Por meados de 1885, a família Rowe era a mais rica do Condado de Bedfort. Beatrice era a filha mais velha, recebendo todos os mimos por isso. Vocês bem devem saber: joias, vestidos bufantes de lã, linho ou seda, calções de algodão novos, anéis de brilhante, coroas, presilhas e tudo o mais. Logo depois vinham suas irmãs: Betsy, Amélia e Helena; sua mãe Frederica e seu pai, Abraham.
Beatrice era a "preferida" de seu pai, sempre recebendo muitos presentes e roupas praticamente todos os dias, o que acometia ódio e inveja em sua mãe e irmãs, que a odiavam internamente. Elas viviam sempre em pé de guerra, porém a garota nunca era privada de nada, pois, por ser a principal herdeira, mandava e desmandava nos empregados, opinava nas decisões da empresa de seu pai e até mesmo decidia quando iriam comer ou não.
Além de tudo, Beatrice era uma mulher elegante, finíssima, sempre arrumada e devidamente maquiada. No entanto, era arrogante. A herdeira dos Rowe era uma garota mimada, egoísta e cheia de si, capaz de derrubar tudo e todos para conseguir o que quer. Beatrice maltratava seus funcionários, os comerciantes do condado e até mesmo sua própria família, desprezando-os com crueldade e superioridade.
- Margaretta, faça-me a gentileza e anda-te até aqui! – Mandou uma voz masculina autoritária. Abraham Rowe Creassey não era exatamente o homem mais bondoso do mundo, na verdade, ele era conhecido por ser frio e responsável, visando sua família e a empresa em primeiro lugar. No entanto, ele possuía seus princípios. Tinha cabelos castanhos curtos e sempre arrumados, olhos azuis brilhantes como safira e a pele bronzeada. O pai de Beatrice sempre usava roupas feitas à medida pelos alfaiates: camiseta de botões e gravata preta, calça e sapatos sociais, frock coat, studs, abotoaduras, anel de casamento, cartola, bengala e relógio de bolso dourado. Suas roupas sempre variavam do preto e cinza. Seu rosto era bonito e rugoso, porém de expressões joviais e ele possuía uma barba bem-feita e castanha.
- Papai, lembro-me de ter-lhe pedido para não me chamar de Margaretta! – Exclamou ela, chegando no escritório sofisticado de Abraham, que ficava no primeiro andar da casa. Era um lugar espaçoso, com muitos livros, gavetas e estantes. No centro, estava a grande mesa de trabalho onde o senhor seu pai sentava, uma cadeira acolchoada e grande, muito parecida com um trono. Beatrice sorriu ao vê-lo, mas o mesmo não parecia muito feliz.
- Que história foi essa de que ouvi a qual a senhorita destrata meus funcionários? – Perguntou ele, severo.
Beatrice franziu as sobrancelhas. Por falar nela, Beatrice era uma jovem mulher de madeixas loiras, olhos escuros como carvão, lábios vermelhos e bochechas coradas. Suas roupas, compostas pelos calções, ajustes de mangas, o corpete e a crinolina, estavam por baixo de um grande vestido azul claro sem babados e saia volumosa. As mangas bufantes eram compridas e o xale, branco.
- Funcionários? – A garota perguntou perplexa, rindo logo depois. – Ora, papai, são vermes! Desde quando devo trata-los bem?
- Desde que a senhorita bem conhece as leis, saberá que a abolição da escravidão já foi oficializada há muito tempo e que agora hão de ser funcionários assalariados. – Disse Abraham, irritado. – São pessoas como vós, Margaretta. Quando irá entender isso?
- O senhor mesmo ensinou-me isso. Agora que está tentando compra-los com falsa gentileza, devo fazer o mesmo? Não o farei. Está decidido. – Rebateu a garota, irritando mais ainda seu pai.
- Eu quem decido as coisas por aqui, mocinha. Ou você começa a tomar rédeas dessa arrogância ou tirá-lo-ei teus privilégios dentro desta casa. – Afirmou Abraham, encarando a faceta indignada de sua filha.
- Que seja! Vou sair. – Resmungou a garota.
- Perfeito, vá com Helena até a loja de tecidos. – Disse o homem, deixando Beatrice um pouco mais feliz com a ideia de fazer novos vestidos.
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Lábios Vaidosos
RomanceBeatrice Louise-Margaretta Skeffington Rowe era uma mulher esplêndida, arrogante e fina, vivendo em um berço de ouro na Inglaterra Vitoriana, foi amaldiçoada pelo pecado da Gula. Enquanto os anos passavam, sua vaidade e egoísmo cresciam cada vez ma...