Capítulo Único

9 3 0
                                    

– Eu não aguento mais, Gu. – Escutei a confissão da garota ao meu lado, suspirando junto com ela.

Bianca Rodrigues era popular no Colégio Einstein. Estava sempre rodeada de pessoas, com um sorriso perfeito estampado em seu rosto. Mas quando seus olhos esverdeados me encontravam no outro lado da sala, eu sabia que ela estava prestes a quebrar.

Sabia porque, mesmo não falando comigo pelos corredores da escola, era a mim que ela confessava todas as suas dores, em cima do telhado da minha casa. Era para mim que ela tinha contado sobre sua vontade de não viver mais. Era para mim que ela tinha pedido para ficar.

Bianca era a garota mais forte que eu conhecia em toda a escola. E ela só tinha 16 anos.

– Eu só queria que esse pesadelo acabasse. Essas marcas vão me perseguir pelo resto da minha vida, Gu, e eu não aguento mais.

Pensei em dizer alguma coisa, mas, em vez disso, prendi meu olhar na garota ao meu lado, enquanto ela olhava a lua.

Eu queria poder protegê-la. Eu queria ser forte o suficiente para enfrentar seu pai. Eu queria tirá-la de todo aquele pesadelo.

– Nós podemos denunciá-lo, Bi. Você pode vir morar comigo e com o meu irmão.

Ela sorriu, triste. Vê-la assim me partia o coração.

– Você sabe o que aconteceria, Gustavo. Eu sou só mais uma. Uma estatística. Nada aconteceria com ele.

Uma estatística. Ela não mentiu quando disse que seria apenas isso. A política desse país me enojava. Enquanto seu pai saia impune, por ser alguém importante, Bianca estava prestes a quebrar. E não havia _nada_ nesse país que a protegesse. Nem mesmo sua mãe.

– Ele fez de novo ontem.

Sua voz saiu dura e fria. Eu mataria aquele desgraçado.

– Minha mãe não estava em casa. Eu não consegui impedir dessa vez, Gu. Acho que acabei desmaiando depois, mas não lembro.

– A culpa não é sua, Bianca. Você sabe disso, não é?

– Sei? Às vezes eu me pergunto se não há nada que eu possa fazer para impedir. Às vezes eu me pergunto se sou uma filha tão ruim assim.

– Você não é. Prometa para mim que nunca, nunca, vai se sentir culpada. Ele é um filho da puta nojento e só ele carrega a culpa de tudo isso, ok?

– Ok. – Sua voz saiu num sussurro.

– Promete? – Estendi meu mindinho. Não se quebrava uma promessa de dedinho.

– Prometo. – Ela cruzou nossos dedos. Então, passei meu braço por seu ombro, escorando seu corpo no meu, e beijei o topo de sua cabeça, sentindo as lágrimas escorrerem pelos meus olhos.

Eu amava aquela garota. Muito. E eu só queria poder proteger ela, de tudo.

Eu acho que era o único que sabia de tudo isso. Quando vi, pela primeira vez, o roxo em várias partes do seu corpo, sabia que algo estava muito errado.

Foi difícil conquistar sua confiança após isso. Ela sempre parecia tão segura pela escola. E era discreta, também. As pessoas da escola eram falsos moralistas. Sempre foram, por isso acho que ninguém nunca percebeu. Nem mesmo aqueles que a chamam de melhor amiga.

Luar {One Shot}Onde histórias criam vida. Descubra agora