procura direito não vamos faturar nenhuma grana. - ele falou enquanto mostrava uma pedra que parecia bem pura que ele tinha acabado de achar. Seu sorriso parecia que ia estourar.
- Pode falar, sou o mestre em achar pedras de mana.
- Você é o mestre. - falei enquanto olhava ao redor. Então Jay tropeçou do nada e sua pedra de mana voou longe.
- Merda, minha pedra de mana! - Jay gritou enquanto caia olhando para a fenda no chão para onde sua pedra havia rolado e caído.
- Desculpa Jay - falei cabisbaixo. Ajudando ele a levantar.
- Aaah, que falta de sorte cara, certeza que aquela valia 1 mês de suprimento.
- Eu sei, me desculpa.
- Por que tá me pedindo desculpas ? Foi eu quem derrubou.
- Bom, de qualquer forma conseguimos uma boa quantidade de pedras hoje.
Começamos a descer a montanha do Dente Divino e de novo me veio a sensação de algo estava errado, essa droga de maldição
Olhei ao redor e vi por acaso um vulto.
- Jay vamos acelerar - Falei baixo.
- Pra que cara, nós fizemos uma boa coleta hoje por isso saímos mais cedo.
- Eu sei, mas me escuta, tô sentindo que tem algo errado, juro que acabei de ver um vulto ali atrás.
- Deixa de neura cara, pode ter sido um animal ou inseto, sei la! - ele falou olhando para trás preocupado. Jay sabia dos riscos dessa profissão, os salteadores. Aumentamos o ritmo dos passos, a viagem de volta demora 40 minutos a pé, a gente só vinha até aqui porque essa montanha é rica em pedras de mana e a menos perigosa de se embrenhar, durante o dia ela era praticamente inofensiva e ainda mais para nós que crescemos correndo por florestas.
Quanto mais andávamos mais a sensação ficava forte, ignorei ela e continuei andando mas foi ficando cada vez mais e mais forte, como se tivesse algo andando sob minha pele quando olhei para o lado lá estava... Bafo, com seu sorriso cruel e seus olhos pequeninos e malignos olhando para mim, para quem não estava acostumado com Bafo ele tinha aparência quase que demoníaca. Segurei Jay pela manga da camisa, ele logo viu Bafo, Jay morria de medo Bafo, mas ele sempre fingia indiferença.
- Parados aí ! - falou Bafo.
A mão de Jay apertou mais forte o saco. Espero que ele não tente correr, os amigos de bafo formavam um círculo ao redor da gente para interceptar qualquer rota de fuga. Bafo começou a se mover, girando sua faca de komodo nos dedos e vindo na nossa direção.
- A Jay... Eu ainda te deixo com medo. - Ele falou como se fosse lamentável, mas seu sorriso asqueroso preenchia seu semblante.
- O que você quer Bafo ? Nós já te pagamos todos os dias a taxa que você impõe para gente. -
- Aquela taxa é para aquele território e você não está lá, está aqui, então... - bafo falou como se fosse uma observação inteligente
- Deixa de ser fudido bafo, se você quer que eu pague a taxa de novo eu pago. - Bafo deu risada enquanto parava a um palmo de distância de Jay. Dali dava para sentir o cheiro característico que lhe dava o apelido de "bafo".
- Jay, Jay... Você tem que aprender a ser mais respeitoso com seus superiores - Bafo terminou a frase dando um soco na cara de Jay, o impacto foi tão forte que ele caiu no chão. Pensei em me mover mas sabia que não resultaria em nada.
- Nova taxa é de 100% - Bafo falou enquanto pegava o saco de pedras de Jay e passava para seu braço direito Garra.
- 100% mas isso não é justo, passamos o dia todo procurando essas pedras - Falei implorando para bafo.
- E você acha que me importo, seu merdinha?! -
- Se você falar de mais vai ter que pagar a taxa também - Bafo falou rindo enquanto me dava as costas. O seu bando o seguiu junto, dava pra ouvir a risada deles enquanto ajudava o Jay a levantar.
- Cara, é sério, se um dia eu tiver a oportunidade irei matar esse maldito - Jay falou cheio de ódio. Seu lábio estava partido por causa do soco.
- Vamos para casa, você tem que colocar um gelo nisso aí -