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Vincent para o carro na frente da minha casa e eu encosto a cabeça no vidro, estou sem vontade para voltar a encarar toda a realidade.

— Estamos encrencados com o Colégio — digo cansada e meu irmão ri.

— Eu não sei mais quanto tempo vou aguentar como um professor —ele destrava as portas e eu abro para sair— Você vai ficar bem?

Olho para ele e concordo com cabeça, Vincent não diz nada só acena com a mão e sai com o carro. Caminho em direção a porta mas levo um susto.

— Devo me preocupar com o seu sumiço junto com o professor de literatura? — Luke estava sentado esse tempo na minha varanda.

— Ele é meu irmão — olho para ele de canto de olho, um pequeno sorriso surge em seus lábios e ele se levanta.

— Eu sei, fiz minha lição de casa — Luke coloca as duas mãos atrás da cabeça e me analisa de cima a baixo — Isso quer dizer que tenho uma chance com você?

Não posso evitar a risada, abro a porta e nós dois entramos. Começo a subir as escadas com ele me seguindo logo atrás.

— Sabe, você realmente é engraçado as vezes — respondo pela sua pergunta a alguns segundos.

— Bem, eu geralmente estou falando sério. É você que leva na brincadeira — olho por cima do ombro e vejo que ele esta olhando para seus pés com o semblante sério.

Quando ele percebe que estou encarando, rapidamente surge o seu sorrisinho de deboche. O que você quer tanto esconder, Luke?
Abro a porta do meu quarto e começo a ligar o computador para o trabalho. Enquanto isso vou até o closet e tiro minha roupa para colocar uma mais confortável.
Volto para quarto e Luke está sentado na minha cama olhando para algumas fotos na parede.

— Você fica bem de cabelo comprido — ele aponta para uma antiga foto onde meus cabelos ainda eram compridos.

— Quis mudar um pouco — respondo seria olhando para suas costas.

— Um pouco — diz baixo como se tivesse analisando minhas palavras.

Luke se vira para mim e me encara seriamente, sem sorrisos, sem deboche. É só o Luke ali me olhando.

— Até quando vamos jogar esse jogo? — questiona e se levanta vindo em minha direção — Vejo nos seus olhos que você se lembra, o seu comportamento mudou.

Ele está a dois passos de distância de mim, não desvio o olhar e sinto que minha feição é mais fria do que deveria.

— Acho que posso jogar esse jogo por mais algum tempo — Luke suspira e desvia os olhos para o anel no meu dedo, ele pega minha mão e fica circulando o pequeno girassol.

— Ele sabe? — sua voz sai em um sussurro arrastado.

— Não e nem vai, ninguém pode saber disso, Luke — ele sorri fraco e solta minha mão.

— Se eu descobri ele também vai, o que está acontecendo Emy? Tem algo a mais nisso, não tem? — suas perguntas soam mais como uma afirmação.

— Não me faça perguntas que não posso responder — me viro de costas e vou para o computador começar o trabalho.

Luke senta ao meu lado tentando prestar atenção no que estamos fazendo mas eu percebo que de tempos em tempos ele me encara.
Quando terminamos o trabalho, eu desligo o computador e fico olhando para sua tela escura. O ar de repente ficou pesado e a tensão entre nós é palpável.

— Você não mudou nada — sua voz me obriga a olhar em sua direção, Luke tem os olhos perdidos pelo local.

— Isso é ruim? — a pergunta sai sem que eu me desse conta.

O moreno sorri e me olha nos olhos, ele parece pensar na sua resposta.

— Eu não sei e confesso que tenho medo de descobrir — sua confissão me deixa confusa.

— Medo? — ele se levanta e caminha até minha porta.

— Tenho medo de descobrir que eu também não mudei a respeito de você — Luke me olha por cima dos ombros — Te vejo amanhã no Colégio.

Assim ele sai do meu quarto e logo ouço a porta da frente se abrindo e fechando. O anel dourado brilha em meu dedo só para me lembrar que ele está ali. E eu me pergunto: o quão a gente não mudou?

                                   🌻

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