Capítulo 9

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Horas. Apenas haviam se passado algumas horas, e a vida dele tinha ganhado mais emoção do que nunca ganhou antes durante esses oito anos.

Os três irmãos estavam encarando a menina já fazia algum tempo. Pouco, na verdade, mas eles não percebiam isso. Não conseguiam tirar os olhos dela.

Jace estava tremendo - um pouco - e sentia as mãos geladas. Ele não havia chorado, mas aquela única lágrima - que não pode ser considerada um choro - tinha sido formada sem que ele se desse conta. E as palavras que saíram de sua boca simplesmente... saíram. Mas faziam um sentido tão absurdo que era impossível escutá-las e não ver que eram realmente falavam a verdade.

"Um verdadeiro anjo... só que sem suas asas".

Desde que Clary foi embora, de repente, os dias de Jace se tornaram sem graça, sem vida e sem cor. Para ele, nada era como antes. Algum tempo depois, ele viu seus irmãos e amigos, começarem a formar suas próprias famílias. Primeiro Alec e Magnus, que tiveram os gêmeos, e não muito tempo depois foi a vez de Izzy e Simon com Alana.

Ele tentava ficar feliz por eles, e às vezes até conseguia. Mas logo lembrava de que nunca seria tão feliz como eles, pois a única pessoa com que se imaginou formando uma família não estava e nem poderia estar com ele. Não eram ciúmes, mas a tristeza - e ao mesmo tempo raiva - que se instaurava em seu corpo não deixava espaço para a felicidade. Por mais que ele tentasse, não conseguia se sentir feliz. Não de verdade. 

Até que chegou o dia de hoje.

Deveria ser um dia qualquer, como os que já estava acostumado a viver. Acordar, treinar, talvez ir em uma missão... Mas estas não tinham mais a mesma adrenalina que antes. Costumava vê-las como uma diversão, um passatempo, hoje em dia não passam de um dever.

Estava tudo normal, o mesmo de sempre, então percebeu a pequena mas perceptível movimentação no Instituto. Resolveu ir ver o que era, e foi aqui que se viu na porta do quarto de enfermagem. Alec estava lá, conversando com alguém, e Jace logo percebeu que era uma garotinha, com uma chamativa cabeça ruiva. Não conseguiu ver seu rosto de imediato, mas de certa forma sentia que não era uma criança qualquer. E isso se confirmou quando a escutou dizendo seu nome.

Foi depois dessa revelação que ela o encarou pela primeira vez. Tinha o rosto tão perfeito que poderia ser confundida com o de uma boneca. São poucos que recebem o privilégio de possuir a beleza dos Anjos, e ela com certeza a tinha herdado. E quando ela o olhou no fundo dos olhos, os sentiu penetrando na sua alma, como se estivessem expondo suas maiores frustrações e alegrias. Aquilo que mais o fazia sofrer e aquilo que mais o fazia sorrir. E, para ele, o "aquilo" se resume a apenas uma pessoa, que, ao mesmo tempo, é a razão da sua tristeza e de sua felicidade.

Agora, Jace ainda pensa no que tinha ouvido a pouco. "Não há nada que a impeça de ser sua filha. As datas batem se comparadas a quando Clary foi embora e ela lembra... você". Sua mente parou de funcionar por alguns segundos. Sim, poderia ter desejado, por mínimos instantes, que Harmony fosse sua. Mas ele viu isso apenas como uma brincadeira de mal-gosto de seu subconsciente. Sabia que ela não era, pois imaginou a mulher que ama com sua família perfeita que havia construído, assim como seus irmãos fizeram, e ele com certeza não estava incluído nela.

Mas então... seus irmãos o revelaram isso. Era, sim, uma grande possibilidade de ser verdade, porém Jace não queria ser apegar a isso e mais tarde descobrir que tudo não passa de um mal-entendido, por mais que as chances de ser um sejam quase nulas. "As datas batem [...]". Essas palavras ficaram ecoando em sua mente - e ele se esforçava para não querer pensar muito nisso -, mas não mais que as seguintes. 

"[...] e ela lembra... você". A menina... o lembrava? Suas feições se assemelhavam às dele? Claro, ele não teria percebido isso e sim, Harmony não se parecia muito com Clary mas... com ele? Essa afirmação poderia ter o total sentido, ou essa suposta semelhança fosse apenas uma ilusão da mente de seus irmãos...

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