The sun didn't rise

Capítulo 1 - Sol

- Bom dia Tyler, são exatamente oito horas da manhã, bom dia Tyler são exatamente oito horas da manhã. Conforme sua agenda, reunião às dez e encontro as vinte

Suor, ansiedade e desespero. Os sapos da minha barriga estão mais gelados e saltitantes do que nunca. Não esperava menos que um ataque de ansiedade hoje, saber que uma única reunião de emprego pode definir todo o futuro da minha vida profissional não é tão reconfortante, acho que desespero e desamparo são palavras com peso suficiente para descrever uma parte do que estou sentindo. Aguentar tudo isso é meio complicado, mas não posso perder a cabeça, não hoje. Perder a cabeça hoje pode definir o fim de um futuro relacionamento que poderia se desenrolar a partir do encontro com Jenna. Não tenho certeza se o dia está mais frio que o habitual ou é só o meu medo me consumindo de pouco em pouco.

Minha boca está mais fedida que a porta de um lixão, esse é o resultado de café, energético e porcaria o suficiente para aguentar mais uma noite acordado para estudar ao certo tudo o que preciso apresentar sem me enrolar com as palavras. A água da pia está incrivelmente gelada, gela toda minha boca ao enxaguar e tirar como se nada fosse o sabão resultante de uma escovada propositalmente mal feita e preguiçosa. O dia está mais frio que o habitual, mas mesmo assim acho que tenho tempo para uma rápida ducha na tentativa de me fazer voltar para a realidade, a água quente comparável como lava me encanta ao escorrer por cada molécula do meu ser e levando todos meus pensamentos e minha ansiedade junto. Acho incrível o poder que uma água quente tem sobre mim, me faz ser uma nova pessoa, relaxar cada músculo de cada parte do meu corpo me colocando em um transe inexplicavelmente delirante.

Que?
Como assim?
O sol ainda não nasceu? Ou será que é meu despertador que está errado? Não parece… Muitas pessoas estão na rua pra ser esse horário. Eu acho que estou passando mal, as coisas estão girando e eu ficando cada passo com mais ânsia de vômito, Hoje não, por favor, hoje não! Cada passo que dou sinto que uma pedra é colocada propositalmente na mochila cinza e vermelha que carrego. Tenho que chegar no carro.

°   °   °

Uff, se não fosse esse remédio não sei o que seria de mim.

- Dia pra você que acabou de acordar, agora são exatamente oito horas e trinta e seis minutos repito, oito horas e trinta e seis minutos. Ainda não temos novas atualizações sobre o sol, tudo o que sabemos é que talvez seja melhor se abrigar, as coisas podem começar a ficar meio frias por aqui nos próximos dias, já que não temos data definida para o sol voltar, ou pelo menos para voltarmos a vê-lo.

HAHAHA
Não pode ser, estão de brincadeira comigo. Eu estou literalmente no meio da pista do trabalho, não tem como…

- Noticias de ultima hora sobre o sol, é recomendado que todos os que estão na rua se abrigue imediatamente, isso não é um treino, repito, não é um treino!

PORRA! NÃO, POR QUE ISSO?
Eu não tenho a mínima ideia do que fazer, estou longe de casa e não faço ideia de pra onde vou.

- Alo?
- Oi filho, não temos tempo pra conversar, temos que nos abrigar…             - O nosso bunker fica perto do seu trabalho, por favor vá lá e abre que eu vou tentar chegar o mais rápido possível com sua mãe
- É o mesmo de quando eu era criança?
- Isso, o mesmo. Vou desligar, te vejo lá e te amo.

Cacete, eu não posso ter um ataque agora, não no trânsito e muito menos em meio do que a gente não sabe o que é. Mas mesmo assim, acho que o desespero começa a tomar conta do meu corpo como um todo, já estou a 100km/h e não tenho expectativa de diminuir a velocidade, não até chegar lá.

°   °   °

- Oi, filho
- Oi pai, cade voce e a mãe?
- Não vamos conseguir chegar a tempo. Se abrigue a gente te ama!
- Também amo vocês, me liga a hora que der
Se der eu ligo, mas não crie muitas expectativas, ninguém tem certeza sobre o que pode acontecer, se abriga filho, e até logo

Ele sabe de algo, eu tenho certeza que ele sabe o que está acontecendo, seria impossível que o bunker estivesse em tão bem estado se não fosse  para ser usado, ele sabe de algo.

Tem um rádio, os botões dão nos em meus dedos e me enrolam como se as engrenagens e fiações a sugarem na tentatva de fazer ele funcionar, mas sem sucesso. Até que

- Oi?
- CONSEGUI - tá mas quem é ele? Um frio incontrolável toma conta de mim só por lembrar que ainda existem muitas pessoas más e estar falando com ele sobre um bunker pode ser o passo que ele precisa para invadir aqui.
- Que bom?
- Desculpe, não me apresentei…
- Tudo bem, acho que em uma situação como essa, estresse é inevitável…
- Pois é, mas qual seu nome?
- Josh - Nossa, que nome interessante...