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- Eléonora!

O alto tom de voz introduziu-se nos meus tímpanos obrigando-me a abrir os meus olhos e saltar da cama, num gesto rápido, concluindo que, pelo tom de voz empregado pela minha mãe, estaria, extremamente, atrasada para a faculdade, e, logo, adentrei na casa de banho situada na divisão ao lado do meu quarto para iniciar um banho rápido que servia, não só, para expulsar as impurezas do meu corpo, como também, para acordar-me do sono que, ainda, tentava puxar-me de volta para o conforto dos lençóis. Depois de dar como concluído o meu banho, que, ao máximo, tentei não prolongar como era de costume, retornei ao interior do meu quarto, caminhei para o guarda-roupas, retirando algumas peças de roupa que consistiam numa saia preta e uma camisola de algodão de magas compridas e, de seguida, voltei o meu corpo para a cómoda de gavetas que continham, na primeira delas todas, os collants pretos e a minha roupa interior. Enverguei a indumentária escolhida, finalizando-a com o calçar dos botins pretos de salto alto, que sempre utilizava para esconder a minha estatura baixa, e acomodei as ondas naturais do meu cabelo loiro escuro.

- Eléonora! – A minha mãe retornou a evocar coagindo-me a apressar os meus movimentos.

Num ápice, peguei na minha mala que guardava os materiais do meu curso e desci, num ritmo apressado, as escadarias que me conduziam ao piso inferior que albergava a cozinha, as salas de estar e jantar e o escritório da minha mãe, mais utilizado por mim e pela minha irmã. No entanto, assim que penetrei a cozinha e ao notar no vestuário da última, conduzi, imediatamente, o meu azul-esverdeado para o pequeno televisor suspenso no ar, mas amparado por um suporte de metal, inferindo que nos encontrávamos no primeiro dia do fim de semana.

- Leva o teu irmão ao treino de natação. – Os risos da minha irmã encheram o ambiente silencioso da divisão, aumentando a minha irritação e frustração.

- Porque não pode ser a Olívia? – Inquiri, ocupando o banco à frente da bancada de cozinha.

- Porque te estou a pedir. – Perante a contraposição da empresária na área automóvel, revirei os olhos, discretamente. – Revirar os olhos não te leva a lado nenhum, Eléonora. – A mais velha continuou ao mesmo tempo que auxiliava o rebento mais novo com o pequeno-almoço. – Necessito que faças umas compras durante o período de treino do teu irmão. Entre nós as duas, és mais responsável que a tua irmã para fazeres as compras para a casa. – No meu ouvido, murmurou a última frase com a intenção de arrancar um sorriso dos meus lábios, sendo bem-sucedida.

Desocupei o banco e procedi ao caminho de volta ao meu quarto, com uma peça de fruta nas mãos para consumir como pequeno-almoço, com o objetivo de aliviar o peso da minha mala ao retirar os materiais da faculdade, apenas, deixando a obra literária que lia nos meus tempos livres para me distrair, muitas vezes, da faculdade. Retornei à sala de estar, onde aguardei por Henrique enquanto me abstraía com o programa de entretenimento televisivo apresentado no ecrã do televisor.

- Aqui tens a lista das compras. – A minha mãe indicou, entregando-me o pequeno papel preenchido com a sua escrita. – Peço-te para explicares a ausência do Henrique nos treinos da última semana e entregares o atestado médico. – Aceitei a mica que continha os papeis impressos pelo hospitalar e guardei-os no interior da minha mala deixando uma nota mental na minha cabeça para não me esquecer. – Obrigada, querida. – Os meus cabelos loiros escuros foram beijados pelos lábios da empresária que ofereceu um último sorriso antes de entrar no escritório para prosseguir com o seu trabalho.

Henrique desceu as escadarias manifestando alguma dificuldade devido à mala de treino carregada com o equipamento e, de imediato, levantei-me indo ao seu socorro e agarrei na mochila, acomodando-a à volta do pescoço do mais novo. O de dez anos de idade encurvou os lábios num belo sorriso contagiando-me. Abandonámos a habitação e iniciámos o percurso, a pé, até à estação de comboios por entre longas e vivas discussões sobre diferentes tópicos. A minha relação com Henrique sempre fora próxima, desde o dia em que ele nasceu, evidenciada nos momentos próximos que já tínhamos partilhado até ali e, sempre fora assim, provavelmente pela minha característica paciência, em oposição com Olívia que preferia permanecer no seu canto, sem chatear e sem ninguém a chatear.

touch and go | ruben dias [slow updates]Onde histórias criam vida. Descubra agora