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Diarra Sylla

Sabe quando você não está totalmente dormindo, mas também não está totalmente acordado e algo te faz ficar alerta? Foi essa a exata sensação quando Sina me arrastou para o lado de fora do salão, eu me lembro de tudo que aconteceu, desde descer as escadas e beber champagne até quando passei por a porta, agora fechada e com Noah do lado de dentro.

- Sina, ele tá lá dentro. - Sabina diz olhando desesperada para a loira enquanto tenta a todo  custo abrir a porta. - Sina, por favor...

- As portas só vão se abrir depois da meia noite. - Sina se encolhe, ela olha nervosa para todos nós como se não soubesse o que dizer. - Me desculpa, Sabina. Mas eu não posso fazer nada.

- Você vai herdar a porra dessa maldição, a porra desse feitiço! - Sabina avança na direção da futura Cinderela que recua. - O que você vai fazer quando um filho seu estiver lá? O que você vai fazer quando não puder controlar as atrocidades que acontecem ali dentro?!

Meus olhos caem sobre a loira, que parecia estar a ponto de surtar. Ela murmurava algo que eu não ouvia, Shivani e Sofya até tentaram se aproximar mas ela afastou as duas. O que tanto atormentava Sina? Sabina ainda gritava com ela, mas eu não conseguia prestar atenção no que ela falava. Sina sempre rebatia qualquer pessoa que sequer erguesse a voz para ela, não tinha medo de usar todas as armas que possuía contra quem lhe ofendesse. O que aconteceu com ela lá dentro?

- Sabina, chega. - Eu seguro o braço dela com firmeza, a morena me olha com fúria.

- Diarra, não é o seu conto de fadas que está em jogo. - Ela diz ríspida, os olhos queimando de raiva.

- Tem razão. - Eu digo ainda com a mão firme no braço dela.

- Você dará uma boa vilã, Sabina. - Uma voz suave comenta o que faz todos olharem para o jardim.

E lá estava ela, sentada em um banco. Uma expressão tranquila tomava conta de seu rosto, e quem não conhecesse as coisas que ela faz e fez diria que é uma boa pessoa. Malévola tinha esse poder, de parecer boa quando na verdade é podre por dentro.

- Fudeu. - Ouço Sofya dizer baixinho.

- Onde está Dieval? - Malévola pergunta com um sorriso, como se ela não fosse a pior personagem da história dos contos de fadas.

- Bem aqui, minha senhora. - Dieval diz aparecendo na outra ponta do deck, Any bufa. - O príncipe está lá dentro, exatamente como a senhora pediu.

A voz dele falha na última frase, eu sinto Sabina se apoiar em mim. Ela respira fundo, os olhos que antes me olhavam com fúria estavam cheios de lágrimas.

- Como você pode, D? - A futura Madrasta pergunta. - Eu esperava mais de você. Esperava mais de alguém que eu considerava meu amigo.

- Eu esperava mais de você também. - Malévola fala calma enquanto analisava as unhas. - Pensei que conseguiria ser má o suficiente para fazer a princesinha falar, afilhada.

Eu vejo pelo canto dos olhos Sina se encolher, o medo tomava conta dela e isso me deixou com medo.

- Vamos, Deinert. - Dieval fala zombeteiro. 

- Conte para seus amigos o segredinho da sua família. - Malévola se levanta e caminha até ficar frente a frente com a loira. - Conte para seus amigos que toda essa pureza de princesa é uma farsa. Conte para eles sobre a vadia que você realmente é.

Um soluço sufocado sai dos lábios de Sina que não aguenta e cai sentada, os sapatos de cristal sendo finalmente colocados a mostra quando ela puxa as pernas contra o peito, ela soluça mais uma vez e a bruxa sorri triunfante.

Os DestinadosOnde histórias criam vida. Descubra agora