Pequenas Memórias

Promessas

Nem lembro a última vez que pensei no que de fato aconteceu naquele tempo, eu só queria sentir algo, me ver através dos olhos de alguém. Ser desejado.

E lá estava eu saindo do ensino Médio rumo ao desconhecido, talvez por eu sempre me fechar em relação as pessoas eu não tive tantas experiências com convívio social. Triste não ?

Eu tinha uma mania de ler embaixo da escada do prédio, não sei bem se era por conta do silêncio ou o sentimento de estar sozinho que me atraia. E lá estava ele, sentado na sacada do outro lado da rua, com fones de ouvido e uma garrafa de cerveja na mão, me perguntei várias vezes o que ele estava pensando. Será que ele é Casado ? Ou brigou com a namorada, o olhar dele parecia vazio, uma imensidão de nada. Era isso me fazia sentar debaixo daquela escada e ler, pq de tempo em tempos eu podia ver ele sair pra tomar um ar, posando como uma obra de arte a Luz da lua. É bobo da minha parte eu sei, mas ele era atraente, não estou me desmerecendo, mas nem chego aos pés.

- Caio ? Tu tá aí de novo ? Cara um dia vão te confundir com um animal e te dê baterem com alguma merda. - Tão exagerado como sempre. Não o culpo depois que meus pais foram morar em outro estado tô morando com um primo de segundo grau que é o exemplo de filho, acho que é por isso que meus pais me deixaram aqui sem exitar.
- Ah... Desculpa é que eu gosto de ler aqui, é calmo. Vc comeu ? Deixei frango no forno.
- Não. Tô sem fome, comi no trampo. Vê não fica acordado até tarde, tu tem aula amanhã.
- Pode deixar. Boa noite.

Acho q vou na mercearia comprar um refrigerante, a localização aqui é boa, tem comércio próximo e a localização é até legal, fora a distância da faculdade o resto é moleza.

- Boa noite seu Manoel. - Manoel é um sujeito baixo e barbudo, de alguma forma eu acho ele muito parecido com o papai Noel.
- Boa! Pode ir entrando. Qualquer coisa tô aqui.
   As revistas são as melhores eu paro e fico a metade do tempo que eu venho aqui lendo pra vê se vejo algo bizarro.
A Porta Abre
Bom... Eu me considero desastrado, mas essa vez foi o cúmulo, bom resumindo, eu peguei o refrigerante no freezer e fui andando em direção ao balcão de revistas até o Manoel voltar, sem perceber a porta abriu e lá está a ele, o motivo das minhas várias horas lendo embaixo da escada em pé atrás de mim, aí eu virei e abri o refrigerante, foi automático... Talvez nervosismo, mas eu jorrei refrigerante nele, logo em seguida queria ter morrido.

-Ah Merda! Vc me molhou todo Cara!- A voz dele é mesmo sexy.
-Des.. Desculpa, eu não... Foi sem querer, juro que não foi minha intenção. Eu ajudo a limpar.
- Rápido, vê se acha algo pra enxugar.
Por mais que eu procurasse eu só conseguia ver papel higiênico e lenços humedecidos pra bumbum de bebê, pensa Caio.
- Bom... Usa meu casaco, já que eu te sujei de qualquer forma.
- Tem certeza ? Eu aguento voltar molhado até em casa. Relaxa, pode ficar com o casaco.
Tão Legal! Eu provavelmente sou um idiota.
- Sério, eu sinto muito. Se tiver alguma coisa que eu possa fazer é só falar.
- Que tal pagar uma cerveja ? Eu aceito como consolo.
- Pode ser. Então... Eu meio que tô sem grana agora, mas eu prometo que eu te pago assim que tiver dinheiro.
Se eu tivesse trazido a carteira seria bem mais fácil, agora ele vai pensar que eu tô enganando ele. Droga!

- Tu é Parente do Lucas né ? Aquele cara do final da rua ?
- Ele é meu primo. Moro com ele por enquanto.
Ele sabe quem eu sou ? Surto interno!

- Agora não tem pra onde fugir, tá me devendo uma gelada. Eu sei onde vc mora.
Isso é uma ameaça ? Mais surto interno!

-Ah... Bom... Tá, quando quiser é só me avisar que eu pago.
- Que tal no sabad...

- Ei meninos, que bagunça. Se afastem vcs podem cair. O chão tá todo molhado.
- Desculpa seu Manoel. Não foi por querer.
- Essas coisas acontecem garoto.

Ele disse Sábado ? Ou eu imaginei ele dizendo isso ?
- Boa noite pra vocês, eu tô indo. Tchau Manoel! Até depois parente do Lucas, você me deve uma cerveja. É uma promessa.

Alguma coisa no olhar dele me deixou com calafrios. Que merda eu fiz?Devia ter trago a carteira.