Me olho no espelho, olhos puxados, quase fechados,
Cabelos lisos revoltos.
Se minha pele fosse mais escura, me chamariam índio.
"Ei,japa!", "De onde você veio?"
"Onde você nasceu?" "Arigatô"
Olhares de descrença quando digo que sou
Tão brasileiro quanto meu interlocutor.
"Mas como não fala japonês?
Nem gosta de ler mangá,
Nem de comer peixe cru?"
Mas que japonês paraguaio é esse?!?
Que vai em terreiro em vez de templo xintoísta
Que fica com água na boca diante de uma feijoada
Em vez de babar por um sushi?
Não perguntam pra um branco ou negro de que país ele(a) é;
Se é da África ou das Oropas
Se é português, italiano ou espanhol.
Se é de Angola, Zâmbia ou Sudão.
Mas se veem alguém de olhos puxados
É japonês, chinês ou coreano,
Nunca brasileiro.
Não posso negar; está na cara.
Sou de etnia japonesa, se quiserem
Mas não me neguem a brasilidade.
Não posso, bregamente, declarar:
Eu não sou japonês não.
Sou nipo, sim - nipo-brasileiro,
Brasileiro nipônico
Ou simplesmente
Um brasileiro cujos ancestrais
Chegaram depois.
Sou japa E sou brasileiro.
Sou brasileiro E sou japa.