Capítulo 16

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3 de maio de 2013/ noite


         —  O que você fez? —  esbravejou Osório, entrando na sala como um tornado furioso em direção à Lídia, que por sua vez cerrava os punhos e exibia um semblante nada amigável. —  O que foi isso de mandar Rosângela implorar para que Florence fique com Ben?

Maria, nos fundos da sala com os demais, se ocupou com o cabelo azulado de Aline, que começava a perder a cor, trançando as mechas, enquanto esta observava as câmeras da cozinha, onde os jovens jantavam em silêncio. Ícaro estava ali, animando a noite, rindo de uma piada suja, os fazendo comer de forma rápida, sem mastigar direito.

  —  Eles devem ficar juntos! —  Maria ouviu Lídia retrucar, visivelmente alterada. Ela vira a doutora bebendo uísque mais cedo, pensou em alertá-la, mas desistiu por fim. Foi melhor assim, pelo menos a moça pôde apagar as imagens de Otávio e seu caderninho antes que mais alguém visse.

  —  Se eles quiserem! —  Osório colocou uma mão na cintura e outra na testa, os olhos ávidos e intensos. —  Entende isso? É uma escolha dos dois, não sua!

  — Você não entende! — Lídia tentou levantar, mas a tontura causada pela bebida a fez despencar de volta na poltrona. —  Eles nasceram um para o outro. Teresa e...

  —  Teresa está morta! —  O grito assustou Maria, que acabou puxando com demasiada força o cabelo da colega. Desculpe, sussurrou e percebera que não era a única interessada na conversa, os outros —  até mesmo a reservada senhora Camila —  estavam atentos à discussão.

  — Mas Florence...

  —  Não vou deixar você prejudicar a garota ainda mais. Não faça nenhuma decisão por ela. Apenas estude seu comportamento. E pare de beber. —  Osório se inclinou sobre Lídia, prestando atenção nos olhos avermelhados e sentindo o cheiro da bebida impregnado em sua roupa. —  Alan, por favor, leve a doutora para o quarto. Ela não está bem.

Alan obedeceu rapidamente, deu a volta na sala e pegou Lídia no colo, como uma bonequinha, e a tirou dali. Com o silêncio recém instalado, os trabalhos de observação e anotação continuaram. Aproveitando a brecha, Maria ocupou a cadeira ao lado de Osório.

  — Quem é Teresa? — Sabia que seria intromissão de sua parte, mas já havia escutado o nome várias vezes e lembrava de que, quando estavam no hotel, havia uma foto da tal mulher na sala que usavam. Tudo o que se lembrava era a semelhança dela com Florence, o que julgou uma coincidência besta.

  — Digamos que ela seja o motivo de tudo isso —  respondeu sem pressa e sem mais explicações profundas, deu as costas a Maria e foi até a porta aberta, olhou para os lados no corredor e meneou a cabeça para que ela o seguisse. Curiosa, ela o fez.

Uma vez fora da sala, Osório fechou a porta e respirou aliviado na escuridão do corredor, havia apenas uma luz vermelha na parede oposta, o que não era muita coisa.

  — Acho que essa pesquisa não vai durar o tempo que esperamos —  comentou.

  — Por que diz isso?

  — Otávio. Ele está começando a desconfiar. Não vai demorar muito para todos pensarem como ele. A desconfiança é um vírus que contagia muito rápido.

  —  Vi ele conversar sobre algo assim com Florence, mas apaguei as imagens —  informou baixinho, com vergonha de seu ato. Esperou Osório brigar, mas ao invés disso ele sorriu.

  —  Fez muito bem. Ouça, precisamos acelerar essa pesquisa, afinal, já temos mesmo muitas informações. Minha intuição me diz, e ela não falha, que vamos ser desmascarados em breve.

  —  Devemos avisar Lídia?

  —  Não! Lídia tem... Como posso dizer? Se afastado do objetivo da pesquisa. Por conta de Teresa e Florence.

  — Mas quem é essa mulher e por que é tão importante? — Ousou aumentar o tom de voz e, assustada, olhou em todas as direções, ninguém apareceu.

Osório se entregou ao silêncio. Maria entendeu que aquele era um assunto indelicado e tentou juntar as peças soltas daquele quebra-cabeça quando o doutor voltou a sala e a deixou sozinha. A pesquisa é por causa dela? E ela se parecia com Florence e estava morta. Então, de uma vez só, provocando um arrepio em sua pele, a triste verdade montou o quebra-cabeça e mostrou a imagem: uma mulher que não sobrevivera a um trauma.

Fim da parte II


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Demorei um pouco, mas saiu. Esse foi o fim da segunda parte e sim, o livro está finalizado.

A parte III começará a ser postada domingo. Tem muitas emoções e o desfecho dessa história.

Nos vemos em breve!

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